quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O QUE VOCÊ MAIS QUER DE PRESENTE?

Quando entramos na enfermaria, eu e mais uma voluntária, ainda no posto da enfermagem, uma das moças que estava ali pediu que fôssemos visitar a Dona Marli.
- É que ela está muito deprimida hoje, nos explicou aquela enfermeira.

Ao entrarmos no quarto logo vi que a paciente estava bem encolhida no leito Até a cama e o criado-mudo me pareciam estar encolhidos. O quarto inteiro estava encolhido!

Essa Dona Marli, que normalmente era muito alegre e conversadeira, estava realmente muito triste e calada. Como ela permitiu a nossa visita, ficamos um tempo conversando com ela. Ela chorou conosco.

O tratamento dessa jovem senhora era complexo e demorado, razão pela qual ela veio da sua distante cidade, lá da região norte do Brasil. Com todos os parentes e amigos morando lá, ela não recebia visita alguma.

A não ser a nossa.

E depois de dizer que estava triste de saudades de todos lá do norte, acrescentou:

- Ainda mais que hoje é meu aniversário.

Depois que ela disse isso, conversamos mais um pouco, nos despedimos e eu saí dali já com uma idéia na cabeça.

Fomos até uma das lanchonetes do hospital para comprarmos um pequeno bolo, pegamos na Capela, com a devida autorização da Célia que é a responsável por tudo ali, um vaso de flor, arrumamos uma pequena vela a qual acendemos e, junto com a enfermeira, entramos no quarto da Dona Marli cantando Parabéns a Você.

Quando ela nos viu, deixou de ficar encolhida (assim como a cama, o criado-mudo e até o quarto), abriu um sorriso maravilhoso e chorou, só que dessa vez de alegria.

Já pensou, passar o aniversário internado em um hospital?

Já fizemos muitas outras festas de aniversário lá no Hospital das Clínicas. Um compra o bolo, outro os salgadinhos, outro ainda os refrigerantes e assim fazemos a alegria de alguns, principalmente das crianças que sofrem de um mal crônico.

Para algumas pessoas aniversário é bobagem. Não lembram nem do seu nem o dos outros. Não é bobagem. Aniversário é coisa séria.

Devo a Henry Nouwen (um dos escritores que mais me deleito ao ler) a idéia de que os parabéns que recebemos e damos nos aniversários são gratuitos. Nessas ocasiões não parabenizamos a pessoa por ter conquistado um troféu, ou um diploma. Não. Damos os parabéns por ela simplesmente existir!

A vida nos é dada gratuitamente, é um presente. É de graça. Será que é daí que vem o costume de darmos "presentes de aniversário"?

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10:10)

Deus nos dá vida real e de verdade, cheia de atividade e de vigor, e quando ela é consagrada a Deus, é abençoada, em parte já aqui neste mundo, e depois da ressurreição a ser consumada por novas bênçãos (entre elas, um corpo mais perfeito) que permanecerão para sempre.

Aí sim, lá na eternidade, para aqueles que colocam sua confiança em Cristo, não será mais possível se comemorar o aniversário em um hospital.

Tanto faz como sua vida foi ou como é. O importante é o que você vai fazer com o que resta dela.

sábado, 22 de setembro de 2007

É COMPLEXO NÃO TER COMPLEXO


Tenho na sala do apartamento onde moro um porta-retrato com uma fotografia de quando eu era menino. Ali eu devo ter uns 6 ou 7 anos. Estou na praia lá de Santos, cidade onde nasci, com meus dois irmãos.
Estou sentado no carrinho que usava antes de ter minha primeira cadeira de rodas. Nós 3 estamos sem camisa e só de calção de banho.
Esses detalhes podem parecer dispensáveis, mas o assunto que vamos abordar é mais complexo do que a foto pode revelar, por essa razão é que cada detalhe tem sua importância.
Minha mãe me ensinou a não ter complexo por ser paralítico. Por algumas outras pessoas, amigos e até parentes, eu viveria sem sair de casa, e dependendo da ocasião, por eles, quando recebêssemos visitas, nem do quarto eu deveria sair.
Ela, a minha mãe, sempre me tratou da mesma forma que tratava meus irmãos.
Eu usava shorts, apesar de um parente chegado achar que minhas pernas deveriam ficar cobertas para esconder as seqüelas da poliomielite e também as cicatrizes das cirurgias às quais me submeti.
Quando merecia ser disciplinado eu apanhava, apesar de a minha avó declarar que só os outros dois deveriam ser castigados.
Como meus irmãos, eu ia à praia (tem a foto para você ver), passeava, estudava, tinha responsabilidades e convivia naturalmente com todo mundo. Eu era (e sou) como todas as pessoas, só que com limites de locomoção.
No momento em que "me vi assim", quando me conscientizei da minha realidade, resolvi ser como os outros e superar de algumas formas meus limites. E foi assim que fiz.
Quando Jesus Cristo viu um homem paralítico que desceu do telhado para estar bem na frente d’Ele, disse primeiramente que os seus pecados estavam perdoados. E Jesus o fez assim porque o maior problema daquele homem era espiritual. Problema espiritual é toda e qualquer coisa que nos separa de Deus. Só depois de isso resolvido é que o Senhor tratou do seu problema físico, curando-o.
Me lembro direitinho do dia em que percebi que o meu maior problema era espiritual. Uma limitação que por meios humanos não pode ser superada. Graças a Deus pela cruz. Só Cristo podia fazê-lo por mim. E foi assim que Ele o fez.
Não é maravilhoso? Aquilo que não posso fazer, Deus o faz!
Você é igual aos outros. E você é igual a mim.
Quais são seus limites?
Qual seu maior problema?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

SILÊNCIO, POR FAVOR

Uma das coisas mais difíceis de se reconhecer, penso que para todos os cristãos, é que a maior parte dos pecados que cometemos (senão todos) foram planejados.

Ninguém está andando pela rua e, sem mais nem menos, diz:

- Epa, adulterei sem perceber.

Não, a coisa já começou lá atrás. Com um simples pensamento, um desejo pecaminoso que foi acalentado e deixado por ali, quem sabe para ser repensado mais tarde.

“ … cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” (Tiago 1:14 RA)

Tenho por costume fazer o exercício espiritual do silêncio. Trata-se de ficar no silêncio e em silêncio.

Primeiramente calamos as “vozes exteriores”: rádio, TV, aparelho de som, livros, revistas, outras pessoas, enfim, tudo aquilo que pode vir a distrair a nossa atenção.

Em seguida devemos calar as “vozes interiores”, ou seja, preocupações, tarefas a serem feitas, coisas a serem lembradas, providências, ou quaisquer outros pensamentos que, via de regra, podem ser anotados em um papel para serem vistos mais tarde. Esse silêncio é fundamental para ouvirmos a Deus.

Nesse ponto, é hora de consultar o nosso coração.

“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas 6:45 RA)

O que pensamos quando não nos distraímos?

No silêncio, pensamentos brotam, vêem à tona.

É por isso que eu, como a maior parte das pessoas (ou todos?), tenho medo de ficar sozinho comigo mesmo. Medo de me conhecer! As pessoas orgulhosas não gostam desse silêncio, não querem se conhecer, não querem destruir sua auto-imagem ilusória.

Precisamos querer a cura, a transformação, a santificação.

Já visitei e acompanhei diversos pacientes que, não raras vezes bastante aflitos, ficam internados para fazer exames médicos. Exames como raio x, ressonância magnética, ultrasonografia, e outros, mostram como o corpo da pessoa é e está por dentro.

E na maior parte das vezes esses pacientes ficam muito tempo ociosos ali no hospital, sem distração, e começam a pensar.

Nem sempre aproveitadas, essas ocasiões podem ser ótimas oportunidades de também se examinar a alma e o espírito.

Atente para esses dois trechos bíblicos:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.” (Salmos 139:23-24 RA)

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 João 1:9 RA)

O silêncio é a ponte entre o pedido feito a Deus para que Ele nos sonde e a confissão dos pecados.

O trabalho na Capelania Hospitalar tem sido um excelente laboratório para conhecermos mais da natureza humana.

E de nós mesmos.

POR QUÊ?

O que me levou a fazer esse blog?

" Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia." (Salmos 34:8 RA)

Ao longo desses trinta e tantos anos de vida com Cristo, inúmeras vezes me senti como um homem que está em um deserto quase morrendo de sede e descobre uma inesgotável fonte de água fresquinha e, após beber e satisfazer sua própria necessidade, corre revigorado para dar a novidade para sua família que ficou à sombra de uma duna tentando tirar um pouco de água de um cacto. Ele volta para seus queridos extremamente desejoso de contar a boa nova.
Deus me tem permitido desfrutar de sua graça. Graça é como Deus nos vê apesar de nós mesmos. É meu desejo compartilhar isso com você.
Nesse sentido de provar, perceber, "comer" para sentir o gosto, é que estamos querendo oferecer esse blog. Longe de mim querer provar a Deus no sentido de colocá-Lo em cheque, tentá-Lo. Não quero isso de forma alguma. O que quero é incentivar mais e mais pessoas a vivenciarem mais do que o Senhor pode nos dar.
O próprio Deus nos incentiva a prová-lo, experimentá-lo: