- É que ela está muito deprimida hoje, nos explicou aquela enfermeira.
Ao entrarmos no quarto logo vi que a paciente estava bem encolhida no leito Até a cama e o criado-mudo me pareciam estar encolhidos. O quarto inteiro estava encolhido!
Essa Dona Marli, que normalmente era muito alegre e conversadeira, estava realmente muito triste e calada. Como ela permitiu a nossa visita, ficamos um tempo conversando com ela. Ela chorou conosco.
O tratamento dessa jovem senhora era complexo e demorado, razão pela qual ela veio da sua distante cidade, lá da região norte do Brasil. Com todos os parentes e amigos morando lá, ela não recebia visita alguma.
A não ser a nossa.
E depois de dizer que estava triste de saudades de todos lá do norte, acrescentou:
- Ainda mais que hoje é meu aniversário.
Depois que ela disse isso, conversamos mais um pouco, nos despedimos e eu saí dali já com uma idéia na cabeça.
Fomos até uma das lanchonetes do hospital para comprarmos um pequeno bolo, pegamos na Capela, com a devida autorização da Célia que é a responsável por tudo ali, um vaso de flor, arrumamos uma pequena vela a qual acendemos e, junto com a enfermeira, entramos no quarto da Dona Marli cantando Parabéns a Você.
Quando ela nos viu, deixou de ficar encolhida (assim como a cama, o criado-mudo e até o quarto), abriu um sorriso maravilhoso e chorou, só que dessa vez de alegria.
Já pensou, passar o aniversário internado em um hospital?
Já fizemos muitas outras festas de aniversário lá no Hospital das Clínicas. Um compra o bolo, outro os salgadinhos, outro ainda os refrigerantes e assim fazemos a alegria de alguns, principalmente das crianças que sofrem de um mal crônico.
Para algumas pessoas aniversário é bobagem. Não lembram nem do seu nem o dos outros. Não é bobagem. Aniversário é coisa séria.
Devo a Henry Nouwen (um dos escritores que mais me deleito ao ler) a idéia de que os parabéns que recebemos e damos nos aniversários são gratuitos. Nessas ocasiões não parabenizamos a pessoa por ter conquistado um troféu, ou um diploma. Não. Damos os parabéns por ela simplesmente existir!
A vida nos é dada gratuitamente, é um presente. É de graça. Será que é daí que vem o costume de darmos "presentes de aniversário"?
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10:10)
Deus nos dá vida real e de verdade, cheia de atividade e de vigor, e quando ela é consagrada a Deus, é abençoada, em parte já aqui neste mundo, e depois da ressurreição a ser consumada por novas bênçãos (entre elas, um corpo mais perfeito) que permanecerão para sempre.
Aí sim, lá na eternidade, para aqueles que colocam sua confiança em Cristo, não será mais possível se comemorar o aniversário em um hospital.
Tanto faz como sua vida foi ou como é. O importante é o que você vai fazer com o que resta dela.
Meu caro Pastor Chico Motta,
ResponderExcluirEu tenho experimentado conviver com pessoas em tratamento na AEBDR. É evidente que o "clima" da casa não é, nem de perto, o do HC da Unicamp.
Mas, mesmo assim, fico pensando nas crianças e nos jovens com quem convivo, como voluntário.
Uma menina, a quem ensinava Sudoku, faleceu antes da segunda aula. Fiquei desolado, pois era minha primeira experiência como voluntário.
Imagino quantas experiências, entre boas, más e muito más, você passa em seu Ministério.
Realmente, a vida é curta e deveríamos nos alegrar em vivê-la!
Obrigado pelos seus textos, de onde tenho tirado lições de vida.
Carissimo Chico, seu textos sao sempre uma lição para cada leitor!
ResponderExcluirgostei muito da frase final!
o que importa é o que faremos com o resto de nossas vidas, mesmo que ja tenhamos jogado "dominos em tabulerios de amendoins"!
continue a escrever, pois seus textos sao de uma extrema "simplicidade requintada!", que cativa!
Juliana Oliveira