quarta-feira, 11 de junho de 2008

VANTAGEM ADICIONAL

Minha cadeira de rodas motorizada tem sido de grande ajuda, muitas vezes em ocasiões inesperadas, como esta que vou contar agora. Já faz algum tempo, tive o privilégio de poder ajudar uma pessoa que havia sofrido uma profunda decepção. Acredito que minha cadeira de rodas motorizada desempenhou um papel importante no caso, pois se eu estivesse acompanhado por um dos meus indispensáveis ajudantes, aquela conversa provavelmente não teria acontecido.
Eu havia acabado de almoçar sozinho (descobri como é chato almoçar sozinho!) e estava voltando para o escritório da Capelania do HC quando uma moça se aproximou perguntando se podia subir comigo. Eu já havia visto aquela moça outras vezes, na Capela do Hospital, pois ela costumava freqüentar os cultos e estudos bíblicos que acontecem ali. Enquanto seguíamos pelos corredores, desenrolou-se uma sessão de aconselhamento informal que só foi possível porque não havia mais ninguém por perto. Éramos apenas nós dois conversando. Ela introduziu o assunto com uma pergunta:
— Pastor, qual a atitude que devo tomar em relação a uma pessoa que espalhou mentiras a meu respeito? Soube através de uma amiga que essa pessoa disse algumas coisas sobre mim que não são verdadeiras, tanto que minha amiga não acreditou.
— Essa história me faz lembrar de um filósofo (infelizmente não lembro o nome) que enfrentou uma situação semelhante —, comentei, — Quando lhe perguntaram como ele iria se defender da calúnia que havia sofrido, ele respondeu: Minha vida e meu proceder são a minha melhor defesa.
— Então eu não devo fazer nada? — Ela retrucou.
Enquanto entrávamos no elevador, perguntei a ela:
— Como você definiria a palavra perdão sem usar a palavra desculpar?
Ela ficou pensando durante alguns segundos, enquanto o elevador nos levava para outro andar. Lá chegando, começamos a andar novamente pelos corredores, quando ela finalmente respondeu:
— Não sei bem como explicar, mas perdoar diz respeito a “acolher”.
Lembrei-me então de um episódio ocorrido tempos atrás, e contei a ela:
— Certa vez um amigo meu quebrou uma louça que pertencia à minha mãe. Aquela não era uma louça qualquer; ela havia pertencido à minha bisavó. Meu amigo naturalmente quis pagar pelo estrago que havia causado, mas minha mãe lhe disse que não havia como calcular o preço daquela louça, pois seu valor era inestimável. Disse também para ele não se preocupar, pois ela arcaria com o prejuízo. Em seguida, ela o perdoou. Perdoar é exatamente isso, é arcar com o prejuízo. Se alguém disse algo que “prejudicou a sua imagem”, arque com o prejuízo. Perdoe.
— Mas a Bíblia não diz que devemos amar o próximo? Eu não consigo gostar dessa pessoa que me difamou — ela retrucou.
— Amar não é a mesma coisa que gostar. A ordem que o Senhor Jesus nos deixou é amar os nossos inimigos. Dificilmente alguém consegue gostar do seu inimigo. Amar, nesse contexto, pouco ou nada tem a ver com sentimentos. Amar é muito mais uma questão de atitude —, respondi a ela.
Nossa conversa terminou nesse ponto, pois dali em diante nossos caminhos se separavam. Paramos para nos despedir, e ela então me disse:
— Pastor, foi Deus quem colocou o senhor no meu caminho.
E acredito mesmo que foi!
Quando nos separamos, ambos estávamos felizes, ela por ter suas dúvidas respondidas, e eu, pelas novas oportunidades que aquela cadeira de rodas estava me proporcionando de falar de Deus às pessoas.

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