quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NECESSIDADES, QUEM NÃO AS TEM?

Há uns tempos atrás, um grupo de pessoas da minha Igreja teve vontade de começar um trabalho de, com uma certa periodicidade, fazer e distribuir sopa para moradores de rua. Já haviam até conseguido legumes de graça de um grande comerciante. Até que um irmão "colocou água fria na fervura", dizendo que todos que moram na rua vivem assim porque querem. Foi uma generalização sem fundamento que contribuiu para desmotivar aquelas pessoas a ponto de abortarem o projeto!

Por outro lado, atente para esse episódio real. Um padre, ao tomar conhecimento de que um alcólatra mendigo abandonou a instituição de acolhimento a moradores de rua, dirigida por aquele religioso, foi atrás do pedinte. Encontrou-o dormindo numa calçada. Quando passou a bebedeira e o homem acordou, encontrou o padre dormindo ao seu lado no chão. Foi o suficiente para fazer o mendigo voltar para o abrigo.

De acordo com a Bíblia, devemos amar independente da resposta de quem é amado. O amado pode até rejeitar o amor.

“Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.” (Lucas 6:35)

Minha avó já dizia que nós devemos "fazer o bem sem olhar a quem".

Por motivos compreensíveis, todas as pessoas muito rejeitadas duvidam do amor oferecido. Por exemplo, alguns filhos adotivos podem ter diversas atitudes e ações indesejadas querendo ver se "é agora que eles me mandam de volta para o orfanato". Quando se convencem do amor incondicional e permanente dos pais que os escolheram, o comportamento muda.

Muitas vezes as pessoas não conseguem ter certeza do amor que lhe dedicamos por estarmos amando errado.

" Não basta fazer o bem, importa saber se o bem que eu faço é o bem que eu sou chamado a fazer. Se o bem que eu faço é o bem que Deus quer que eu faça. Não basta ser bom, é preciso saber ser bom, ter uma caridade discernida." (pe. Contiéri, SJ)

Quando fazemos o bem, ou melhor ainda, quando amamos, devemos fazê-lo para satisfazer as necessidades dos outros, não as nossas. Já me pediram para levar uma senhora a ser voluntária lá no HC pois a mesma tinha depresão e precisava se ocupar. Eu disse não.

Muitas vezes vejo pessoas querendo ajudar os outros sem se envolverem para saber qual e quanto a pessoa precisa ser ajudada. Com isso corre-se o risco de se oferecer sopa para quem precisa de um abraço, ou conselhos para alguém que só quer desabafar, ou ainda um beijo para quem precisa de remédios.

Veja os destaques que fiz nos seguintes versículos:

"Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade". (Atos 2:45)

"E depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade". (Atos 4:35)

Mãos à obra, gente.

PENSE NISSO 16


Se tivermos 10 trufas para dividir por 10 pessoas, sendo que 2 dessas pessoas ficam com 6 trufas, quantos desses doces vão poder ser dados às 8 pessoas restantes?

sábado, 23 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

PENSE NISSO 15


Há uma coisa pior do que a morte: é não ter pelo que morrer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

COMEMORANDO A PÁSCOA COM UMA ESPERANÇA QUE NÃO MORRE

José de Arimatéia tomou a iniciativa, junto com mais algumas pessoas, de tirar o corpo de Jesus Cristo da cruz. Dura tarefa não é mesmo? Obtida a autorização, lá foram eles.
A Bíblia nos diz que José de Arimatéia esperava o reino de Deus. Era uma esperança espiritual, não uma esperança relacionada com assuntos terrenos! O que será que passava por sua cabeça, que emoções sentiu ao realizar tão triste projeto?
Imagino que eles devem ter tirado a cruz de dentro do buraco que servia de base, e uma vez que ela estava no chão, começaram o trabalho de soltar Jesus, das cordas, dos cravos, e livrá-lo da coroa de espinhos. Pegaram o corpo e o envolveram em um linho limpo, já com as especiarias que se costumava aplicar nos cadáveres, colocaram na gruta que Lhe serviria de túmulo e rolaram a grande pedra para fechá-lo.
O que será que aconteceu com a esperança de José de Arimatéia quando a pedra fechou o sepulcro de Jesus?
Existem situações na vida da gente em que as circunstâncias nos convencem totalmente de que determinadas esperanças são impossíveis. Eu me deparo com momentos assim quase que todo dia lá no HC-UNICAMP. Parte do meu trabalho é pegar uma "ampola" e injetar a "dose" necessária de "ESPERANÇA" direto no coração da pessoa que padece de alguma dor ou mal. E funciona, sabia!?
Já vi Deus usar a medicina para fazer milagres tais como pessoas voltarem a andar, a não sentir dor, a se alegrar e também alguns casos de pacientes desenganados pelos médicos, dormirem e acordarem para abrir os olhos e verem, não seus parentes, mas o próprio Senhor, pois antes de falecerem foram contemplados com o milagre da Salvação em Jesus!!!!
As circunstâncias podem dizer que é impossível, mas o nosso Deus é o Deus do impossível. Em Jesus a esperança nunca morre.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

PENSE NISSO 14


A primeira pessoa em quem você pensou ao acordar hoje, foi Deus?

COMEMORANDO A PÁSCOA COM ESPERANÇA

“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.” (Colossenses 3:1-4)

Considerando o que Paulo nos exorta a fazer no trecho acima, fiz um exercício que me foi muito estimulante, ou seja, recordar o que sei sobre como seremos e onde estaremos depois de mortos. Não fiz uma pesquisa, simplesmente fui anotando o que ia lembrando.

Me acompanhe nessa reflexão.

A primeira coisa que me veio à mente foi a certeza de que veremos a Deus (já pensou?!!); depois me lembrei de que não pecaremos mais, não morreremos mais, não haverá mais doença, teremos gozo completo e permanente, atravessaremos paredes, nos reconheceremos, comeremos, o próprio Senhor enxugará nossas lágrimas, Ele mesmo nos dará a Coroa da Justiça, teremos uma morada em uma cidade, a Nova Jerusalém, cidade essa que será de ouro puro, semelhante a vidro límpido. cuja estrutura da muralha será de jaspe,e as doze portas serão doze pérolas, e cada uma dessas portas, de uma só pérola. A praça dessa cidade será de ouro puro, como vidro transparente. Não sentiremos nem frio nem calor em excesso.

Isso tudo e o mais que não me lembrei nos foram descritos em uma linguagem antropomórfica para que pudéssemos entender. Mas há mais, muitíssimo mais, que nós não podemos nem imaginar!

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1 Coríntios 2:9)

E assim mesmo nós nos apegamos às coisas aqui da Terra!

Uma última observação: nunca vi ninguém, nem mesmo eu, usar essa descrição na evangelização.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

COMEMORANDO A PÁSCOA COM O PENSAMENTO NA RESSURREIÇÃO

Os médicos já tinham dito para a esposa que não havia mais nada a fazer por ele a não ser os cuidados paliativos. Tanto ele quanto a esposa eram cristãos evagélicos. Ele tinha câncer.

Deitado no seu leito do hospital, aquele homem com 56 aos, estava tendo uma grave crise; ao seu lado a equipe de médicos e enfermagem fazia o que podia para lhe aliviar o sofrimento, enquanto que aos pés da cama sua mulher e eu esperávamos impotentes. Gritando, ele virou para a esposa e disse:

- Querida, não me deixa morrer, faz alguma coisa, eu não quero ir.

A mulher, chorando, respondeu:

- Calma, meu bem, fica calmo.

Ele não estava nervoso. Estava desesperado.

Olhando para mim ele disse:

- Pastor ...

E morreu.

Já ouvi diversas pessoas afirmarem que os evangélicos encaram a morte com mais tranqüilidade. Mas não é bem assim. Já vi ali no hospital muitos cristãos, tanto os que se vão quanto os enlutados, entrarem em desespero na hora final.

Não gostamos da morte, nem de falar dela. Se não gostamos de tocar nesse assunto, é porque não pensamos nisso.

E se não pensamos na morte é porque não pensamos na ressurreição. Nem no que vem depois dela, ou seja, a vida eterna na presença de Deus. Não sei porque, mas nos apegamos demais a essa vida terrena.

Paulo pensava diferente:

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.” (Romanos 8:18)

Em algum momento da sua existência, Jesus Cristo optou por passar pela morte física. Os motivos para Ele ter tomado essa decisão são vários, e um deles é porque Ele sabia que não existe Glória sem dor.

“Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles.” (Hebreus 2:10)

Não haveria o Domingo de Páscoa se não tivesse havido a Sexta-feira da Paixão.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

PENSE NISSO 13


Muitas vezes ficamos chateados porque Deus não faz o que pedimos. Mas, e quanto às coisas que Ele nos manda fazer e não o fazemos?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

BUQUÊ

Muitas vezes as palavras e atos dos cristãos se revestem de tal beleza que mais parecem flores brotando em um jardim.
Certa ocasião, há um bom tempo passado, eu estava em um quarto de uma das enfermarias do HC, mas a impressão que tive é que estava em um jardim. Naquele quarto havia duas senhoras internadas, a Lu, que já é avó, e a Jô, um pouco mais jovem, cada uma em seu leito. Ambas com câncer. Saulo, um rapaz que era um dos voluntários da nossa equipe, estava me acompanhando nas visitas aquele dia.
A Jô estava passando por uma situação bem difícil: a expectativa de ter que tomar um antibiótico cujas reações são demoradas, intensas e terríveis.
A conversa girava em torno de vários assuntos, desde a sensação da água do chuveiro caindo sobre a cabeça careca, experiência vivida por três das pessoas ali presentes (duas delas por causa da quimioterapia e o Saulo por tendência natural), até a saudade que sentiam da família.
Quando a médica entrou no quarto e informou que a Jô precisava realmente tomar o remédio, nós quatro ficamos abalados com a notícia. Enquanto ela chorava (eu a incentivei a fazer isso), nós permanecemos calados ao lado dela, e o Saulo simplesmente colocou a mão em seu ombro.
Depois de algum tempo em silêncio, ela começou a falar. Seu testemunho demonstrou tal confiança em Deus, que foi uma das coisas mais bonitas que já presenciei. Note que fé tem muito mais a ver com confiança do que com certeza. Em seguida, sua companheira de quarto, a Lu, a incentivava a permanecer firme, pois entendia exatamente o que a outra estava passando.
Passamos um bom tempo ali juntos, falando de Deus, e por fim oramos. Aqueles foram momentos extremamente preciosos!
Quando o Saulo e eu saímos do quarto, tivemos a impressão de que o ar do corredor não tinha o mesmo frescor e o perfume que havia no quarto.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, observamos um fato interessante. Saulo freqüentava na época uma igreja presbiteriana, eu sou membro de uma igreja batista, a Jô é católica e a Lu pertence à Assembléia de Deus – e isso não fez a menor diferença! Percebemos claramente que essas divisões denominacionais não têm nenhum sentido dentro do hospital.
Mais tarde, conversando com a Denise minha mulher, ela fez o seguinte comentário: "E em que lugar as diferenças denominacionais fazem sentido?" Ela está certa. Essas diferenças não fazem sentido em lugar algum.
O que aprendemos através dessa experiência é que o verdadeiro cristianismo, na maior parte das vezes, só floresce em meio ao sofrimento.
Você concorda com isso?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

PENSE NISSO 12


Uma das principais chaves para o sucesso do casamento é a CONCESSÃO. Uma pessoa disposta a fazer concessões tem mais chances de ser feliz

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O BOM EX-LADRÃO

Certo dia, uma médica procurou-me lá no hospital com um pedido. Ela queria que alguém da Capelania fosse fazer uma visita a um paciente que se mostrava bastante nervoso e irritado, dificultando o trabalho dos médicos e enfermeiros. Prontifiquei-me a ir até o quarto do paciente para ver o que estava acontecendo. Quando me aproximei do quarto, notei que haviam dois policiais na porta. Depois de me apresentar como pastor e do serviço de capelania do hospital, eles permitiram que eu entrasse no quarto. Assim que entrei vi que o paciente estava algemado ao leito; seu aspecto e suas atitudes revelavam uma enorme agressividade, que transparecia principalmente no seu olhar.
Depois que nos apresentamos, ele falou:
— Pastor, eu sou ladrão, fui preso por ter roubado. Consegui fugir da cadeia e fui comemorar com alguns amigos em um bar, mas bebi demais e acabei me envolvendo numa briga. Voltei para a prisão, mas como eu havia levado uma facada na barriga durante a briga, vim parar aqui. O senhor tem alguma coisa para me dizer?
— Gostaria de lhe contar a história de um Homem —, respondi.
— Esse Homem foi maltratado, torturado e ainda teve que carregar a própria cruz até o monte onde seria crucificado. Chegando lá, os guardas o despiram, colocaram-no sobre a viga de madeira e o pregaram na cruz. Prego por prego. Primeiro numa mão, depois na outra. Em seguida nos dois pés, sobrepostos. A seguir, a cruz foi erguida do chão, provavelmente com o auxílio de cordas, provocando dores terríveis naquele homem. Dois ladrões foram crucificados com Ele, um de cada lado. No início, eles blasfemaram e debocharam dessa pessoa a quem estou me referindo, assim como todas as pessoas presentes àquela execução. Mas pouco depois, um dos ladrões percebeu que aquele homem que estava sendo crucificado ao lado deles era inocente; aquele homem estava morrendo pelos pecados que eles haviam cometido, pelos pecados de toda a humanidade.
Como você já percebeu, continuei, aquele homem era Jesus. Jesus morreu por aqueles ladrões. Ele morreu por mim, por você e por todos nós. Naquele momento tenebroso, vendo o sofrimento de Jesus, um dos ladrões se arrependeu de seus pecados e aceitou Jesus. Os dois ladrões morreram, mas um deles morreu não só fisicamente, mas também espiritualmente. O outro foi para o céu, se converteu, foi morar com Jesus naquele mesmo dia.
Quando acabei de contar a história dos dois ladrões presos em suas cruzes, o ladrão que estava preso ao leito do HC-UNICAMP, olhou para mim e disse:
— Eu quero ser como o ladrão que se converteu. O que devo fazer?
Naquele dia, tive o privilégio de participar do nascimento de um novo irmão na fé.
Durante aproximadamente dois meses nós estudamos a Bíblia juntos quase todos os dias. Os policiais já nem exigiam que eu me identificasse para entrar no quarto, e chegaram até a soltar as algemas do prisioneiro enquanto estudávamos a Bíblia.
Até que certo dia, a mesma médica que havia me pedido para conversar com aquele paciente, procurou-me novamente.
— Pastor, — ela me perguntou — o que o senhor fez com aquele rapaz?
— Por quê? — retruquei.
— Porque o rapaz que hoje está naquele quarto não é o mesmo paciente rebelde e problemático que foi internado! Esse que está lá é educado, gentil, atencioso... Parece outra pessoa!
— Ele é realmente uma outra pessoa! Agora ele é uma nova criatura.
Tentei então explicar a ela o que havia acontecido com aquele ex-ladrão. Mas ela não quis me ouvir ...
Alguns dias depois, uma enfermeira veio me contar que o meu "aluno de Bíblia" (em suas palavras) andava fazendo umas perguntas um tanto quanto suspeitas. Por exemplo, ele havia perguntado a ela o que poderia acontecer se ele deixasse o hospital com a barriga daquele jeito. Ao ouvir isso, achei melhor ir conversar com ele para saber que história era aquela. Ele então me contou que o médico havia dito que em breve ele teria alta do hospital. E quando isso acontecesse, ele teria que voltar para a prisão. Numa de nossas conversas, ele havia me falado do inferno que é uma prisão, e a simples perspectiva de voltar para lá o apavorava. Ele estava pensando em fugir.
Diante disso, só pude lhe dizer:
— Meu irmão, Deus está levando-o de volta para a prisão para que você testemunhe aos presos o que Ele tem feito em sua vida.
Três dias depois soube que ele havia tido alta e voltado para o seu campo missionário, ou seja, a prisão.
Nunca mais tive notícias dele. Quando nos despedimos, combinamos um próximo encontro. Quando? Só Deus sabe. Onde? Debaixo da Árvore da Vida, lá na Nova Jerusalém Celestial. Se você quiser aparecer por lá, será bem-vindo.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

UMA MÃE, UM FILHO E DEUS

A esperança de que aquele paciente portador do vírus da AIDS se recuperasse era bem pequena. Geralmente, os pacientes que se encontram nesse estágio da doença apresentam grandes variações em seu estado de saúde. Estão bem num dia, e no dia seguinte a situação se agrava; logo em seguida eles melhoram novamente para depois apresentarem outra piora. O problema é que a cada piora, a situação do paciente se agrava e fica cada vez mais difícil a recuperação. Essa era a situação de José. Ele estava enfrentando uma de suas piores crises. Mais tarde, como veremos, ele conseguiu se recuperar, mas naquele momento a situação era gravíssima.
Assim que fiquei sabendo do agravamento da doença de José, fui até o quarto para conversar com ele e com sua mãe, Dona Maria, que sempre estava ao lado dele. Minha intenção era prepará-los para o que viria depois da crise, e isso tanto poderia ser morte como recuperação.
Procurei trazer a mãe do paciente para um lugar mais sossegado para podermos conversar, e lá perguntei se ela estava precisando de alguma orientação. Imediatamente ela respondeu:
— Não quero saber dessa conversa sobre Deus. Fiz um acordo com Ele: se Ele não curar meu filho, não quero mais saber de Deus. Se Ele não pode me dar o que mais quero, para que eu preciso de Deus?
Se alguém perde um dos pais, é chamado de órfão; se perde o cônjuge, é chamado de viúvo ou viúva. Mas não existe palavra para designar alguém que perde um filho ou uma filha.
Embora reconhecendo o fato de que aquela mãe estava na iminência de sofrer a que talvez seja a pior dor emocional que uma pessoa é capaz de suportar, procurei argumentar que a imagem que ela tinha de Deus era bastante deturpada. Tentei mostrar a ela que sua concepção de Deus estava longe de ser real, isto é, ela queria um deus de acordo com sua conveniência, um deus que fosse uma mistura de Papai Noel e Gênio da Lâmpada, pronto para satisfazer os seus desejos. Ao ouvir isso, ela reagiu com palavras duras, dizendo:
— Eu o proíbo de falar sobre Deus comigo ou com meu filho. Será um prazer continuar recebendo suas visitas, mas não para falar de Deus. Se você insistir, vou pedir à direção do hospital para impedir suas visitas.
Não obedeci ao seu pedido, ou melhor, obedeci em parte. José se recuperou admiravelmente. Não toquei mais no assunto com Dona Maria, mas todas as vezes que eu ficava a sós com seu filho, procurava lhe falar de Deus e do seu maravilhoso plano de amor. A reação dele era de ceticismo. Até que certo dia um missionário americano foi até o Hospital das Clínicas para conhecer o nosso trabalho, e algo incrível aconteceu... mas antes considere esse versículo:
Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4.2).
Esse missionário norte-americano estava no Brasil para participar de uma conferência missionária, e demonstrou interesse em conhecer nosso trabalho no Hospital das Clínicas. Enquanto caminhávamos pelos corredores do hospital, lembrei-me que José, o paciente com AIDS era professor de inglês. Fomos imediatamente ao seu quarto, e ali chegando, expliquei ao missionário que poderia falar com ele em inglês. Os dois conversaram animadamente por longo tempo, observados por Dona Maria, que apesar de não entender uma palavra do que falavam, estava feliz e orgulhosa por ver o filho conversando com um americano. O que ela não sabia é que o americano estava falando de Jesus para ele. No fim da conversa, o missionário fez menção de orar, mas tive que impedi-lo, senão a Dona Maria não iria gostar. Depois que saímos do quarto, expliquei o que estava acontecendo e ele entendeu por que eu havia agido daquela forma.
Não sei dizer se José se converteu. O missionário acredita que sim, conforme me confidenciou mais tarde. Mas, uma coisa é certa: José teve a oportunidade de ouvir a mensagem do Evangelho de forma clara e objetiva. Essa é a nossa tarefa. O resto é com o Senhor.
Mas, a história ainda não terminou.
Depois de algum tempo, José apresentou uma boa melhora e recebeu alta do hospital. Não tive mais notícias dele até que certo dia, casualmente, soube através de um outro paciente que José havia falecido.
Tentei entrar em contato com a mãe dele, mas só consegui falar com ela seis meses depois da morte do filho. Ela ainda estava muito abalada com a sua grande perda, o que é compreensível, pois havia vivido os últimos anos em função do José. Dona Maria estava cumprindo o terrível "acordo" que havia feito com Deus: como Ele não havia curado seu filho, ela não queria mais nada com Deus.
Lembro-me de algumas coisas que ela disse quando nos encontramos:
"Não perdôo Deus pelo que Ele fez".
"Prefiro acreditar que Deus não existe a pensar que Ele fez isso comigo".
"Se Ele quiser me mandar para o inferno, pode mandar; sei bem o que é inferno, pois já vivo nele aqui mesmo".
Quanta amargura havia no coração daquela mãe! Quanta falta de sabedoria! Dona Maria tinha transformado o filho no seu "deus". Para ela, ele só tinha qualidades. Ela chegou a afirmar que o filho havia contraído a doença porque amava muito as pessoas. Pelo que conheci da vida do José, pude perceber que essa era uma forma equivocada de disfarçar seu estilo de vida promíscuo. Mas a mãe só conseguia enxergar o que queria ver!!
Com a morte do filho, uma parte dela também morreu. Mais do que isso: para ela, Deus também havia morrido.
Que diferença das palavras proferidas por Jó em meio ao sofrimento:
"Porque eu sei que o meu Redentor vive" (Jó 19.25).
Às vezes, chego a pensar que Deus evangelizou o filho de Dona Maria bem na sua frente, mas através de uma língua desconhecida para aquela empedernida mulher porque ela já tinha tido a oportunidade de ouvir o Evangelho, mas o rejeitou.
Preste atenção ao que a Bíblia diz: [...] o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os seus ouvidos e fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados (Mateus 13.15).
Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados (João 12.40).
E você, o que pensa sobre isso?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O NINO É FELIZ

Eu já me referi ao Nino em um texto anterior. É o meu amiguinho com quem fui passar o Natal.

Esse menino tem uma distrofia muscular progressiva e depende do respirador mecânico. Ele tem 6 anos; ainda outro dia fizemos, ali no hospital mesmo, sua festa de aniversário. Desses 6 anos ele só passou alguns meses em sua casa. A chance de o Nino ter alta é mínima. Seu universo é, e provavelmente sempre será, um quarto de hospital.

Algumas pessoas acham que ele não é feliz. Pois eu garanto que é.

É quase certo que o Nino nunca vai paquerar, namorar, casar, ter filhos, correr, jogar futebol, comprar um carro de verdade (ele gosta muito de carros), ir a um Shopping e muitas outras coisas. Mas ele é feliz!

Ser feliz não é realizar sonhos. Para uns, ser feliz é comer comida francesa em Paris. Como não sonho com isso, sou feliz.

O próprio Senhor Jesus afirmou que a felicidade está inexoravelmente ligada à humildade de espírito, ao choro, a abrir mão de nossos direitos, a sentir necessidade de justiça, a ter misericórdia, à pureza de mente, a sermos promotores da paz entre Deus e os homens, à perseguição, e a sermos injuriados e caluniados.

A felicidade como a entendemos, é diferente do que é preconizado por Deus. Podemos ser infelizes em um apartamento luxuoso de uma cidade famosa ou em uma casinha simples numa praia paradisíaca.

Veja bem: Jesus Cristo não nos deixou a felicidade, mas sim a PAZ.

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14:27)

A paz que o mundo dá também foi referida por Jesus: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34)

A verdadeira felicidade é ter PAZ. Com Deus, com os outros e comigo mesmo.

O Nino tem amor, carinho, prazeres, um monte de carrinhos de brinquedo, alegria, e conforto.

Tem também seus dissabores é claro. Por exemplo, a vó dele, a Dona Dulce, que é quem dispensa todos os cuidados que ele precisa (e para isso ela mora no Hospital) teve que, um dia, ir para casa para lavar roupa. Enquanto ela não chegava, uma técnica em enfermagem viu o Nino com as mãos postas em atitude de prece, orando: "Papai do céu, faça que a vó venha logo".

Ele é muito feliz! E você?