sábado, 9 de fevereiro de 2008

BUQUÊ

Muitas vezes as palavras e atos dos cristãos se revestem de tal beleza que mais parecem flores brotando em um jardim.
Certa ocasião, há um bom tempo passado, eu estava em um quarto de uma das enfermarias do HC, mas a impressão que tive é que estava em um jardim. Naquele quarto havia duas senhoras internadas, a Lu, que já é avó, e a Jô, um pouco mais jovem, cada uma em seu leito. Ambas com câncer. Saulo, um rapaz que era um dos voluntários da nossa equipe, estava me acompanhando nas visitas aquele dia.
A Jô estava passando por uma situação bem difícil: a expectativa de ter que tomar um antibiótico cujas reações são demoradas, intensas e terríveis.
A conversa girava em torno de vários assuntos, desde a sensação da água do chuveiro caindo sobre a cabeça careca, experiência vivida por três das pessoas ali presentes (duas delas por causa da quimioterapia e o Saulo por tendência natural), até a saudade que sentiam da família.
Quando a médica entrou no quarto e informou que a Jô precisava realmente tomar o remédio, nós quatro ficamos abalados com a notícia. Enquanto ela chorava (eu a incentivei a fazer isso), nós permanecemos calados ao lado dela, e o Saulo simplesmente colocou a mão em seu ombro.
Depois de algum tempo em silêncio, ela começou a falar. Seu testemunho demonstrou tal confiança em Deus, que foi uma das coisas mais bonitas que já presenciei. Note que fé tem muito mais a ver com confiança do que com certeza. Em seguida, sua companheira de quarto, a Lu, a incentivava a permanecer firme, pois entendia exatamente o que a outra estava passando.
Passamos um bom tempo ali juntos, falando de Deus, e por fim oramos. Aqueles foram momentos extremamente preciosos!
Quando o Saulo e eu saímos do quarto, tivemos a impressão de que o ar do corredor não tinha o mesmo frescor e o perfume que havia no quarto.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, observamos um fato interessante. Saulo freqüentava na época uma igreja presbiteriana, eu sou membro de uma igreja batista, a Jô é católica e a Lu pertence à Assembléia de Deus – e isso não fez a menor diferença! Percebemos claramente que essas divisões denominacionais não têm nenhum sentido dentro do hospital.
Mais tarde, conversando com a Denise minha mulher, ela fez o seguinte comentário: "E em que lugar as diferenças denominacionais fazem sentido?" Ela está certa. Essas diferenças não fazem sentido em lugar algum.
O que aprendemos através dessa experiência é que o verdadeiro cristianismo, na maior parte das vezes, só floresce em meio ao sofrimento.
Você concorda com isso?

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