Certo dia, uma médica procurou-me lá no hospital com um pedido. Ela queria que alguém da Capelania fosse fazer uma visita a um paciente que se mostrava bastante nervoso e irritado, dificultando o trabalho dos médicos e enfermeiros. Prontifiquei-me a ir até o quarto do paciente para ver o que estava acontecendo. Quando me aproximei do quarto, notei que haviam dois policiais na porta. Depois de me apresentar como pastor e do serviço de capelania do hospital, eles permitiram que eu entrasse no quarto. Assim que entrei vi que o paciente estava algemado ao leito; seu aspecto e suas atitudes revelavam uma enorme agressividade, que transparecia principalmente no seu olhar.
Depois que nos apresentamos, ele falou:
— Pastor, eu sou ladrão, fui preso por ter roubado. Consegui fugir da cadeia e fui comemorar com alguns amigos em um bar, mas bebi demais e acabei me envolvendo numa briga. Voltei para a prisão, mas como eu havia levado uma facada na barriga durante a briga, vim parar aqui. O senhor tem alguma coisa para me dizer?
— Gostaria de lhe contar a história de um Homem —, respondi.
— Esse Homem foi maltratado, torturado e ainda teve que carregar a própria cruz até o monte onde seria crucificado. Chegando lá, os guardas o despiram, colocaram-no sobre a viga de madeira e o pregaram na cruz. Prego por prego. Primeiro numa mão, depois na outra. Em seguida nos dois pés, sobrepostos. A seguir, a cruz foi erguida do chão, provavelmente com o auxílio de cordas, provocando dores terríveis naquele homem. Dois ladrões foram crucificados com Ele, um de cada lado. No início, eles blasfemaram e debocharam dessa pessoa a quem estou me referindo, assim como todas as pessoas presentes àquela execução. Mas pouco depois, um dos ladrões percebeu que aquele homem que estava sendo crucificado ao lado deles era inocente; aquele homem estava morrendo pelos pecados que eles haviam cometido, pelos pecados de toda a humanidade.
Como você já percebeu, continuei, aquele homem era Jesus. Jesus morreu por aqueles ladrões. Ele morreu por mim, por você e por todos nós. Naquele momento tenebroso, vendo o sofrimento de Jesus, um dos ladrões se arrependeu de seus pecados e aceitou Jesus. Os dois ladrões morreram, mas um deles morreu não só fisicamente, mas também espiritualmente. O outro foi para o céu, se converteu, foi morar com Jesus naquele mesmo dia.
Quando acabei de contar a história dos dois ladrões presos em suas cruzes, o ladrão que estava preso ao leito do HC-UNICAMP, olhou para mim e disse:
— Eu quero ser como o ladrão que se converteu. O que devo fazer?
Naquele dia, tive o privilégio de participar do nascimento de um novo irmão na fé.
Durante aproximadamente dois meses nós estudamos a Bíblia juntos quase todos os dias. Os policiais já nem exigiam que eu me identificasse para entrar no quarto, e chegaram até a soltar as algemas do prisioneiro enquanto estudávamos a Bíblia.
Até que certo dia, a mesma médica que havia me pedido para conversar com aquele paciente, procurou-me novamente.
— Pastor, — ela me perguntou — o que o senhor fez com aquele rapaz?
— Por quê? — retruquei.
— Porque o rapaz que hoje está naquele quarto não é o mesmo paciente rebelde e problemático que foi internado! Esse que está lá é educado, gentil, atencioso... Parece outra pessoa!
— Ele é realmente uma outra pessoa! Agora ele é uma nova criatura.
Tentei então explicar a ela o que havia acontecido com aquele ex-ladrão. Mas ela não quis me ouvir ...
Alguns dias depois, uma enfermeira veio me contar que o meu "aluno de Bíblia" (em suas palavras) andava fazendo umas perguntas um tanto quanto suspeitas. Por exemplo, ele havia perguntado a ela o que poderia acontecer se ele deixasse o hospital com a barriga daquele jeito. Ao ouvir isso, achei melhor ir conversar com ele para saber que história era aquela. Ele então me contou que o médico havia dito que em breve ele teria alta do hospital. E quando isso acontecesse, ele teria que voltar para a prisão. Numa de nossas conversas, ele havia me falado do inferno que é uma prisão, e a simples perspectiva de voltar para lá o apavorava. Ele estava pensando em fugir.
Diante disso, só pude lhe dizer:
— Meu irmão, Deus está levando-o de volta para a prisão para que você testemunhe aos presos o que Ele tem feito em sua vida.
Três dias depois soube que ele havia tido alta e voltado para o seu campo missionário, ou seja, a prisão.
Nunca mais tive notícias dele. Quando nos despedimos, combinamos um próximo encontro. Quando? Só Deus sabe. Onde? Debaixo da Árvore da Vida, lá na Nova Jerusalém Celestial. Se você quiser aparecer por lá, será bem-vindo.
Caro Chico Motta,
ResponderExcluirSe cada um de nós, convertidos, recuperássemos ao menos uma alma em nossas vidas, o resultado para o Reino de Deus seria bem melhor do que deve ser hoje.
Vejo muita gente trabalhando em igrejas, mas não vejo (ou não sei) gente recuperando almas.
Que Deus o abençoe, Chico, e permita que vc recupere ainda muitas outras almas, em seu ministério.
Lacerda, estou sentindo falta de termos um tempo para conversarmos. Tratores para derrubar paredes de Igrejas para o povo sair pode ser um exagero, mas se for necessário, vamos orar por isso.
ResponderExcluirUm abraço, Xyko.