segunda-feira, 14 de abril de 2008

FÉ OU FANATISMO?

Certa ocasião fui convidado para fazer uma palestra a um grupo de pessoas que participavam de um acampamento. O tema escolhido pelo grupo parecia pouco apropriado para um retiro: "Como lidar com a morte". Mas para algumas pessoas presentes ali, esse assunto era de grande interesse. Foi o caso de uma jovem simpática que me procurou logo depois da palestra querendo conversar. Assim que começamos nossa conversa, ela me disse que era portadora do vírus da AIDS. A partir desse dia, temos tido muitas oportunidades de conversar, pois logo depois seu estado se agravou e ela precisou ficar internada no HC-UNICAMP.
Quando converso com uma pessoa portadora do vírus da AIDS, nunca pergunto como ela adquiriu a doença. Não tenho o menor interessa em saber como ela adquiriu o vírus. Na verdade, o que realmente me interessa é saber o que aquela pessoa quer ser dali em diante. Saber como ela era, como vivia, é fácil; sempre tem alguém interessado em contar. Difícil é saber o que ela quer ser. E é só isso que me interessa. Quando alguém assim me procura para conversar, ela é quem decide se quer ou não falar sobre a doença. Cabe a ela escolher se deseja ou não abordar a questão comigo.
Bem, no caso dessa moça, ela decidiu não só me contar a sua história mas também permitiu que fosse usada como um alerta para outras pessoas que estão passando por situações semelhantes. Assim, com a devida permissão, vou contar a vocês a história dessa jovem. Que ela nos faça refletir sobre a gravidade desse problema e nos sirva de alerta.
Essa moça havia se casado há menos de um ano quando descobriu que seu marido estava com AIDS. Ele havia contraído a doença quando ainda era solteiro, e apesar de saber disso já há algum tempo, decidiu não contar nada para ela. Quando os sintomas começaram a se tornar mais evidentes, ele contou-lhe sobre a doença, mas ela já havia sido contaminada.
Esse caso me deixou profundamente indignado. Ao voltar para casa naquele dia, fiquei pensando como alguém poderia ser capaz de fazer tal coisa. Como uma pessoa deliberadamente poderia permitir que outra pessoa fosse contaminada pelo vírus da AIDS, sendo que essa outra pessoa era sua própria esposa!! Mas a história ainda não acabou. Alguns dias depois, essa mesma moça me contou que quando seu marido soube que estava com AIDS ele procurou um "pastor" para aconselhá-lo sobre o que fazer. Depois de contar-lhe sobre sua doença, o pastor orou para que ele fosse curado, afirmando em seguida que ele havia sido curado. Para agravar ainda mais a situação, o pastor disse que ele não deveria fazer nenhum exame para comprovar a cura, pois isso seria demonstração de falta de fé!
A atitude desse pastor agravou ainda mais minha indignação. Como um pastor era capaz de oferecer um conselho desse tipo, colocando em risco a vida de outras pessoas?
Não muito tempo depois, o marido dela morreu, deixando-a contaminada. Após a morte dele, aquela sofredora mulher chegou a ir questionar o tal do "pastor", e a resposta dele foi chocante e absurda: "Eu não tenho culpa se o seu marido não teve fé".
Infelizmente, casos como este têm se tornado comuns. O que está em jogo nessas situações não é a fé. Não se trata de ter ou não fé suficiente para ser curada. Trata-se de um problema de fanatismo, e não de fé. A diferença é que a fé é baseada numa doutrina teológica consistente e bíblica, enquanto que o fanatismo não tem onde se apoiar; é uma crença irracional, sem fundamento.
Situações desse tipo podem levar a pessoa ao desespero, sentindo-se culpada por não ter fé suficiente para ser curada. Pela graça de Deus a jovem que me contou essa história pôde superar o ressentimento e a amargura e perdoar seu marido. Hoje ela é uma pessoa tranqüila, que experimentou o perdão de Deus e pode desfrutar de uma vida sem amargura e cheia de fé. Sua vida tem servido de testemunho para outros doentes do que o amor de Deus pode fazer por nós.

Um comentário:

  1. A Paz Xico!
    Com Deus tudo pode ser mudado, né?! Até nas situações mais trágicas...buscar à Deus é a solução para continuar o caminho e ainda arrastar uma multidão com o testemunho. E se aprendemos a transformar a tragédia em rastro para o céu, o que mais podemos querer?
    Onde iremos nós?
    Só Tu Senhor tem palavras de Vida mesmo!
    Deus seja louvado!
    Deus nos abençoe e nos guie.
    Ana

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