Alguém vem caminhando pela rua. Parece uma pessoa normal, como tantas outras, mas conforme ela se aproxima você percebe que há algo diferente e desagradável nela, algo que faz com que as outras pessoas se afastem. Quando ela chega perto você vê claramente que há uma substância gosmenta e malcheirosa sobre os seus ombros, que escorre pelo peito e pelas costas, e desce pelos braços e pernas, dando-lhe uma aparência repugnante. Olhando bem, obviamente você consegue separar, fazer distinção entre a pessoa e aquela substância disforme grudada nela, e é provável que você até se compadeça de sua situação.
Assim é o pecado na vida de uma pessoa. Assim é o pecado em nós.
No hospital onde trabalho, costumo atender pessoas de todos os tipos. Elas vêm em busca de um conselho, de uma palavra de conforto ou apenas para conversar. São travestis, prostitutas, dependentes químicos, enfim, pessoas geralmente marginalizadas pela sociedade. No início, era difícil distinguir pecado e pecador. Tinha dificuldade para colocar em prática uma frase ouvida e repetida tantas vezes: "Deus odeia o pecado, mas ama o pecador". Eu odiava o pecado, mas não amava o pecador. Principalmente porque na maior parte das vezes ficava evidente que o pecador amava aquela coisa repugnante e terrivelmente malcheirosa apegada a ele. Os seres humanos (isso inclui eu e você) muitas vezes amam o pecado! A ilustração acima me fez entender que devo amar todas as pessoas, sem exceção.
Como agir, por exemplo, diante de um comportamento homossexual? Da mesma forma como devemos agir diante de um fofoqueiro, ou mentiroso, ou assassino, ou adúltero e tantos outros pecadores. Devemos olhar para o pecador procurando enxergar o que está por baixo daquela substância grudada nele. Precisamos descobrir ali a pessoa que Deus planejou que ela fosse, e não a pessoa que ela é. Costumo dizer que é fácil saber o que a pessoa é, difícil é saber o que ela quer ser. Se nós realmente amarmos as pessoas, seremos instrumentos nas mãos de Deus para transformá-las naquilo que o Pai planejou que elas fossem. E como disse uma grande amiga minha, a Ana Paula, "amar é querer que o outro vá para o céu".
Cabe aqui uma palavra de advertência a todos aqueles que pretendem se envolver nesse ministério. Geralmente, as pessoas que trabalham com evangelização de travestis, prostitutas, viciados etc. são identificadas com esses grupos, e acabam recebendo o mesmo tratamento preconceituoso reservado a "esse tipo de gente". Mas se não nos envolvermos com as pessoas, como poderemos levar a elas a mensagem do evangelho? Jesus Cristo nos deu o exemplo ao enfrentar pressões desse tipo, mas atualmente, são poucos os cristãos que estão dispostos a sofrer pelo evangelho.
Mas ainda precisamos rever uma outra questão extremamente relevante: nossas igrejas estão preparadas para receber travestis, prostitutas e drogados? Temos o direito de impor condições para recebê-los? Que tipo de condições? Como você reagiria diante de tal situação?
Qual é a sua opinião? Ela é muito preciosa para nós.
Meu caro Chico,
ResponderExcluirO seu texto é claro e contundente, característica sua, o que muito aprecio. Realmente, quando nos aproximamos, incidentalmente, de um conhecido pecador (todos somos, mas uns são maiores do que outros), logo vemos a gosma lodosa e fedorenta, e não vemos a pessoa sob ela.
Eu não sou discriminador, mas confesso que alguns tipos de pecadores me afugentam, como os viciados em drogas e os alcoólatras. Vou rever isso e agradeço ter colocado a imagem da "coisa nojenta" em minha mente.
Amigo Xico,
ResponderExcluirMe lembrei de uma música que diz assim:
"Eu fico tentando compreender, o que nos teus olhos pode ver, aquela mulher na multidão, que já condenada acreditou, que ainda havia o que fazer, que ainda restara algum valor, e ao se prender em teu olhar, por certo haveria de Vencer...E assim fizeste a vida retornar ao olhos dela, e quem antes condenava se percebe pecador.
Teu amor desconcertante/ Força que concerta o mundo/
Eu confesso não saber compreender...
E assim foste o contrário o Avesso do avesso/ e por mais que eu me esforce não sei bem se te conheço/ Tu enxergas o profundo/ eu insisto em ver a margem/ quando vês o coração eu vejo a imagem...
Sou humano demais pra compreender/ Humano demais pra entender/ Que aqueles que escolhestes e tomastes pela mão, geralmente eu não os quero do meu lado!"
Como amar e olhar o outro de maneira a buscar dentro dele a boa semente que foi ali plantada?
Como olhar com amor de maneira a fazer que o outro acredite que há ainda o que fazer? Que resta muito valor a retomar?
Só pela graça do Espírito Santo diariamente podemos fazer destes nossos olhos, desta nossa maneira preconceituosa de olhar, falar, escutar, criticar uma conversão para converter, primeiro nós mesmo e depois o próximo.
Vem Espírito Santo e encheis os corações dos vosso fiéis!
Deus nos abençoe!
Ana Paula