Certa tarde, eu percorria um dos corredores do Hospital das Clínicas da UNICAMP quando fui abordado por uma fisioterapeuta que me fez a seguinte pergunta:
— Você já orou pelo Adilson, o paciente que está no quarto 25?
— Não —, respondi. –- Por quê? Ele está precisando de oração? (Que pergunta tola! Quem não precisa?)
— Sim, e de muita oração — respondeu ela. — Ele sofreu um trauma neurológico irreversível.
Eu não sabia exatamente o que ela queria dizer com “trauma neurológico irreversível”, mas sabia da gravidade do problema, por isso fui imediatamente até o quarto 25. Assim que entrei, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a grande quantidade de aparelhos em volta do leito. Ao chegar mais perto percebi que esses aparelhos estavam conectados ao paciente, que parecia estar dormindo. Ele respirava através de um tubo introduzido em sua traquéia por uma traqueostomia, e recebia alimento por meio de sondas. Durante todo o tempo ele era monitorado por vários aparelhos, que informavam imediatamente qualquer alteração em seu estado.
Posteriormente, fiquei sabendo um pouco do que havia acontecido com aquele rapaz. Ele havia se submetido a uma cirurgia no estômago, mas algo saiu errado durante os procedimentos cirúrgicos, provocando uma parada respiratória. Durante cinco minutos seu cérebro ficou sem oxigenação, o que causou a destruição de alguns neurônios (células do cérebro cuja perda é irreversível), gerando então o tal de "trauma neurológico irreversível". Resumindo: ele estava condenado a permanecer naquele estado para o resto da vida!!
Logo após essa visita, fui até o escritório do Serviço de Capelania e compartilhei com a secretária, Célia, o quanto essa experiência havia me impressionado. Depois de ouvir atentamente, ela me perguntou:
— Você orou com ele em voz alta?
— Não — respondi. — Orei silenciosamente, por quê?
— Porque é bem possível que pessoas em estado de coma sejam capazes de ouvir.
Fiquei admirado, pois não tinha idéia dessa possibilidade.
— Quando você for visitá-lo novamente, converse com ele e ore em voz alta — ela sugeriu.
No dia seguinte, lá fui eu visitar o Adilson. A não ser pelo fato de estar virado para o outro lado, ele permanecia do mesmo jeito. Pedi então à pessoa que me acompanhava na visita (a minha filha Cíntia, que na época era estudante de enfermagem) que fechasse a porta do quarto. Aproximei-me da cama, e comecei a falar com ele. Primeiramente me apresentei, e em seguida expliquei que gostaria de ler um texto bíblico e orar com ele.
Enquanto eu falava, o Adilson começou a ficar agitado. Sua respiração ficou um pouco mais acelerada e os aparelhos começaram a apitar. Aquilo me deixou assustado, e mais que depressa olhei para a Cíntia, que me tranqüilizou dizendo:
— Calma, está tudo bem. Ele está ouvindo!
Por mais incrível que pareça, ELE ESTAVA ME OUVINDO!! Durante vários dias pude falar àquele rapaz sobre o amor de DEUS, ler a Bíblia e orar com ele.
Até que certo dia, ao entrar no quarto para minha visita costumeira, notei que havia algumas pessoas com ele. Eram os pais do Adilson que tinham vindo visitá-lo. Seus rostos estampavam uma enorme tristeza. Após uma breve hesitação, resolvi me apresentar e contar das minhas visitas ao filho deles. Os pais do Adilson reagiram de forma extremamente positiva, dando-me a excelente oportunidade de lhes falar do amor de Deus por seu filho e por eles. Depois de ler um trecho das Escrituras, orei com eles e por eles. Antes de nos despedirmos, entreguei-lhes alguns folhetos evangelísticos e fui para casa, feliz da vida.
Na semana seguinte, tive outra oportunidade de encontrá-los, só que desta vez a irmã do Adilson também participou da conversa. Pude falar também a ela do maravilhoso amor que DEUS tem por cada um de nós. Enquanto eu falava com os pais e com a irmã do Adilson, ele dava sinais de que estava ouvindo. Isso tudo fez com que eu me sentisse extremamente feliz.
Passados alguns dias, assim que entrei no quarto 25 tive uma surpresa: havia outro paciente na cama. Fui até o posto de enfermagem para tentar saber o que estava acontecendo, e recebi a notícia de que o Adilson havia morrido. Meu trabalho estava encerrado, pensei.
No fim daquele dia, ao me preparar para deixar o hospital, fiquei pensando se o Adilson e sua família teriam realmente se convertido... Com certeza só terei essa resposta na eternidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário