segunda-feira, 19 de maio de 2008

SEM VOLTA

Antigamente tinha o lanche da tarde. Uma das boas lembranças que tenho do meu tempo de infância é a imagem da cozinha lá de casa, bem limpinha, o sol entrando pela porta , iluminando o chão vermelho e fazendo brilhar partículas de poeira suspensas no ar, a mesa posta para o lanche, cheiro de café passado na hora, o gosto de pão (que chamávamos de bengala) com manteiga (não margarina) e principalmente as conversas.
Hoje se come com o prato ao colo em frente à TV, e cada um em um horário. Graças a Deus não temos esse péssimo hábito em casa.
Antigamente as crianças brincavam na rua. Outra boa lembrança que tenho é isso: o brincar na rua. Jogos, brincadeiras, "aventuras" nos terrenos baldios e nas casas desocupadas, (as quais achávamos que eram mal-assombradas), futebol no campinho*, tomar sol e tomar chuva, encontrar bichinhos comuns e raros, colher (roubar?!) e comer frutas nos quintais nossos e dos outros. Colher (roubar??!!) flores nos jardins, nossos e dos outros.
Quintais e jardins: dois mundos fantásticos e inexplorados pelas crianças de hoje. Há algum tempo atras, eu e minha família fomos levar a filha pré-adolescente de um amigo nosso. Ao entrarmos em um Shopping Center ela encheu os pulmões e falou: "- Eu amo esse cheiro de Shopping!"
Quando nós brincávamos na rua nós ficávamos sujos. Há algum tempo atras eu li uma reportagem sobre a produção do que poderíamos chamar de "a vacina da sujeira". Trata-se de inocular um pouco de "sujeira" nas crianças super limpinhas de hoje, para que criem os anticorpos necessários à proteção do organismo.
Mas a lembrança mais importante da liberdade de poder estar na rua sem medo era quando, ou debaixo de uma árvore, ou em uma varanda, à sombra de um muro ou sentados na sarjeta mesmo, corriam soltas as conversas.
Hoje as crianças passam a maior parte do tempo diante de uma tela de um monitor. Que lembranças elas terão no futuro? Elas não vão ter histórias para contar!
* O meu computador nem conhecia a palavra ‘campinho", pois colocou aquele sublinhado vermelho, cheio de ondinhas, que indica que é necessário fazer a correção ortográfica. Quando escrevi "ondinhas" ele também mostrou que não conhecia a palavra. Acho que meu computador não teve infância!

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