quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Amor supera as deficiências físicas

Casais em que um dos pares é deficiente provam que conviver com as limitações também é um caminho possível para a felicidade a dois.

Para Denise, a característica mais marcante de Chico é a força com que ele encara a vida. Enquanto isso, ele se apaixonou pelos planos que ela tinha. Vinícius chamou a atenção de Regina pelos olhos e ele ficou atraído pela conversa agradável daquele primeiro encontro, no Revéillon de 1998. A inteligência de Benedito foi o que deixou Luciana com vontade de reencontrá-lo. No caso dele, o que mais chamou a atenção nela foi a delicadeza da voz, com a qual falava das músicas de Djavan, uma paixão que os dois têm em comum. Semelhanças, admiração mútua, aprendizado e muitas descobertas a dois. Para os três casais, esses são os ingredientes para um bom relacionamento e foram fatores que tornaram possíveis histórias de amor, sem que a existência de uma deficiência fosse encarada como uma dificuldade. Chico e Vinícius não andam. Benedito é cego. Denise, Regina e Luciana, que não têm nenhuma deficiência, são apaixonadas e, para elas, encontrá-los significou descobrir a felicidade. Para eles, representou a percepção de que a vida amorosa também mereceria vários capítulos em suas histórias e de que preservar a autonomia, sem que houvesse sentimento de pena por parte dos parceiros, era o caminho.

Novas maneiras de enxergar
O ônibus quebrou no meio do caminho até Goiás, onde Benedito Franco Leal Filho, de 47 anos, ia passar o Natal na casa de alguns amigos. Cego, sempre prezou sua autonomia e viajava sozinho. Quase se arrependendo da viagem, por causa da demora no conserto, a enfermeira Luciana Tavares Diniz, de 37 anos, se aproximou. Ela estava indo visitar os pais. Começaram a conversar. "A princípio, ele me chamou muito a atenção por causa do tipo físico, por ser alto e moreno." O assunto foi música, já que os dois gostam de Djavan.
A viagem terminou com os dois lado a lado e, assim que chegaram a Campinas, começaram a namorar. Agora, já são 11 anos de casamento e um filho, Thales, de 3. Benedito é cego desde os 8 anos por causa de um descolamento de retina, durante um jogo de futebol. "A voz da Luciana sempre foi uma coisa que me seduziu" , conta ele, que é professor. O relacionamento dos dois é marcado pela reinvenção de papéis sociais. "Ao contrário do que a sociedade passou a visualizar como casal, é sempre ela quem está dirigindo, por exemplo. Encaramos com muita naturalidade, pois sou muito resolvido em relação às minhas limitações" , explica Benedito.
Luciana conta que a principal dificuldade é sempre a busca por referenciais comuns que possam transmitir ao mundo de Benedito o que ela enxerga. "É um aprendizado constante, que também me faz visualizar o mundo de outra forma" , afirma. Luciana não sabe nada de braile, nem mesmo transcrever as palavras para o sistema de leitura dos cegos com o auxílio de uma máquina. "Sempre preservamos a autonomia de cada um. Essa é uma das coisas mais bonitas do nosso relacionamento" , diz Benedito. Até Thales já encontrou uma forma de demonstrar seus sentimentos pelo pai. "Ele tem uma sensibilidade muito grande. Para mostrar que está com cara de bravo, leva minhas mãos até o rosto dele para que eu perceba seus traços" , conta o professor. (FO/AAN)

Propósitos iguais
Quando contou que estava namorando um rapaz paraplégico, a assistente financeira Denise Martins Motta, de 48 anos, enfrentou a resistência da mãe e um processo doloroso de aceitação do relacionamento com o pastor Francisco Motta Neto, de 57 anos, paralítico por causa da poliomelite, contraída aos 9 meses. "Eles tinham muito receio de que eu seria infeliz pelo resto da vida e que estava tomando uma decisão impensada." O casal se conheceu numa escola em que Chico, então missionário da Igreja Batista, fazia um trabalho de conversão. "Desde o início, o que mais me chamou a atenção nele foi a forma como encarava a vida, apesar de toda a falta de força física." Denise e Chico não tiveram filhos e estão juntos há 26 anos.
O pastor cresceu sem complexos por ter uma deficiência. "Minha mãe sempre garantiu que eu tivesse acesso a tudo o que os irmãos tinham" , lembra. Isso fez com que o medo da solidão não o afligisse. "Só fiquei um pouco chateado quando uma namorada encerrou um relacionamento depois de quatro anos, alegando a minha deficiência como pretexto. Fiquei sem entender por que ela demorou tanto tempo para tomar essa decisão" , relembra.
Os dois atribuem o sucesso do relacionamento a objetivos em comum. "Tínhamos os mesmos propósitos, estamos envolvidos na mesma causa. Temos Deus como a nossa base" , explica Denise. A limitação física de Chico não os impede de quase nada. "Viajamos, passamos férias fora da cidade. Adaptamos nossa vida. Ciente da limitação que temos, tomamos sempre alguns cuidados, como ligar antes para o lugar e verificar se existe acesso para cadeirantes" , conta a assistente financeira.
Um dos passeios favoritos é ver o time do Guarani em campo. "Nesse tempo juntos, eu me tornei uma deficiente e ele se transformou numa pessoa normal" , resume Denise. Todas as tardes, Chico trabalha como capelão no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De manhã, ele fica ao lado da mulher na administração da Igreja Batista da Cidade Universitária (IBCU), em Barão Geraldo. "No começo, as pessoas da minha família não sabiam como encará-lo, o que falar com ele, o que oferecer." Hoje, a naturalidade marca as reuniões familiares. "Se bobear, até esquecem que estou lá" , diz o pastor, sorrindo. (FO/AAN)

Nem herói, nem coitadinho
"O deficiente não é herói, nem coitadinho. É gente. E por que não poderia fazer uma outra pessoa feliz?" , questiona a dentista Regina Maria Holanda de Mendonça, de 39 anos, casada com o economista Vinícius Gaspar Garcia, de 32. Ele estava no segundo ano da graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) quando um salto mal-sucedido numa piscina o fez fraturar a coluna cervical e o deixou tetraplégico. "Durante dois anos, passei pelo período mais difícil da minha vida. Achava que ia ficar sozinho para o resto da vida" , relembra. Na época do acidente, Vinícius tinha uma namorada, mas o relacionamento acabou quatro meses depois. Teve outros dois casos amorosos sem sucesso, até chegar o Revéillon de 1998. Naquele ano, ele voltaria aos estudos, mas a festa, na casa de amigos em comum, teve também outro significado. Regina e Vinícius se conheceram lá. Ele morava em Campinas e ela em Uberlândia (MG). Passaram o Carnaval seguinte juntos e começaram a namorar. "Meu principal medo era imaginar como minha família ia receber a notícia de que eu estava namorando um tetraplégico" , relembra.
Esse receio inicial não correspondeu a uma dificuldade. "A aceitação foi imediata" , conta a dentista. Nas ruas, o casal já enfrentou algumas situações que podem parecer embaraçosas, mas que eles já aprenderam a encarar com naturalidade. "Lembro-me de um dia em que estávamos jantando num restaurante e o garçom nos perguntou se éramos irmãos. Para a maioria das pessoas, é inadmissível esse tipo de relacionamento. Essas coisas, para nós, já são tão naturais que reagimos com risos" , conta Regina. Vinícius teve como desafio redescobrir sua sexualidade. "A maioria imagina que as pessoas com deficiência são impotentes. Não é verdade, pois isso depende do local em que ocorreu a fratura. O comprometimento, geralmente, está relacionado à dificuldade de ejaculação. Mas, com conversa e muita honestidade, entramos no ritmo de qualquer casal e estamos sempre fazendo descobertas" , diz Vinícius, que atualmente cursa o doutorado na Unicamp e trabalha no Centro de Vida Independente (CVI), entidade destinada ao acompanhamento de pessoas com deficiência.
O próximo passo do casal, juntos desde 2004, já está trilhado: adotar uma criança. Apesar de Vinícius poder ter filhos biológicos a partir de uma inseminação artificial, Regina tem um problema que a impede de ter filhos. "Eu nunca tinha pensando muito sobre deficiência antes de conhecer o Vinícius. Foi tudo muito natural na nossa vida" , diz a dentista. (FO/AAN)

Fonte: Correio Popular
07/09/2008
Fabiano Ormaneze
DA AGÊNCIA ANHANGÜERA

2 comentários:

  1. Caríssimo,

    Espetacular reportagem, parabéns a todos os casais pelo exemplo de Amor e superação...
    O Chico, a Denise e o Vinícius eu já conheço, espero ter a honra de conhecer um dia o Bendito, a Regina e a Luciana...
    Só tenho pena da Denise, que tem que acompanhar o Chico nos jogos do Guarani...

    Paz

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  2. QUE A PAZ DO SENHOR JESUS ESTEJA SEMPRE COM O IRMÃO.
    MEU AMADO IRMÃO, É-ME GRATIFICANTE POSTAR ESSAS PALAVRAS DE SAUDAÇÕES AO AMADO.

    FRATERNAL ABRAÇOS,
    PROF.CICERO PEREIRA DA SILVA

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