segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ÚTIL NA UTI


Durante algum tempo nós fizemos um trabalho muito interessante com o pessoal que trabalha no período noturno na UTI do HC-UNICAMP. Eram reuniões periódicas dirigidas aos técnicos, enfermeiros, fisioterapeutas e médicos visando uma maior humanização do atendimento hospitalar desenvolvido ali.
Numa dessas reuniões nós estávamos discutindo a “toqueterapia”, isto é, o bem que pode fazer um toque físico amistoso do profissional no paciente, assunto levantado pelo questionamento de um paciente: “O mais próximo de um afago ou carinho que recebi de vocês foi o contato do frio estetoscópio com a minha pele das costas. Por que?”. Durante a reflexão, uma técnica em enfermagem disse ser extremamente importante aquela conscientização pois ela até ali, considerava os pacientes apenas como um material a ser trabalhado, e não como “gente”, usando a expressão adotada por ela em sua confissão.
Na reunião seguinte, uma fisioterapeuta, moça ainda, compartilhou a sua experiência ao colocar em prática o que havíamos estudado: “- A Dona Geralda era um caso que me intrigava. Ela é bem idosa, estava entubada, e havia já alguns dias que ela não conseguia dormir. No dia seguinte da nossa última reunião eu fui até seu leito. Sentei-me ao seu lado, fiz um cafuné nela por alguns minutos. Ela só me olhava e chorava. Como eu tinha muitas outras coisas para fazer, levantei-me, arrumei suas cobertas, dei-lhe um beijo na testa e ia saindo. Quando olhei para a Dona Geralda, ela apontou primeiro para o próprio peito, depois desenhou com as duas mãos um coração no ar, e por fim apontou para mim. Depois disso ela dormiu a noite inteira, sua saúde se restabeleceu e ela teve alta”.
É claro que a Dona Geralda estava dizendo que amava aquela jovem, mas quem amou realmente foi a fisioterapeuta. Ela decidiu fazer e fez. Essa é a essência do amor. E note, ela não esperava nada em troca, mas recebeu um gesto de bem-querer e gratidão. Gente, isso é impagável!
Agora imagine o bem que um pequeno gesto fez. Uma senhora idosa, entubada, dias e dias ali deitada, sem fazer nada, rodeada a maior parte do tempo por gente estranha, tendo que se sujeitar a, por exemplo, que outros limpem o seu cocô e xixi, de repente uma jovem a acaricia. Foi uma recarga rápida na sua “bateria emocional”.
Todos nós estamos sujeitos a isso acontecer conosco um dia.
Romanos 12:10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.
1 Pedro 1:22 Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente.

2 comentários:

  1. Oportuníssima reflexão...
    Em tempos de influenza A (a tal gripe suína) em que estamos sendo orientados de forma até meio alarmista a não sairmos de casa, a não nos tocarmos, não apertar as mãos, beijo então...
    É claro que até existe fundamento nos cuidados nos contatos, lavar as mãos, etc.
    Nosso arcebispo D. Gilberto suspendeu o aperto de mão, o abraço e o recebimento da Eucaristia na boca, para diminuir a disseminação da gripe, durante as missas católicas em nossa cidade, e faz todo o sentido.
    Nos hospitais então, esses cuidados devem ser habituais e independentes de qualquer epidemia de gripe.
    Desse modo, o toque, terapêutico ou solidário deve superar também esse desafio do medo da contaminação (como a lepra na antiguidade).
    O afeto pode ser transmitido de várias formas, mas, concordando plenamente com o Xyko, certamente a proximidade, o toque e a carícia facilitam bastante essa comunicação do coração (cordialidade), além de ser uma bela demonstração de superação de medo e do preconceito...

    Paz

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  2. Caro Venâncio, Nosso Senhor, SEM PRECISAR, tocou em um leproso: “E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.” (Mateus 8:3)
    Imagine quanto tempo aquele homem ficou sem um toque amoroso!
    7 abraços para você, do amigo Xyko.

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