Ontem conversei com um homem que vai morrer em breve e sabe disso.
Mas antes de falarmos sobre isso, deixe-me compartilhar algo:
“Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi, a Horesa, e lhe fortaleceu a confiança em Deus,” (1 Samuel 23:16)
Há muito tempo me dei conta desse versículo, e ontem novamente me deparei com ele. O que me impacta nessas poucas palavras é considerar que uma amizade pode nos ajudar a encontrar forças em Deus! Meditando sobre isso, me lembrei dos amigos de Jó, que foram ajudá-lo depois que ele perdeu tudo o que tinha, família e bens:
“Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo. Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.” (Jó 2:11-13)
Duas coisas nesse trecho são dignas de nota: a primeira é a predisposição à solidariedade, e em segundo, é que o consolo pode ser em silêncio. Eles ficaram 7 dias e 7 noites sem abrir a boca, não falaram nada, e nem precisava. Antes tivessem continuado calados. Eles acusaram Jó de estar sofrendo todas aquelas perdas devido a algum pecado não confessado. Note o que Jó lhes diz:
“Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras e vós todos sois médicos que não valem nada. Tomara vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!” (Jó 13:4-5)
Observe ainda a seguir, como essa falsa teologia que eles criam, quando aplicada, pode ser perniciosa:
“Então, respondeu Jó: Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura, não terão fim essas palavras de vento? Ou que é que te instiga para responderes assim? Eu também poderia falar como vós falais; se a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu poderia dirigir-vos um montão de palavras e menear contra vós outros a minha cabeça; poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor.” (Jó 16:1-5)
A amizade tanto pode fortalecer quanto abater.
Voltando, então, ao que eu estava começando a contar: ontem conversei com um homem (35 anos!) que vai morrer em breve e sabe disso. Foi com um paciente do HC-UNICAMP.
A primeira coisa que pensei foi em como ajudá-lo a encontrar forças em Deus?
Comecei perguntando-lhe se está com medo. Sua resposta foi sincera, com uma afirmação seguida de uma pergunta: “Tenho medo sim. Você acha isso natural?”. Respondi que é natural, por se tratar de algo acionado pelo instinto de auto-preservação.
Deixei claro que é imprescindível que ele esteja pronto para o “pior”, ou seja, a morte (que nem sempre é o pior), sem perder a esperança, que é o que o motivará a continuar lutando.
Na hora de nos encontrarmos com a morte, 3 medos podem ocorrer: o de deixar a família desamparada, o da hora da morte e o do pós-morte. Quanto ao primeiro, que é o caso desse homem que conversei, como vivemos como se não fôssemos morrer, sempre há o que fazer. O segundo medo é o da passagem. Gosto dessa expressão, pois costumo descrever a morte como passar por uma janela (não digo porta porque pela janela há um grau maior de dificuldade); do lado de cá, ajudando na passagem, ficam os parentes e amigos, e do lado de lá quem ajuda são os anjos e, não tenho muita certeza, o próprio Senhor Jesus. Isso, é claro, no caso de ser uma pessoa convertida, que é o caso desse meu amigo que estou citando. Já o caso de um não convertido “passar pela janela”, não quero nem lembrar o que um outro homem, que recusou o perdão em Cristo, me contou sobre o que ele viu do lado de lá.
PARA REFLETIR:
“Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1:21)
Fala-se muito hoje em dia da ortotanásia, que é o meio termo entre a eutanásia (matar alguém para aliviar o sofrimento) e a distanásia (prolongar futilmente a vida e o sofrimento de uma pessoa com o exagero do uso da tecnologia médica). Seria o equivalente uma boa morte.
ResponderExcluirMas para além dessa visão humanística da morte, hoje em dia temos uma nova proposta: uma abordagem também estética da morte. Estética se entende como harmonia, equilíbrio, aquilo que, além de bom, é também belo...
Este novo conceito tem sido chamado de Calotanasia, literalmente a bela morte...
E que morte pode ser mais bela do que aquela que coroa uma vida plena de sentido, amor e busca de Deus...
"Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça..." II Tim 4, 7-8
Tomara todos tenhamos a Graça de uma Bela Morte!
Muita Paz,