Quando cheguei ontem, 23 de dezembro, ao escritório da Capelania do HC-UNICAMP, só estava ali a Celinha, a secretária daquele serviço, a qual é a “espinha dorsal” do nosso trabalho. Ficamos conversando e, num dado momento ela virou para mim e disse que todo ano ela passa por um problema (ou apuro, não lembro a expressão que ela usou), e que esse ano não foi diferente: desejar um feliz Natal e um bom Ano Novo para a Dulce e para a Efigênia, que haviam passado por lá para lhe darem um abraço.
A Dulce é a vó que cuida do Nino e a Efigênia é a mãe do João Vitor. Essas duas crianças, de 8 e 6 anos respectivamente, são pacientes crônicos que dependem do respirador mecânico e devido à sua debilidade não vão sair mais do hospital. Essas duas mulheres vão passar o Natal no quarto das suas crianças, que é onde elas moram.
Deixe-me descrever o quarto deles para vocês. Logo que se entra, à esquerda, é a porta do banheiro. Mais para dentro, tudo à esquerda, tem a poltrona que à noite vira cama, da Dulce, o leito do Nino, dois criados-mudos, o leito do João Vitor e por fim a poltrona/cama da Efigênia. Na parede do fundo à esquerda há 2 janelas e à direita um armário embutido. Encostado à parede da direita de quem entra há um armário que as duas “repartem”. É espaçoso, tanto que a minha cadeira de rodas circula por tudo ali. É nesse quarto que eles vão passar o Natal! Em cima do armário que fica encostado à parede, a Maju, a fisioterapeuta, montou uma árvore de Natal. Ela a montou a pedido do Nino, pois ele disse que queria ver a que está montada no pátio da pediatria e, como ele não pode sair, que se montasse uma no quarto.
Depois que me despedi da Célia, fui visitar aqueles moradores daquele quarto que me são tão queridos. Quando cheguei lá elas estavam se despedindo de duas pessoas que já iam embora e só voltarão em janeiro. Todas com lágrimas nos olhos.
Passei a tarde com elas e com os meninos. Quer dizer, quase toda a tarde, pois reservei uma parte do tempo para conversar com um homem de 35 anos que está lutando sem sucesso contra um câncer que já está se espalhando por todo o seu corpo e faz com que ele sinta muitas e fortes dores. Quando voltei para a Pediatria cruzei com a Júlia, uma menina de 6 anos que tinha acabado de ser internada (lembre-se, era 23 de dezembro!). Essa menina recebeu um rim transplantado e volta e meia tem que ser internada. Ela gosta de ficar lá, por causa da brinquedoteca, dos palhaços, dos contadores de histórias, mas como essas atividades só voltam em janeiro, ela estava muito triste.
De volta ao quarto do Nino e do João, a Dulce me contou que o Nino perguntou em um outro dia, o porquê de ele não andar, se era por não ter pé. Ela disse que pé ele tem, mas não tem força. “Mas por que?” o Nino perguntou, e a vó disse que não sabia responder, e que “só Deus é que sabe”. Depois a Efigênia falou que sabe que o filho dela está piorando e que logo vai morrer. Depois o assunto mudou e conversamos um monte de outras coisas. Olhando e falando com aquelas mulheres, me lembrei de Maria, a mãe de Jesus. Ela foi a única pessoa do mundo que esteve com Nosso Senhor toda a Sua vida, desde o nascimento até a morte na cruz. Simeão profetizou isso:
“Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.” (Lucas 2:34-35)
Na hora de eu ir embora, beijei-as e desejei um bom Natal e um ótimo Ano Novo.
A frase me soou meio doida. Doida e doída.
PARA REFLETIR:
“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13:5)
"Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei."
ResponderExcluirPastor,
Como é bom ter uma palavra como esta, que nos conforta a cada dia, diante das dificuldades que passamos. Parece que as lutas nunca acabam, mas saber que ainda que estejamos lutando, Deus é conosco, isto é o que nos conforta. Saber que nesta nossa breve existência Deus não nos abandona é reconfortante.
Aproveito a oportunidade para agradecer tão abençoadas mensagens que durante todo este ano pude desfrutar, dia-a-dia.
Quero desejar à você, à sua esposa Denise, e a toda sua família um próximo ano muito melhor do que este. Que o Senhor Jesus continue lhe iluminando para que possa levar a palavra de Deus longe, bem longe, nos confins da "internet".
Um grande abraço, e os mais sinceros votos de muita paz e saúde.
Muito obrigada por tudo, e em 2010 estaremos juntos novamente.
Flávia
Brasília-DF