segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

MUITO FAZ QUEM NÃO ATRAPALHA



Um erro muito comum que se comete ao visitar um doente internado em um hospital é ficar contando casos de conhecidos que tiveram o mesmo mal. Um outro é atribuir ao enfermo a culpa pela sua situação, à falta de fé ou a algum pecado da parte do paciente. É verdade, às vezes uma visita pode fazer mais mal do que bem. Vamos ver esse trecho da Bíblia, que relata o que aconteceu logo depois de Jó ter perdido todos os filhos, seus bens e sua saúde:
“Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo. Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.” (Jó 2:11-13)
Algumas observações interessantes podem ser tiradas daí.
A primeira delas é que Jó tinha amigos. Riqueza inestimável é isso. Conheço um homem que diz ser amigo de todo mundo, e se orgulha disso. Mas nesse último final de ano ele passou as festas de Natal e Ano Novo sozinho. E não foi porque quis. Por outro lado, lembro-me que quando cometi um erro que se tornou público, muitos dos que se diziam meus amigos se afastaram, enquanto que os poucos que me devotam verdadeira amizade, se achegaram a mim e assim estão até hoje. Para pensar: quem são nossos Amigos?
A segunda observação é lembrar que males vão nos atingir. São inevitáveis a maior parte deles como o próprio Senhor Jesus nos alertou, mas mesmo passando por crises podemos ter, em Cristo, a verdadeira paz: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33) Nesse momento, ou nós estamos passando por alguma crise, ou estamos saindo de uma ou, por fim, vamos passar em breve. Nisso tudo, nós temos paz?
Vamos observar agora o terceiro ponto interessante. Os amigos de Jó, quando souberam do seu infortúnio, foram até ele, não ficaram apenas se lamentando. Eles fizeram alguma coisa. Isso me fez lembrar do seguinte trecho: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.” (Tiago 2:14-17) Os amigos de Jó foram. Depois “pisaram na bola”, mas foram. Ponto para eles. E para nós?
Mas, para que eles foram até lá? Essa é a nossa quarta observação. Eles foram para condoer-se com Jó e consolá-lo. Muitas e muitas vezes, a solidariedade e o conforto trazidos pelos amigos é o que impede de sucumbirmos.
Quinta observação: eles choraram e se lamentaram pelas aflições do amigo. Você já notou que, pelo menos aqui entre nós, não se usa mais ir de roupa sóbria a um velório ou funeral? Eu já vi em uma dessas ocasiões, algumas pessoas vestidas com roupas floridas e coloridas. Já vi até gente contando piada, demonstrando assim não estar sensibilizados com a dor de quem está de luto. Isso também pode acontecer ao se fazer uma visita a quem está internado em um hospital ou sofrendo alguma perda, enfim, aflito. Temos tido empatia com a dor alheia?
Última observação: eles ficaram calados. Diante de um sofrimento muito grande, geralmente não há palavras que possam ser ditas. Mas temos o falso sentimento de que é necessário falar alguma coisa. Foi o que pensaram os amigos de Jó, e começaram a acusá-lo de algum pecado que teria gerado tão grande sofrimento. Antes tivessem continuado calados. Veja esses trechos que contam o que Jó responde a seus visitantes:
“Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras e vós todos sois médicos que não valem nada. Tomara vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!” (Jó 13:4-5)
“Então, respondeu Jó: Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura, não terão fim essas palavras de vento? Ou que é que te instiga para responderes assim? Eu também poderia falar como vós falais; se a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu poderia dirigir-vos um montão de palavras e menear contra vós outros a minha cabeça; poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor.” (Jó 16:1-5)
Se olharmos à nossa volta, temos muito o que pensar e o que fazer, não é mesmo?

Um comentário:

  1. Muito interessante,

    O silêncio muitas vezes não é fácil...
    Caímos na tentação de falar alguma coisa para consolar e aí ultrapassamos o limite do que é dizível, ou daquilo que pode ser ouvido, e falamos demais, e o que é pior, falamos besteiras...
    Nessa hora vale mais assumir o papel de "testemunha silenciosa" (já comentado em outras ocasiões neste blog), mas não é fácil, temos que nos esforçar, pois a vontade de colocar sentimentos em palavras é grande...


    Paz,

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