Era um desses brinquedos caríssimos. Eu o ganhei já usado e um pouco sujo, para dar para alguma criança pobre. E foi o que fiz, depois de limpá-lo. A menina que o ganhou montou-o em cima da mesa e ficou olhando. Seus olhinhos brilhavam. De repente ela veio, me abraçou e disse: “Algumas vezes eu vi esse brinquedo na TV e pensei que mesmo querendo muito mesmo brincar com ele, eu nunca ia poder. Nem emprestado. Aí o senhor vem e me dá”. Eu expliquei que não havia sido eu, que eu só o entregara. E chorei, porque ela também chorava de alegria.
Esse foi um dos momentos mais importantes e significativos da minha vida.
Os meios de comunicação criam necessidades na vida das pessoas que nem sempre podem ser satisfeitas: brinquedos, comidas, carros, passeios, aparelhos, roupas, e até o ter um corpo do jeito que eles determinam ser o perfeito.
Não dá para calcular o estrago que essa frustração causa na mente e no coração das crianças.
Indo mais fundo: e as necessidades mais básicas e reais? Alimento, educação e saúde? Note de passagem que se forem dadas a alimentação e a educação condizentes com a dignidade humana, o problema da saúde é minimizado.
A Doutora Zilda Arns, que morreu recentemente no terremoto no Haiti, era muito pouco conhecida aqui no Brasil. Também pudera, ela nunca foi participante de um “Big Brother Brasil”! Como eu nunca assisti esse programa, eu já a admirava.
Ela era católica. Eis parte do seu discurso:
“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.”
E ela vivia isso. Enquanto se discute se deve ser proibido ou não pendurar crucifixos em repartições públicas, enquanto se discute posições teológicas, enquanto tivermos preconceitos religiosos e intolerância de crenças, as crianças sonham em comer e brincar e quando acordam, não lhes resta alternativa a não ser ir para a rua.
E os cristãos dentro de suas Igrejas, com a Bíblia na mão perguntam: “Quem é o meu próximo”.
Não precisamos nos perguntar isso. Basta olhar à nossa volta.
“Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha.” (Mateus 12:30)
Olá, Chico.
ResponderExcluirUm texto muito questionador!
Diante de uma realidade tão dura como a que vivemos, mas que ainda sim vemos tantas pessoas que se sentem 'incomodadas' com ela e se movem em direção ao necessitado e sofredor (um bom exemplo: os voluntários que prestam serviços junto ao HC), não cabe, ou melhor, não é admissível que existam críticas ou oposição a esses cristãos de verdade, simplesmente por conta da igreja que frequentam.
Já fui insultada por dizer que sou católica, isso por pessoas que não me conhecem direito, não sabem o que eu penso, nem como vivo meu cristianismo. Quem se julga o dono da verdade!
Mas a Verdade mesmo está na Palavra de Deus: Vinde benditos de meu Pai,... pois eu estava com fome... com sede... doente.. todas as vezes que fizestes isso a um deste mais pequenos,... foi a mim que o fizeste (Mt 25)
Certo homem descia de Jerusalém... por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho... um levita... Mas um samaritano...(Lc 10)
Que o exemplo da dra Zilda permaneça e seu trabalho continue trazendo vida para tantas crianças, que tenho certeza, nunca foram questionadas sobre qual igreja pertenciam para serem assistidas. Que Deus nos conceda a graça de olharmos a todos como irmãos!
Abraços
Célia
Caro Xyko,
ResponderExcluirBelo texto.
Gostaria de comentar inicialmente que foi exatamente essa postura de discriminação e até violência contra outras crenças e formas de pensar (cruzadas, inquisição, caça às bruxas, etc.) que marcou tanto o nosso cristianismo a ponto daqueles que querem se ver livres de qualquer tipo de opressão dizerem que estamos entrando numa era "pós-cristã"... nós, os próprios cristãos, somos os responsáveis por isso!!! E como a Célia comentou, isso ainda existe de uma forma ou de outra...
Quero também lembrar o que disse uma vez um grande publicitário: disse que o preço de um produto não representava mais o custo de fabricação do produto, mas o tamanho do desejo na cabeça das pessoas...
Paz,