quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SENSAÇÃO DE ABANDONO



Dia de Natal. Fim de tarde, início de noite. A Denise, a Cíntia e eu chegávamos do almoço de Natal em família. Assim que desço do carro, isso já no estacionamento do nosso prédio, avisto o carro da Gabriela manobrando para estacionar na sua vaga. Essa nossa vizinha está com o marido internado lá no HC-UNICAMP. Ele está muito mal. Falei para a Denise e a Cíntia irem subindo e esperei para conversar com ela.
Depois dos cumprimentos, perguntei como está o Jossimar, e ela me respondeu o que eu já sabia, ou seja, mal e sofrendo bastante com as muitas dores. E contou também que o que mais doía nele era não poder ver a filhinha de 3 anos. Fomos conversando e nos dirigindo até o vestíbulo do elevador. Foi ali mesmo naquele lugar, em abril ou maio desse ano, que ele me falou das dores no joelho. Na época ele pensava que fora alguma contusão no futebol, mas os exames revelaram o pior: câncer.
Primeiro ele mancava, depois usava um par de muletas, depois uma cadeira de rodas. Teve que amputar aquela perna. Hoje, diversos outros focos da doença já surgiram.
Parados ali naquele “hall”, perguntei como estava a sogra dela, pois na conversa que tive com a mãe dele vi muito sofrimento. A Gabriela respondeu que ela, a sogra e mãe, desde a amputação não estava bem. Não se conforma. Eu entendo.
“E você, Gabriela, como está?” perguntei. Ela compartilhou que foi tudo muito rápido, pegou-os de surpresa, mas que já haviam conversado, ela e o marido, sobre o futuro incerto e com certeza sofrido. Eu imagino quão angustiante deve ter sido essa conversa!
Depois eu lhe dei um conselho: “Você tem que estar pronta para tudo, para o que pode acontecer de pior, e ao mesmo tempo não pode perder a esperança, que significa lutar até o fim”. Depois em casa fiquei pensando que o pior para ela pode ser o melhor para ele.
Tenho conversado muito com o Jossimar em seu leito hospitalar. Quando lhe perguntei se tinha medo, ele disse que sim e me perguntou se isso era normal. Claro que é. Expliquei-lhe então que “3 medos” podem acometer uma pessoa numa situação dessa, que são, primeiro o medo de a família ficar desamparada, depois o medo do momento da morte e por fim, medo do pós-morte. Estamos trabalhando esses três pontos.
Hoje quero ler com o Jossimar os versículos abaixo e mostrar que Deus sabe o que ele está sofrendo e que tem compaixão.
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.” (Salmos 22:1-2)
“À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos 15:34)

2 comentários:

  1. Deus nunca nos desampara ou nos abandona, só permite que passamos por situações difíceis pra nosso crescimento.Cintia.

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  2. Caríssimo,

    Creio que nossa maior tentação seja de querer ser como a serpente disse à Eva: "Sereis como deuses, não morrereis..."
    Por isso mesmo nosso grande desafio seja aceitarmos nossa condição humana e com ela nossa mortalidade.
    Os gregos antigos nos diferenciavam dos deuses simplesmente pelo termo "mortais", que acabou se tornando a marca indelével de nossa existência nesta terra. Para os gregos também não havia o conceito de "pecado", havia a "hibrys", condição de querer ser mais do que aquilo que realmente se é. Havia inclusive uma deusa só para castigar a hibrys, era a deusa Nêmesis, "a inevitável" (faz lembrar a figura da morte).

    Com relação ao que Jesus disse na cruz, creio que Ele quis demonstrar cabalmente que assumiu não só nossa condição de mortalidade mas também de liberdade (afinal Ele escolheu morrer por nós).
    A morte, condição exclusivamente humana e consequência de nossa liberdade e escolhas (afinal Eva escolheu comer o fruto...) não pode ser compartilhada, acompanhada por Deus. Jesus naquele momento assumiu totalmente nossa humanidade.
    Portanto o momento de nossa morte é um momento particularíssimo, essencialmente humano, talvez o momento de maior desamparo possível (Deus não vai nos "amparar" eternamente, um dia morreremos)... só depois, então, a Glória!

    Preparemo-nos e que Deus nos dê a todos coragem e força para esse momento pessoal e especialíssimo...


    Paz,

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