Ser escritor e ser pastor são para mim atividades praticamente iguais: um ingresso no caos, na confusão das coisas, e depois o lento e misterioso trabalho de criar algo a partir da confusão, algo bom, algo abençoado – um poema, uma oração, uma conversa, um sermão, uma visão da graça, uma descoberta de amor, um modelo de virtudes. É o Yeshua dos fiéis hebreus, a soteria dos cristãos gregos. Salvação. O resgate pela criação e recriação da imagem de Deus. O ato de escrever não é literário, mas sim espiritual. E ser pastor não é administrar um negócio religioso, mas sim uma busca espiritual.
A oração, essa intensidade do espírito atento na presença de Deus, está no cerne das duas atividades: a do pastor e a do escritor. Quando escrevo, trabalho com palavras; atuando como pastor, trabalho com pessoas. Mas não são meras palavras e meras pessoas; são palavras e pessoas como portadoras do espírito/Espírito. No instante em que as palavras são usadas sem o espírito de oração e as pessoas são tratadas sem esse mesmo espírito, algo de essencial começa a se perder na vida.
(Eugene Peterson, Deus e Paixão . In Yancey, Philip. Muito mais que palavras)
Caríssimo,
ResponderExcluirO famoso mitólogo Joseph Campbell conta uma história muito interessante:
Uma vez ele ia ser entrevistado na televisão, ao vivo, por um repórter cujo nome do programa era o do próprio repórter (sinal que ele era muito importante).
Ao começar a entrevista o repórter afirmou, como que querendo que o entrevistado concordasse: "Mito é uma mentira". Campbell respondeu: "Não, mito é uma metáfora". E o entrevistador insistiu: "Mito é uma mentira". A entrevista foi acontecendo como um "braço-de-ferro" entre os dois e Campbell notou que o repórter não sabia direito o que era uma metáfora.
Quase no fim da entrevista Campbell pediu ao repórter para lhe dar um exemplo de uma metáfora. O repórter se esforçou muito e disse:
"Aquele homem corre muito rápido, ele corre como o vento"... Campbell corrigiu: "Não, isso é uma comparação, a metáfora é: ele é o vento".
O repórter respondeu: "Mas isso é uma mentira".
Campbell finalizou: "Não, isso é uma metáfora!"
Moral da história: o mundo se divide em: aqueles que não acreditam em metáforas e acham qu elas são mentiras (os céticos, os ateus), aqueles que acreditam em metáforas como símbolos (os crentes) e aqueles que acreditam que as metáforas são a própria realidade (os fanáticos).
Deus é uma realidade totalmente inacessível ao entendimento humano e qualquer forma que queiramos dar a Ele será sempre uma metáfora.
Tanto os escritores quanto os pastores tem por missão lidar com metáforas, símbolos e representações do mundo e de Deus...
Que grande responsabilidade...
Paz,