A Denise e eu já éramos casados e fomos participar de um culto evangelístico realizado na Igreja que frequentávamos. O pregador era extremamente prolixo. Ele falava, falava e não parava mais de falar. E, desculpe a sinceridade, sem conteúdo algum. Aquilo estava muito cansativo para todos e acho que o preletor percebeu isso pela reação das pessoas ali presentes, que bocejavam, até mesmo cochilavam, remexiam-se em seus lugares, se distraiam, etc ... E o que ele fez? Contou que em outra ocasião na qual ele pregou, pregação igualmente extensa, uma senhora não aguentou, foi embora e segundo aquele pastor, Deus a castigou: na rua um ônibus a atropelou e ela teve as duas pernas quebradas.
E ele continuou falando, falando, falando ...
A certa altura a Denise me diz baixinho que queria ir embora. Eu respondi lembrando-a das pernas quebradas da mulher. Ela olha para o pregador, olha para a porta, vira para mim e diz: “Eu prefiro as pernas quebradas!”, e saímos. Graças a Deus não nos sucedeu nada.
Depois eu fiquei pensando: e os convidados não convertidos daquele evento? Que idéia será que eles fizeram do que é cristianismo? Isso lá é forma de pregar?
Reconheço que é só “forma”, e não “função”. Exemplifico para explicar a diferença: função seria alimentar alguém, enquanto a forma pode ser verduras, legumes, lasanha, pizza ou churrasco. Mas mesmo sendo só forma, eu pergunto: por que alimentar alguém com comida intragável.
Lembro-me de uma palestra dada no colégio que eu estudava, proferida pelo escritor Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, na época já idoso, na qual ele falou e respondeu perguntas por quase 3 horas. E podia falar por mais 3 e todos gostariam.
Há pessoas que ao pregar podem falar horas seguidas e assim mesmo vale a pena lutar contra o cansaço. Paulo passou uma experiência forte:
“Um jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormecendo profundamente durante o prolongado discurso de Paulo, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo e foi levantado morto. Descendo, porém, Paulo inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a vida nele está. Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper da alva. E, assim, partiu. Então, conduziram vivo o rapaz e sentiram-se grandemente confortados.” (Atos 20:9-12)
Por fim, um versículo só para pensarmos:
“A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.” (Romanos 10:17)
Oi, Chico:
ResponderExcluirEste texto me fez lembrar dos pregadores que vinham até a entrada do HC, no pátio da lanchonete, onde se reuniam as pessoas que esperavam pelo transporte para suas cidades. Esses pregadores gritavam a Palavra de Deus, forçando os pacientes a serem mais pacientes ainda em ouvi-los. Algumas pregações tinham conteúdo, mas na maior parte...
Aí eu ficava pensando: Já não basta estar doente, depender do atendimento em hospital público, esperar a condução e ainda ter que ouvir, na maior parte das vezes: ameaças, ofensas a outras religiões, especialmente aos católicos, esquecendo-se de pregar o amor e a acolhida com os que sofriam.
E de lá os pregadores saíam, com suas consciências tranquilas de terem evangelizado!!
Lembrei-me disso para pensar em função e forma.
Beijo
Célia
Caríssimo,
ResponderExcluirEsse para mim é um dos pontos mais problemáticos das igrejas cristãs: a maneira como muitos lidam com a "autoridade" que adquirem por usarem da Palavra e sua relação com a "obediência" de seus seguidores. Infelizmente muitos líderes lidam de modo "deformado" através de um conteúdo que serve a interesses desumanizantes e dominadores...
Para mim essa perversão da relação entre a autoridade e aqueles que inocentemente e de coração aberto confiam é que é a verdadeira PEDOFILIA. Todo aquele que explora essa relação desigual entre o poder constituído e a inocência dos seguidores, de certa forma é pedófilo e precisa repensar e pedir perdão por suas práticas...
Paz,