terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL, LIXEIROS!

Quando eu era jovem, na época do Natal, costumava me juntar a um grupo de moças e rapazes cristãos para ensaiar algumas músicas natalinas. Cada um participava da ceia de Natal do dia 24 de dezembro com seus familiares, e depois saíamos para cantar nas casas de amigos e parentes. Como “cachê”, eles nos ofereciam algo para comer e beber. Sentíamos grande prazer em fazer isso, não só pela companhia da turma, mas também pelo carinho com que éramos recebidos por todos. Além disso, sempre havia a possibilidade de conhecer alguém interessante. Mas nossa maior motivação era realmente o clima natalino.
Numa dessas ocasiões, estávamos indo de carro de uma casa para outra, quando cruzamos com o caminhão de coleta de lixo. Assim que avistamos os lixeiros trabalhando, na noite de Natal, nós ingenuamente acenamos para eles e dissemos bem alto: “Feliz Natal a todos!”. Mas eles entenderam aquilo como uma provocação e começaram a nos ofender. Não os culpo por isso, pois a impressão que demos é que realmente estávamos nos divertindo às custas deles. Quando percebemos o mal-entendido, nos calamos imediatamente. Naqueles momentos de silêncio, fiquei meditando... Percebi então que muitas pessoas, por mais que queiram, não podem desfrutar de um “Feliz Natal”. Era o caso dos lixeiros: suas obrigações de trabalho os impediam de passar a noite de Natal ao lado de seus familiares e amigos.
Há situações em que as pessoas são obrigadas a passar as festas de Natal e Ano-Novo em um leito de hospital, ou em um asilo, ou até mesmo na prisão, e muitas vezes nem percebem a chegada do Natal. Em meu trabalho no Hospital das Clínicas da UNICAMP, sempre que se aproxima a época do Natal acontece a mesma coisa: diversas (digo “diversas” porque são realmente muitas) pessoas se caracterizam de Papai (ou Mamãe) Noel e vão andando pelos corredores distribuindo presentes às crianças internadas. Atitudes assim são muito importantes! Antes isso do que nada, já que a maioria das pessoas não faz esse tipo de coisa nem nessa época do ano! Mas, minha pergunta é: por que só no Natal? Obviamente não estou sugerindo que as pessoas vistam uma roupa vermelha, coloquem travesseiros na barriga, barba postiça, chapéu vermelho, botas pretas e saiam andando pelos corredores do hospital em pleno mês de junho.
O que gostaria de propor é uma atitude de amor bem mais abrangente. Não tenho certeza, mas acho que foi Millôr Fernandes quem fez o seguinte comentário: “Visitar uma favela uma vez por semana é chique, morar nela não”. O verdadeiro amor requer mais do que investimento de tempo, energia e dinheiro. Precisamos nos envolver com as pessoas e assumir um compromisso com elas. Foi essa a atitude de Cristo para conosco. Você é capaz de imaginar um amor maior do que este? Um envolvimento e comprometimento maior do que o próprio Deus ter se tornado homem para morrer por nós na cruz e levar nossos pecados?
Natal é isso: Deus se fazendo homem para pagar os nossos pecados.
No próximo Natal e ano novo, em vez de dar presentes às pessoas, dê um pouco de si mesmo a elas.

Um comentário:

  1. Caríssimo,

    Seu texto me fez pensar o quanto nossos valores são distorcidos. Os coletores de lixo fazem provavelmente um dos trabalhos mais importantes para nossa sociedade e, no entanto, são tão desprestigiados...
    Celebridades fúteis, globais, do futebol ou do que quer que seja, por outro lado são tão valorizadas.
    No final do ano passado o Boris Casoy fez um comentário muito infeliz sobre os garis, lembra?: "...do alto de suas vassouras...", que ilustra bem essa atitude geral.
    Por isso gostei tanto do título do seu texto:

    FELIZ NATAL, LIXEIROS...

    E que nossa atitude não faça parecer que estamos provocando ninguém.

    Paz,

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