Já tinha passado mais de uma hora. Tudo o que eu planejara fazer naquela tarde teria que ficar para o dia seguinte. Mas aquilo era mais importante. O paciente tinha acabado de chegar do centro cirúrgico e sofria de dores terríveis.
Era um rapaz forte, evangélico e havia levado um tiro. Quando saia da Igreja, não percebeu que de um lado estava a polícia e do outro alguns bandidos, em pleno tiroteio. Quando percebeu e saiu correndo, só viu a camisa estufando no peito (era uma bala que entrou pelas costas e saiu pela frente) e tudo ficou escuro.
Acordou no quarto, comigo ao seu lado. Ele transpirava muito, devido às dores. Logicamente ele não conseguia falar nada. Uma enfermeira aplicou um analgésico e eu segurei a sua mão. Com o tempo ele dormiu. Tentei tirar a mão mas, ele me segurou e não me soltou. Fiquei assim mais de uma hora, até que, bem de mansinho consegui me desvencilhar.
Dois dias depois teve alta e antes de ir embora mandou me chamar para agradecer o que fiz.
- Mas eu não fiz nada! - retruquei.
- Só de ficar de mãos dadas comigo você me fez sentir bem melhor!! Senti que Deus não tinha me abandonado enviando o Senhor para ficar comigo.
Às vezes eu tenho problema de consciência pensando que não trabalhei. De vez em quando eu passo quase que uma tarde inteira brincando com uma criança, outras eu levo horas conversando, ou melhor, "jogando conversa fora" com uma velhinha, ou então ouvindo um homem que não tem ninguém para visitá-lo.
A nossa sociedade avalia o valor de uma pessoa não pelo que ela é, mas pelo que ela produz, pelo tanto de atividades que ela faz. E cá entre nós, ficar brincando e conversando ... onde já se viu?
Mas eu estou lá para isso mesmo! É lógico que também evangelizo, dou aconselhamento, consolo, enfim, "trabalho", mas o principal é VIVER aquele momento com as pessoas. Se for preciso, de mãos dadas.
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