Foi numa sexta-feira, à tarde. Cheguei ao escritório da Capelania do HC e já fui chamado para ir até a UTI.
Me adiantaram que era a Roseli, uma garota com mais ou menos 18 anos e com um sorriso extremamente cativante. Ela estava em estado crítico e a mãe dela me esperava lá.
No caminho, por aqueles corredores frios, eu ia pensando em como a internação ressalta as características dos pacientes. Se o doente é uma pessoa amargurada, no hospital parece que se põe uma lente de aumento na amargura dele. O mesmo acontece se o paciente for doce: sua doçura parece ampliada.
A Roseli foi uma das pacientes mais doces que conheci.
Ela não era convertida (a mãe sim), veio de Belém do Pará para se submeter a um transplante de rim. Ficou se tratando, fazendo exames e testes por mais ou menos um ano aqui em Campinas; foi o tempo que durou nossa amizade. A família alugou uma casa perto do hospital.
Quando cheguei na UTI a equipe de enfermagem havia reservado uma sala, onde a mãe da Roseli me esperava. Assim que entrei ela segurou a minha mão e choramos juntos por um bom tempo.
Depois começamos a conversar. Foi ela quem falou primeiro: “Pastor, o senhor falou com a Roseli na terça-feira à tarde, ela já estava internada e sendo preparada para, finalmente, fazer o transplante. Naquela noite, após o jantar, ela me falou que não queria ver TV para pensar mais seriamente no que o senhor lhe havia falado a respeito de Jesus. Enquanto eu fui ver televisão ela ficou no quarto, lendo a Bíblia, relendo alguns folhetos que o senhor lhe deu, e conferindo algumas anotações feitas por ela. Eu voltei para o quarto para dormir e ela continuou lá. Bem mais tarde, já de madrugada, ela me acordou e contou que tinha decidido aceitar a Jesus como seu Senhor e Salvador!”. Depois de ela me contar isso, choramos um pouco e oramos agradecidos.
As coisas aconteceram assim: na terça, ela se converteu. Na quarta fez o transplante, na quinta seu estado piorou e na sexta-feira à tarde eu e a mãe dela conversávamos enquanto a Roseli estava no Centro Cirúrgico sendo atendida por uma equipe de médicos.
Embora aqueles momentos vividos naquela sala da UTI estivessem sendo um dos mais tristes da minha vida, também estavam sendo um dos mais felizes, pois tinha recebido a maravilhosa notícia da conversão da doce Roseli.
No momento em que víamos algumas fotos da Ro, o médico entrou para conversar.
- A Roseli está viva, mas muito mal mesmo! Ela teve uma parada cardíaca e eu tive que abrir o tórax dela, talvez quebrando 1 ou 2 costelas, e massageei o coração dela com a minha mão. Ela voltou, mas não dá para termos esperanças.
Pedro, o corajoso discípulo de Jesus, certa vez, quis andar sobre as águas como o seu mestre estava fazendo. Enquanto ele fixou o seu olhar e sua atenção em Jesus, Pedro realmente andou acima do mar, mas quando olhou para o vento e para as ondas, ou seja, para as circunstâncias adversas, começou a afundar e o Senhor teve que lhe estender a mão.
O médico afirmou que as circunstâncias da vida da Roseli eram críticas. Ele falou isso com um pesar imenso no coração, pois ele também gostava demais daquela garota.
Depois que o doutor saiu, a mãe dela e eu voltamos a olhar as fotos. Fizemos isso até receber a notícia da morte da doce Roseli.
No hospital, todo mundo que a conhecia ficou triste. Surpreendentemente, a mãe dela e eu não conseguíamos sentir tristeza.
Acho que Deus massageou os nossos corações nos dando uma viva esperança de rever a Roseli na Eternidade!
Xyko:
ResponderExcluiresta história é muito triste, mas muito linda e feliz ao mesmo tempo...
E a Roseli está lá...
Muito feliz!
Zezé.