quinta-feira, 4 de março de 2010

PEDIDO DE ASILO

O velhinho que estava na varanda da casa pergunta para um outro velhinho que está passando com uma vara de pesca na mão: “Vai pescar?”, e o outro responde “Não, vou pescar.” sendo que o da varanda comenta “Ah, pensei que você fosse pescar”.
Já disse e repito quantas vezes forem necessárias, pelo menos por enquanto: quando eu ficar mais velho, aposentado e dando mais trabalho do que dou hoje, ponham-me em uma instituição para acolhimento de idosos. Ou seja, um asilo para velhos.
Lá eu vou ter companhia sempre, refeições na hora certa, talvez alguém para jogar xadrez, vou ser cuidado, e não vou atrapalhar a vida de ninguém. Quem sentir saudades que vá até lá me ver. Se eu puder ter um computador conectado na INTERNET, aí vai ser uma maravilha, posso ler as notícias, jogar xadrez, mandar e receber mensagens eletrônicas, assistir cultos e tantas outras coisas.
Só uma dúvida eu tenho: será que em um asilo eu consigo fazer do meu lugar o “meu canto”? Sabe por que eu fiquei com essa dúvida? É por causa da experiência de uma ex-voluntária lá do HC-UNICAMP, hoje com 96 anos e que antes morava sozinha mas, devido a um acidente doméstico, agora está em um asilo. E me disseram que esse asilo é daqueles bem chiques. Pois não é que para todo mundo que vai lá ela fala que quer voltar para casa?! Por que será? Eu sei que a casa da gente “sempre é a casa da gente”. Será que em uma instituição não dá para nos sentirmos em casa? Note que há casas que parecem uma instituição!
Veja que lindo esse trecho da Bíblia:
“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem; como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Eclesiastes 12:1-7)
Esse é o provável caminho de todos.

2 comentários:

  1. Dá mesmo muito o que pensar...

    Acho que não concordo muito com você em querer ir para um asilo...
    Eu gostaria de ser cuidado por aqueles que me amam e que eu amo, meus parentes e amigos.
    Assim como uma criança que nasce é cuidada pelos pais (e que trabalho isso dá!), também os idosos deveriam ser cuidados pelos mais novos, de preferência os filhos... acredito que seja um dever de gratidão e reciprocidade...
    É difícil, sem dúvida, aceitar a limitação, a perda da autonomia, da memória... mas devemos acreditar que isso tudo não leva à perda da dignidade da pessoa.
    A dignidade do cuidador está em cuidar e a dignidade daquele que é cuidado está em aceitar esse mesmo cuidado.
    Quem cuida respeitando e amando realmente aquele que é cuidado, certamente não verá problema em ser cuidado no futuro...
    Como você disse, esse é o provável caminho de todos...


    Muita Paz,

    ResponderExcluir
  2. oi, Chico, esta é uma questão que, ultimamente, tem ocupado o meu pensamento. A ideia de se tornar um fardo, um peso, na vida daqueles que amamos é um dos nossos maiores medos. Eu costumo dizer ao meu marido (em tom de brincadeira, mas no fundo falando sério)que já acertei tudo com Deus: eu morro primeiro. E não se trata de um pedido altruísta não...é por egoísmo mesmo! Henri Nouwen (pra variar...) escreveu um livrinho precioso onde trata dessa questão do morrer e do cuidar. Ele diz: "Diante da morte, a verdadeira questão não diz respeito ao que ainda posso fazer ou que influência ainda posso ter sobre as pessoas, mas como posso viver de modo a continuar sendo fecundo mesmo quando não estiver mais aqui. Essa questão transfere a atenção do 'fazer' para o 'ser'. Nosso fazer produz sucesso, mas 'ser' gera frutos. O grande paradoxo de nossa vida é que estamos muito mais preocupados com o que fazemos ou ainda podemos fazer do que com o que somos. E o mais provável é que sejamos lembrados pelo que fomos. À medida que envelhecemos, temos duas opções a seguir: estamos simplesmente nos tornando pessoas menos capazes e nos preparando para deixar essa vida ou estamos nos transformando em exemplos vivos da graça maravilhosa de Deus? Jesus enfatizou várias vezes aos seus discipulos que o significado pleno de sua vida só seria revelado após a sua morte".

    ResponderExcluir