Ajuda-me na minha falta de fé! (Marcos 9:24b)
Em uma segunda-feira ele veio chorando pedir ajuda lá no escritório da Capelania do HC-UNICAMP. Seu nome, fictício é claro, é Hermínio. Tem 65 anos de idade. Contou-nos que sua mulher, Arminda, de 60 anos, estava internada e desenganada pelos médicos. Ela estava entubada e em coma. Segundo esse homem, ela estava desenganada para os médicos, mas não para Deus.
O que mais nos impressionou naquele primeiro contato com Seu Hermínio foi o grande amor que ele demonstrou sentir pela Dona Arminda.
Esse foi um caso que acompanhei passo a passo, indo visitá-los todos os dias.
Cristão fervoroso, ele costumava ir à Capela do Hospital para desabafar com Deus. Numa quinta-feira ele saiu de lá e veio direto para o escritório (uma de suas características era entrar na sala sem pedir licença e interromper qualquer coisa que estivéssemos fazendo). Entrou já falando que Jesus lhe havia falado que sua mulher ia sair do hospital viva e com saúde. Ele não perguntou a opinião de ninguém, afirmou aquilo e ponto final. Antes disso o Seu Hermínio vivia deprimido e meio desesperado, agora vivia alegre, animado e esperançoso.
Pois não é que, no dia seguinte, sexta-feira, ela melhorou, saiu do coma, tiraram o tubo, ela conversou conosco e começou a se recuperar?! Está certo que os médicos não descartaram a possibilidade de uma recaída, mas a melhora foi visível. Confesso que fiquei cético.
Na segunda-feira, estávamos trabalhando ali no escritório quando ele invadiu a sala e pediu: “Alguém pode me levar até o Pronto Socorro? Eu acho que estou tendo um enfarte”. Na mesma hora eu o levei, peguei o elevador avisando a ascensorista que era urgente, segui por aqueles corredores enormes, quando entrei no PS já visei a técnica que estava no Posto de Enfermagem e já o colocaram em uma maca e o levaram para a sala de emergências. Não era enfarte. Foi uma consequência de toda a tensão experimentada por aquele pobre homem. Por cautela os médicos o deixaram internado em observação por 24 horas.
Passaram-se alguns dias e a Dona Arminda começou a ficar confusa e a ter uma piora no seu estado. Um dia ela voltou a ficar em coma e na noite desse mesmo dia ela morreu. Como foi à noite eu não estava com eles, portanto não sei como o seu Hermínio se comportou.
Quanto à declaração de que Jesus iria curá-la, eu entendo. Foi fruto do desespero.
Interessante, eu já acredito que não foi desesperança, pelo contrário, ele tinha uma esperança danada que a esposa não morreria, o que de fato não aconteceu naquele momento...
ResponderExcluirPor outro lado, havia o tempo todo um processo de negação da morte, uma certa expectativa de que Deus não deixaria morrer aquela que lhe parecia uma pessoa justa (chega à beira da ilusão...). Nosso maior desafio pode ser a aceitação da "morte do justo", ou o sofrimento nosso, que também nos consideramos "justos"! Se isso acontecer, Deus é que é injusto... isso tudo pode dar "uma dor enorme no nosso coração", até um enfarte mesmo...
Nessa hora devemos pedir a Deus muita força para aceitarmos seus desígnios, para sermos "abnegados" (ab, afastamento, afastamento da negação) e realmente acreditarmos no poder transcendente do Amor...
Não é fácil...
Paz,