DESPEDIDAS

Ainda ontem comentei esse assunto com a Natália, nossa mais nova voluntária.
O fato é que às vezes eu fico triste quando um paciente tem alta do HC-UNICAMP. É verdade! É uma mescla de alegria e de tristeza. Alegria pela recuperação da saúde e tristeza pela separação, a qual, na maior parte das vezes é definitiva.
Isso acontece porque em muitos casos, a partir de um certo ponto, já não é mais um paciente a ser atendido, é um encontro com um amigo. São pacientes que ficam meses no hospital.
Lembro-me agora, com muita saudade, de uma senhora bem idosa, que punha uma cadeira no corredor da enfermaria, bem em frente ao seu quarto e, segundo ela, ficava me esperando. Quando chegava, eu estacionava a minha cadeira de rodas ao seu lado e ficávamos muito tempo conversando. Um dia ela me deu uma bronca:
- Hoje você chegou mais tarde. Posso saber por que?
Conversávamos sobre tudo, mas o que eu mais gostava era ouvir sobre como era a vida lá no sítio onde ela morava. Galinhas, patos, marrecos, porcos, cuidar desses animais era o seu trabalho e a sua única diversão. Enquanto ela estava internada, outros se incumbiram da criação.
Lembro-me ainda, e também com saudades, da Bruna, garota de 9 anos. Um dia entrei em seu quarto e ali estava um jogo montadinho, pronto para ser jogado. Quando vi aquilo, perguntei:
- Com quem você vai jogar?
- Com você, ué! Só estava esperando você chegar.
E há ainda aqueles com quem fazemos estudos bíblicos quase todos os dias durante um tempão.
Cada um desses amigos que recebem alta e vão embora, quando vai leva um pedaço de mim. Isso deixa um vazio no coração da gente que dói muito!
Há quem me aconselhe a não me envolver tanto. Mas, não é essa a essência do verdadeiro amor?
É justamente para isso que estou lá.
E você? Tem feito amigos? Escreva-me falando sobre eles.