segunda-feira, 4 de maio de 2009

AMIGOS


“Amigo é coisa prá se guardar/debaixo de 7 chaves/dentro do coração ... “ (Canção da América, M. Nascimento)
Naquela época nós tínhamos aulas aos sábados. E foi em um desses dias que eu conheci o São Carlos. O nome dele é Antônio, mas o chamávamos pelo nome da cidade de onde ele veio. Naquele dia, o garoto que me levava para a escola teve um convite para acompanhar até em casa a garota pela qual ele estava apaixonado. E como é que ele iria empurrar a minha cadeira-de-rodas e paquerar a menina? Ia ficar muito chato para eles e para mim.
Nisso o São Carlos, aluno novo na escola, se ofereceu para me empurrar até em casa. Eu não sabia, mas naquele dia eu estava ganhando o que a vida pode nos dar de mais precioso: um amigo.
Em casa, ele conheceu minha família, meu gato, tomou lanche conosco, assistiu um jogo de futebol comigo pela televisão e conversamos muito, e foi nesse papo que ele me contou da sua paixão por aviões. Ao ir embora ele se ofereceu para na segunda-feira me levar para a escola. E assim combinamos.
Na segunda, lá estava ele, e com um presente para mim: um desenho feito por ele de um gato usando um capacete de aviador sentado no cockpit de um avião de caça. No desenho ele uniu o imenso gosto que tenho por gatos e a sua paixão pela aviação.
Depois disso ele passava mais tempo na minha casa do que na dele. Conversávamos sobre tudo, não havia segredo entre nós, “O olhar de amigo alegra ao coração.” (Provérbios 15:30); muitas vezes chorávamos juntos, “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.” (Provérbios 17:17); nos bastávamos, “O homem que tem muitos amigos sai perdendo; mas há amigo mais chegado do que um irmão.” (Provérbios 18:24) e principalmente crescíamos juntos, “Como o óleo e o perfume alegram o coração, assim, o amigo encontra doçura no conselho cordial.” (Provérbios 27:9) e “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo.” (Provérbios 27:17)
A vida, cheia de bifurcações, nos separou. Ele ainda faz a parte dele me escrevendo de vez em quando, enquanto eu, que sou um grande cabeça de pudim, sou relapso.
Que saudades que deu!

Um comentário:

  1. Caríssimo,

    Belo texto. Você me fez pensar que um bom amigo é o contrário do chato. E "chato é aquele que nos priva da solidão sem nos fazer companhia..."

    Paz

    Venâncio

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