sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
O VIZINHO
Foi há muito tempo que isso aconteceu. De uma hora para outra, coisas estranhas começaram a ocorrer nas imediações de onde morávamos e até mesmo em casa. No bairro, começaram a serem roubados dos jardins e quintais, objetos tais como bicicletas, mangueiras, roupas, bujões de gás, coisas assim. Em casa, além de uns pequenos roubos (vasos, produtos de limpeza, caixa de ferramentas), o chuveiro simplesmente estourou e pegou fogo no momento em que foi ligado e outro acontecimento, o mais assustador de todos, aconteceu certa noite ... não, essa história merece um parágrafo novo.
Certa noite, quando a Denise e eu chegamos em casa, eu ouvi (ouvi mesmo, não foi impressão) um suspiro. Alto, forte e grosso como se fosse de um homem. Falei para a De que eu entraria, e entrei. Enquanto lá fora ela abria o portão para uma fuga rápida caso fosse necessária, fui cômodo por cômodo, acendendo a luz, olhando atentamente, orando, tremendo e suando. Quando acendi a luz do meu quarto, último lugar a ser visto, algo se mexeu na parede. Era uma lagartixa. Se naquele momento eu tivesse um revólver e boa pontaria, aquela lagartixa teria morrido com 6 tiros.
A princípio nós não nos demos conta disso, mas todas essas coisas começaram a acontecer a partir do dia em que uma determinada família se mudou para a casa que ficava em frente da minha (na ocasião nós morávamos em uma casa de fundos). O pai daquela família era viciado em drogas e macumbeiro. Só soubemos disso mais tarde.
Determinada noite eles nos convidaram para irmos à casa deles para jogar WAR (um desses jogos de tabuleiro). Fomos. Era mais fácil entrar com a minha cadeira de rodas pelos fundos da casa e assim o fizemos. Em um dos cantos do quintal havia uma pequena estátua representando um “preto velho” iluminada por uma vela, só não lembro se era preta ou vermelha. Embaixo da estátua havia alguns papéis dobrados. Será que eram nomes de pessoas escritos ali? Se sim, será que nossos nomes estavam ali? Tudo isso me ocorreu na ocasião.
Logo que entramos, eu tive uma sensação horrível: parecia que algo se enrolara em meu pescoço, como um cachecol, mas não havia nada, era só uma sensação. Lanchamos, jogamos e saímos, e só aí é que o “cachecol” saiu do meu pescoço. A Denise me disse que também sentiu algo parecido.
Evangelizamos aquela família, mas eles não se converteram, pelo menos até onde eu sei.
Os nossos problemas cessaram a partir do momento em que eles se mudaram para outro bairro.
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar;” (1 Pedro 5:8)
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
PERGUNTAS QUE NÃO SÃO FEITAS
Imagine a seguinte situação: uma determinada Igreja procura por um novo pastor; reunida, faz uma entrevista com um dos candidatos. Nessas ocasiões, a nossa tendência é fazer e valorizar perguntas tais como as que se seguem:
Você acredita na literalidade de Gênesis, capítulos 1 a 11?
Quais são as correntes escatológicas existentes e em qual você crê?
Se um irmão é disciplinado e, não se arrependendo, é excluído do rol de membros da Igreja da qual você seria o pastor, e esse irmão entra na justiça comum e o juiz determina que ele seja aceito de volta, o que você faria?
Você é dispensacionalista? Cite as 7 dispensações.
Você é calvinista ou arminista?
O que acontece primeiro, a salvação ou a regeneração?
Quero então registrar algumas perguntas que nunca vi serem feitas, e eu mesmo falhei em não perguntar, mas as quais considero fundamentais:
Como é o seu relacionamento com Deus?
Você tem comunhão com Ele?
Você tem um encontro diário com Deus? Compartilhe como isso acontece.
E por fim, qual a sua capacidade de amar?
“Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino. Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas, se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada.” (1 Coríntios 13:1-3 NTLH)
Você acredita na literalidade de Gênesis, capítulos 1 a 11?
Quais são as correntes escatológicas existentes e em qual você crê?
Se um irmão é disciplinado e, não se arrependendo, é excluído do rol de membros da Igreja da qual você seria o pastor, e esse irmão entra na justiça comum e o juiz determina que ele seja aceito de volta, o que você faria?
Você é dispensacionalista? Cite as 7 dispensações.
Você é calvinista ou arminista?
O que acontece primeiro, a salvação ou a regeneração?
Quero então registrar algumas perguntas que nunca vi serem feitas, e eu mesmo falhei em não perguntar, mas as quais considero fundamentais:
Como é o seu relacionamento com Deus?
Você tem comunhão com Ele?
Você tem um encontro diário com Deus? Compartilhe como isso acontece.
E por fim, qual a sua capacidade de amar?
“Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino. Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas, se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada.” (1 Coríntios 13:1-3 NTLH)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
MENTE QUE NEM SENTE
A enfermeira falou para o paciente recolher uma amostra de urina. O tal paciente não era mais jovem, devia ter em torno de 40 anos, pai de 2 filhos. Aquele homem pegou o recipiente, foi ao banheiro, voltou alguns minutos depois, entregou o material para a enfermeira e se deitou. A moça fez algumas anotações, pegou o material e saiu. Assim que ela foi embora o paciente me contou que ao fazer o xixi no frasco ele achou que era pouca a quantidade para o exame e, com medo de levar bronca da enfermeira, completou com água da torneira!
Contei isso para lembrar que podemos mentir sobre tudo. Provavelmente a adulteração foi descoberta no laboratório, não sei, mas é bem possível pois todos sabemos (não só em teoria mas também na prática) que a mentira tem perna curta. Apesar disso há muita gente por aí que, como dizia minha avó, “mente que nem sente”.
Observe agora essa frase de Elbert Hubbard: “A mentira é um triste substituto da verdade, porém é o único descoberto até agora”. Em outras palavras, a mentira aparece facilmente, enquanto a verdade só é conhecida com muito esforço. Mas qual a razão disso? Acredito que é porque o nosso inimigo (e todos que com ele se alinham) tem muito interesse em que a mentira seja revelada e um interesse ainda maior em que a verdade fique oculta. Por que? Porque ele é o pai da mentira e Jesus é a verdade.
“Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (João 8:44)
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6)
“Se for para mim o telefonema, diz que não estou”.
“A mamãe só vai até ali e já volta”.
“Amanhã eu pago”.
“O peixe que pesquei era maior do que essa geladeira”.
Frases assim são proferidas com muita frequência por alguns que afirmam que andam pelo caminho, dizem que conhecem a verdade e garantem que possuem uma nova vida.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
UMA CARTA DE ESPERANÇA
Minha querida, todas as mensagens que você me manda trazem um pequeno toque de como tem sido difícil sua vida. Problemas de saúde, sub-empregos, solidão, morar sozinha em quartos alugados, dinheiro contadíssimo, fome você não passou, mas sofreu muita vontade de comer uma coisinha gostosa e diferente, saudades da família, isso e outras coisas mais teem sido sua vida.
Fico contente por isso. Quer saber por que? Estou lendo um livro de W. S. Maugham, “Servidão Humana” em que o personagem principal, Philip, passa 2 anos de extrema pobreza, tendo inclusive passado 2 noites ao relento. Depois que se recupera, entende que esse período o ajudou a “aliviar a dor de viver”. Como o autor não é cristão, o viver se caracteriza pela dor, mas assim mesmo reconhece o valor do sofrer.
Isso é bíblico:
“(...) Nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5:3-5)
Tiago vai um pouco mais profundamente, exortando-nos a nos alegrar com as provações:
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.” (Tiago 1:2-3)
Quando digo para alguns pacientes que é possível, no futuro, agradecer pelas dificuldades que naquele momento ele passa, alguns discordam veementemente, e uns poucos até reagem grosseiramente. Graças a Deus há muitos que fazem do sofrimento uma oportunidade de aprendizagem e crescimento. Já disse diversas vezes e repito: se não aprendermos com o sofrimento, fica só o sofrimento. Como alguém disse muito bem, “Pior que o sofrimento, é o sofrimento inútil”.
Que conselho posso então lhe dar? Aproveite, aprenda, alegre-se. Você não vai se arrepender.
Fico contente por isso. Quer saber por que? Estou lendo um livro de W. S. Maugham, “Servidão Humana” em que o personagem principal, Philip, passa 2 anos de extrema pobreza, tendo inclusive passado 2 noites ao relento. Depois que se recupera, entende que esse período o ajudou a “aliviar a dor de viver”. Como o autor não é cristão, o viver se caracteriza pela dor, mas assim mesmo reconhece o valor do sofrer.
Isso é bíblico:
“(...) Nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5:3-5)
Tiago vai um pouco mais profundamente, exortando-nos a nos alegrar com as provações:
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.” (Tiago 1:2-3)
Quando digo para alguns pacientes que é possível, no futuro, agradecer pelas dificuldades que naquele momento ele passa, alguns discordam veementemente, e uns poucos até reagem grosseiramente. Graças a Deus há muitos que fazem do sofrimento uma oportunidade de aprendizagem e crescimento. Já disse diversas vezes e repito: se não aprendermos com o sofrimento, fica só o sofrimento. Como alguém disse muito bem, “Pior que o sofrimento, é o sofrimento inútil”.
Que conselho posso então lhe dar? Aproveite, aprenda, alegre-se. Você não vai se arrepender.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
AMNÉSIA
Não sei se vou lembrar para contar mas, conhece a piada do homem que se esquecia de tudo e que começava a falar um negócio e da próxima vez você corta o doce ao meio e eu escolho a camisa que vou usar.
UMA MÚSICA QUE ME INFLUENCIOU
No grupo de jovens onde me converti, ALVO DA MOCIDADE, nós cantávamos uma música que influenciou toda a minha vida espiritual. Não sei quem é o autor. A letra era assim, sendo que nós a cantávamos primeiro em português e depois em inglês: “Leia a Bíblia e faça oração (...)/se quiser crescer/read your Bible day every day (...)/if you want to grow”. Digo que teve uma influência profunda porque segui tal determinação e devo muito do meu crescimento a isso.
O crescimento ali preconizado é espiritual, um progresso no conhecimento de Deus e no consequente estreitamento das relações com nosso Senhor, tudo isso movido pelo Espírito Santo. Dá certo, pode acreditar.
Mas confesso que fazer a minha “Hora Silenciosa”, que é como chamávamos em ALVO o tempo devocional diário, exigia muita disciplina e força de vontade. Devido a isso, conheço pouquíssimas pessoas que tenham um tempo diário de leitura da Bíblia e oração.
Hoje para mim essa prática é meu maior prazer. Quero fazer isso a toda hora, e quando dá eu faço mesmo. É como ter um amigo daqueles que queremos estar junto o mais possível e com quem os assuntos jamais se esgotam.
E quer saber de uma coisa? Descobri que Deus também quer, e com certeza mais do que eu quero. Por que eu? Não sei.
“Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24)
É claro que é com temor, confiança reverente, pois Deus é Deus.
“A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.” (Salmos 25:14 RA)
Veja também essa outra versão:
“O SENHOR Deus é amigo daqueles que o temem e lhes ensina as condições da aliança que fez com eles.” (Salmos 25:14 NTLH)
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
A LEI E A GRAÇA
Foi um retiro espiritual muitíssimo proveitoso. Ele aconteceu no Mosteiro de São Bento, em Vinhedo, há muito tempo. No meio de um pequeno bosque há uma casa, até que razoavelmente espaçosa, e nessa casa levei uns 15 jovens. O programa era simples, pois eles tinham só que fazer a paráfrase, ou seja, escrever com suas próprias palavras, o seguinte versículo:
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” (2 Crônicas 7:14)
Pensando bem, não era tão simples assim. Tinham que estudar todo o contexto desse verso, palavra por palavra, suas implicações e aplicações práticas para hoje. Para isso levei uma pilha enorme de comentários e dicionários bíblicos. Durante 3 dias eles trabalharam em equipe, 3 horas de manhã, 3 horas à tarde, e as noites eram livres para fazer uma parte social.
Se pudesse fazer isso de novo eu o faria, só que com uma modificação. Seria um acréscimo. Para fugir um pouco da tendência que, penso eu, nós evangélicos temos de nos ocuparmos muito mais com o Velho Testamento do que com o Novo, eu poria mais um versículo para ser parafraseado. Esse:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 João 1:9)
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
OLHOS ABERTOS
Acho que foi em um almoço de domingo, em minha casa. Ao acabarmos de orar a Letícia, minha neta por opção, que na época devia ter uns 4 ou 5 anos, e que me chama até hoje de Tô, observou: “O Tô não fechou os olhos para orar”. Para me ver orando de olhos abertos ela também estava.
Por que oramos de olhos fechados?
Jesus também orava de olhos abertos:
“Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste.” (João 11:41)
“Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti,” (João 17:1)
Pode ser que Ele também orasse de olhos fechados, eu acredito que sim, mas temos aí registradas pelo menos duas ocasiões em que nosso Senhor orou de olhos abertos.
Volto a perguntar: por que oramos de olhos fechados? Obviamente para termos uma maior concentração.
Lá no HC-UNICAMP, quando oro com os pacientes, costumo fazê-lo de olhos abertos. Já aconteceu de estarmos orando de olhos fechados e o doente vomitar inesperadamente; ou o inimigo se manifestar; ou entrar alguém da equipe de enfermagem, ou visita. É por essa razão que prefiro estar vendo atentamente o que acontece à nossa volta.
Quando estou em contato com a natureza também gosto de olhar animais, plantas, o céu, o mar ... Tudo me inspira a louvar a Deus.
Eu poderia comentar de alguns que oram com os olhos fechados para dar aos outros uma falsa idéia de espiritualidade, mas como isso não é da minha conta, não o farei.
DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL de Frei Beto
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”.
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?”. Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”.
Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não, retrucou ela, tenho tanta coisa de manhã... “. “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: Que pena! A Daniela não disse: `Tenho aula de meditação!'.
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: `Como estava o defunto?'. `Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questo da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é `entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: `Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje no Brasil, constrói-se um shopping center.
É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros a som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus; se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório; mas se não pode comprar certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonalds...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: `Estou apenas fazendo um passeio socrático'. Diante de seus olhares espantados, explico: `Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!".
(Frei Betto)
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?”. Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”.
Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não, retrucou ela, tenho tanta coisa de manhã... “. “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: Que pena! A Daniela não disse: `Tenho aula de meditação!'.
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: `Como estava o defunto?'. `Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questo da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é `entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: `Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje no Brasil, constrói-se um shopping center.
É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros a som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus; se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório; mas se não pode comprar certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonalds...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: `Estou apenas fazendo um passeio socrático'. Diante de seus olhares espantados, explico: `Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!".
(Frei Betto)
sábado, 13 de fevereiro de 2010
PENSE NISSO 96
Há autores que em dados momentos são demoníacos, mas na maior parte das vezes são geniais. Desses, não gosto nem concordo com tudo o que publicam, mas gosto de ler tudo o que escrevem.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
MEU REI
“Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser crucificado. Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate; tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça. Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado.” (Mateus 27:26-31)
Aqueles soldados estavam diante do Rei do Universo! Eles não sabiam o que estavam fazendo. Se soubessem ...!
Às vezes estamos na mesma situação. Nós sabemos que Jesus é o Rei do Universo, mas será que não fazemos uma paródia do Cristo como nosso Rei? Podemos ser soldados escarnecedores, súditos fiéis, cortesões bajuladores, escravos de outros, filhos do Rei.
Como temos nos colocado diante de nosso Senhor? Não estou querendo trilhar aqui o caminho obscuro muitas vezes ensinado que devemos estar (ou sermos!) santos para nos colocarmos diante do Deus 3 vezes Santo. Inácio de Loyola nos ensina que podemos e devemos nos colocar a Seus pés tal como somos e estamos.
Deus é amor:
“E nós mesmos conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nesse amor. Deus é amor. Aquele que vive no amor vive unido com Deus, e Deus vive unido com ele. Assim o amor em nós é totalmente verdadeiro para que tenhamos coragem no Dia do Juízo, porque a nossa vida neste mundo é como a vida de Cristo. No amor não há medo; o amor que é totalmente verdadeiro afasta o medo. Portanto, aquele que sente medo não tem no seu coração o amor totalmente verdadeiro, porque o medo mostra que existe castigo. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro.” (1 João 4:16-19 NTLH)
Se nós imaginamos Deus cujo poder é militar e que está de olho só para punir todos nossos erros, ao vislumbrarmos que “ELE É AMOR” nos decepcionamos, colocamos em suas mãos um cetro de bambu, um trapo à guiza de manto e uma coroa de espinhos. E sarcasticamente nos ajoelhamo diante d'Ele.
Tal como você é e está, volte-se para Ele. Ele tem todo o amor por você.
Aqueles soldados estavam diante do Rei do Universo! Eles não sabiam o que estavam fazendo. Se soubessem ...!
Às vezes estamos na mesma situação. Nós sabemos que Jesus é o Rei do Universo, mas será que não fazemos uma paródia do Cristo como nosso Rei? Podemos ser soldados escarnecedores, súditos fiéis, cortesões bajuladores, escravos de outros, filhos do Rei.
Como temos nos colocado diante de nosso Senhor? Não estou querendo trilhar aqui o caminho obscuro muitas vezes ensinado que devemos estar (ou sermos!) santos para nos colocarmos diante do Deus 3 vezes Santo. Inácio de Loyola nos ensina que podemos e devemos nos colocar a Seus pés tal como somos e estamos.
Deus é amor:
“E nós mesmos conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nesse amor. Deus é amor. Aquele que vive no amor vive unido com Deus, e Deus vive unido com ele. Assim o amor em nós é totalmente verdadeiro para que tenhamos coragem no Dia do Juízo, porque a nossa vida neste mundo é como a vida de Cristo. No amor não há medo; o amor que é totalmente verdadeiro afasta o medo. Portanto, aquele que sente medo não tem no seu coração o amor totalmente verdadeiro, porque o medo mostra que existe castigo. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro.” (1 João 4:16-19 NTLH)
Se nós imaginamos Deus cujo poder é militar e que está de olho só para punir todos nossos erros, ao vislumbrarmos que “ELE É AMOR” nos decepcionamos, colocamos em suas mãos um cetro de bambu, um trapo à guiza de manto e uma coroa de espinhos. E sarcasticamente nos ajoelhamo diante d'Ele.
Tal como você é e está, volte-se para Ele. Ele tem todo o amor por você.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
APERTEM OS CINTOS PORQUE PARECE QUE O PILOTO SUMIU
Sexta-feira passada fui ao casamento do filho de um amigo e irmão. Esse rapaz ia se casar no meio desse ano, mas a firma fez uma proposta para ele mudar e trabalhar na Europa, mas ele teria que ir agora, então o casamento foi adiantado. Pois não é que ele foi despedido na quinta-feira, véspera do casamento?!
Agora, observe o que aconteceu, sábado passado, em uma cidade do Rio Grande do Sul. Um rapaz estava indo para o seu próprio casamento e, no carro que o levava para a igreja onde se realizaria a cerimônia, ele teve um ataque de asma, foi levado para um hospital, onde morreu!
Diante dessas duas histórias fiquei meditando algumas coisas. A primeira, é óbvio, antes perder o emprego do que a vida.
E depois outra coisa; podemos estar com muitos planos, mas a realização dos mesmos depende totalmente de Deus.
“O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos.” (Provérbios 16:9)
Agora pensa comigo: existem muitos momentos na vida da gente em que fazemos tudo certinho, confiamos real e totalmente em Deus e sem esperarmos, vem um desastre. Como reagir então? Há um texto que por diversas vezes já me ajudou. Leia.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3:17-18)
É interessante ficarmos remoendo isso na cabeça: “eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação”.
Agora, observe o que aconteceu, sábado passado, em uma cidade do Rio Grande do Sul. Um rapaz estava indo para o seu próprio casamento e, no carro que o levava para a igreja onde se realizaria a cerimônia, ele teve um ataque de asma, foi levado para um hospital, onde morreu!
Diante dessas duas histórias fiquei meditando algumas coisas. A primeira, é óbvio, antes perder o emprego do que a vida.
E depois outra coisa; podemos estar com muitos planos, mas a realização dos mesmos depende totalmente de Deus.
“O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos.” (Provérbios 16:9)
Agora pensa comigo: existem muitos momentos na vida da gente em que fazemos tudo certinho, confiamos real e totalmente em Deus e sem esperarmos, vem um desastre. Como reagir então? Há um texto que por diversas vezes já me ajudou. Leia.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3:17-18)
É interessante ficarmos remoendo isso na cabeça: “eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação”.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
ADÍLSON
Certa tarde, eu percorria um dos corredores do Hospital das Clínicas da UNICAMP quando fui abordado por uma fisioterapeuta que me fez a seguinte pergunta: — Você já orou pelo Adilson, o paciente que está no quarto 25?
— Não —, respondi. –- Por quê? Ele está precisando de oração? (Que pergunta tola! Quem não precisa?)
— Sim, e de muita oração — respondeu ela. — Ele sofreu um trauma neurológico irreversível.
Eu não sabia exatamente o que ela queria dizer com “trauma neurológico irreversível”, mas sabia da gravidade do problema, por isso fui imediatamente até o quarto 25. Assim que entrei, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a grande quantidade de aparelhos em volta do leito. Ao chegar mais perto percebi que esses aparelhos estavam conectados ao paciente, que parecia estar dormindo. Ele respirava através de um tubo introduzido em sua traquéia por uma traqueostomia, e recebia alimento por meio de sondas. Durante todo o tempo ele era monitorado por vários aparelhos, que informavam imediatamente qualquer alteração em seu estado.
Posteriormente, fiquei sabendo um pouco do que havia acontecido com aquele rapaz. Ele havia se submetido a uma cirurgia no estômago, mas algo saiu errado durante os procedimentos cirúrgicos, provocando uma parada respiratória. Durante cinco minutos seu cérebro ficou sem oxigenação, o que causou a destruição de alguns neurônios (células do cérebro cuja perda é irreversível), gerando então o tal de "trauma neurológico irreversível". Resumindo: ele estava condenado a permanecer naquele estado para o resto da vida!!
Logo após essa visita, fui até o escritório do Serviço de Capelania e compartilhei com a secretária, Célia, o quanto essa experiência havia me impressionado. Depois de ouvir atentamente, ela me perguntou:
— Você orou com ele em voz alta?
— Não — respondi. — Orei silenciosamente, por quê?
— Porque é bem possível que pessoas em estado de coma sejam capazes de ouvir.
Fiquei admirado, pois não tinha idéia dessa possibilidade.
— Quando você for visitá-lo novamente, converse com ele e ore em voz alta — ela sugeriu.
No dia seguinte, lá fui eu visitar o Adilson. A não ser pelo fato de estar virado para o outro lado, ele permanecia do mesmo jeito. Pedi então à pessoa que me acompanhava na visita (a minha filha Cíntia, que na época era estudante de enfermagem) que fechasse a porta do quarto. Aproximei-me da cama, e comecei a falar com ele. Primeiramente me apresentei, e em seguida expliquei que gostaria de ler um texto bíblico e orar com ele.
Enquanto eu falava, o Adilson começou a ficar agitado. Sua respiração ficou um pouco mais acelerada e os aparelhos começaram a apitar. Aquilo me deixou assustado, e mais que depressa olhei para a Cíntia, que me tranqüilizou dizendo:
— Calma, está tudo bem. Ele está ouvindo!
Por mais incrível que pareça, ELE ESTAVA ME OUVINDO!! Durante vários dias pude falar àquele rapaz sobre o amor de DEUS, ler a Bíblia e orar com ele.
Até que certo dia, ao entrar no quarto para minha visita costumeira, notei que havia algumas pessoas com ele. Eram os pais do Adilson que tinham vindo visitá-lo. Seus rostos estampavam uma enorme tristeza. Após uma breve hesitação, resolvi me apresentar e contar das minhas visitas ao filho deles. Os pais do Adilson reagiram de forma extremamente positiva, dando-me a excelente oportunidade de lhes falar do amor de Deus por seu filho e por eles. Depois de ler um trecho das Escrituras, orei com eles e por eles. Antes de nos despedirmos, entreguei-lhes alguns folhetos evangelísticos e fui para casa, feliz da vida.
Na semana seguinte, tive outra oportunidade de encontrá-los, só que desta vez a irmã do Adilson também participou da conversa. Pude falar também a ela do maravilhoso amor que DEUS tem por cada um de nós. Enquanto eu falava com os pais e com a irmã do Adilson, ele dava sinais de que estava ouvindo. Isso tudo fez com que eu me sentisse extremamente feliz.
Passados alguns dias, assim que entrei no quarto 25 tive uma surpresa: havia outro paciente na cama. Fui até o posto de enfermagem para tentar saber o que estava acontecendo, e recebi a notícia de que o Adilson havia morrido. Meu trabalho estava encerrado, pensei.
No fim daquele dia, ao me preparar para deixar o hospital, fiquei pensando se o Adilson e sua família teriam realmente se convertido... Com certeza só terei essa resposta na eternidade.
— Não —, respondi. –- Por quê? Ele está precisando de oração? (Que pergunta tola! Quem não precisa?)
— Sim, e de muita oração — respondeu ela. — Ele sofreu um trauma neurológico irreversível.
Eu não sabia exatamente o que ela queria dizer com “trauma neurológico irreversível”, mas sabia da gravidade do problema, por isso fui imediatamente até o quarto 25. Assim que entrei, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a grande quantidade de aparelhos em volta do leito. Ao chegar mais perto percebi que esses aparelhos estavam conectados ao paciente, que parecia estar dormindo. Ele respirava através de um tubo introduzido em sua traquéia por uma traqueostomia, e recebia alimento por meio de sondas. Durante todo o tempo ele era monitorado por vários aparelhos, que informavam imediatamente qualquer alteração em seu estado.
Posteriormente, fiquei sabendo um pouco do que havia acontecido com aquele rapaz. Ele havia se submetido a uma cirurgia no estômago, mas algo saiu errado durante os procedimentos cirúrgicos, provocando uma parada respiratória. Durante cinco minutos seu cérebro ficou sem oxigenação, o que causou a destruição de alguns neurônios (células do cérebro cuja perda é irreversível), gerando então o tal de "trauma neurológico irreversível". Resumindo: ele estava condenado a permanecer naquele estado para o resto da vida!!
Logo após essa visita, fui até o escritório do Serviço de Capelania e compartilhei com a secretária, Célia, o quanto essa experiência havia me impressionado. Depois de ouvir atentamente, ela me perguntou:
— Você orou com ele em voz alta?
— Não — respondi. — Orei silenciosamente, por quê?
— Porque é bem possível que pessoas em estado de coma sejam capazes de ouvir.
Fiquei admirado, pois não tinha idéia dessa possibilidade.
— Quando você for visitá-lo novamente, converse com ele e ore em voz alta — ela sugeriu.
No dia seguinte, lá fui eu visitar o Adilson. A não ser pelo fato de estar virado para o outro lado, ele permanecia do mesmo jeito. Pedi então à pessoa que me acompanhava na visita (a minha filha Cíntia, que na época era estudante de enfermagem) que fechasse a porta do quarto. Aproximei-me da cama, e comecei a falar com ele. Primeiramente me apresentei, e em seguida expliquei que gostaria de ler um texto bíblico e orar com ele.
Enquanto eu falava, o Adilson começou a ficar agitado. Sua respiração ficou um pouco mais acelerada e os aparelhos começaram a apitar. Aquilo me deixou assustado, e mais que depressa olhei para a Cíntia, que me tranqüilizou dizendo:
— Calma, está tudo bem. Ele está ouvindo!
Por mais incrível que pareça, ELE ESTAVA ME OUVINDO!! Durante vários dias pude falar àquele rapaz sobre o amor de DEUS, ler a Bíblia e orar com ele.
Até que certo dia, ao entrar no quarto para minha visita costumeira, notei que havia algumas pessoas com ele. Eram os pais do Adilson que tinham vindo visitá-lo. Seus rostos estampavam uma enorme tristeza. Após uma breve hesitação, resolvi me apresentar e contar das minhas visitas ao filho deles. Os pais do Adilson reagiram de forma extremamente positiva, dando-me a excelente oportunidade de lhes falar do amor de Deus por seu filho e por eles. Depois de ler um trecho das Escrituras, orei com eles e por eles. Antes de nos despedirmos, entreguei-lhes alguns folhetos evangelísticos e fui para casa, feliz da vida.
Na semana seguinte, tive outra oportunidade de encontrá-los, só que desta vez a irmã do Adilson também participou da conversa. Pude falar também a ela do maravilhoso amor que DEUS tem por cada um de nós. Enquanto eu falava com os pais e com a irmã do Adilson, ele dava sinais de que estava ouvindo. Isso tudo fez com que eu me sentisse extremamente feliz.
Passados alguns dias, assim que entrei no quarto 25 tive uma surpresa: havia outro paciente na cama. Fui até o posto de enfermagem para tentar saber o que estava acontecendo, e recebi a notícia de que o Adilson havia morrido. Meu trabalho estava encerrado, pensei.
No fim daquele dia, ao me preparar para deixar o hospital, fiquei pensando se o Adilson e sua família teriam realmente se convertido... Com certeza só terei essa resposta na eternidade.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
ALBERT SCHWEITZER
Quem primeiro falou dele para mim foi meu amigo e irmão Klaus (o Klaus é um desses amigos que estimulam o pensar). Depois foi uma citação do Rubem Alves (o Rubem Alves é um desses autores que estimulam o pensar). Daí a curiosidade me fez pesquisar sua vida na INTERNET.
Esse homem, Albert Schweitzer, foi fantástico. Muitas vezes os escritores me levam a admirá-los por seus escritos, e depois me empolgam por suas vidas. Com Schweitzer foi ao contrário. Na minha pesquisa achei bastante coisa escrita por ele, mas, de propósito, quis escrever primeiro esse texto sobre sua vida, para depois ler o que ele registrou no papel.
Albert Schweitzer foi teólogo, filósofo, escritor (recebeu o Prêmio Goethe de Literatura), músico, especialista em Bach, exímio fabricante de órgãos, médico e recebeu, merecidamente e não como uns e outros por aí, o Prêmio Nobel da Paz.
De repente ele largou tudo e foi, junto com a mulher, trabalhar com os necessitados do interior da África. Quando digo necessitados, quero dizer os mais miseráveis mesmo.
Aí surge uma pergunta: o que leva um homem que tem sucesso e capacidade em tantas áreas, o que o leva, repito, a largar tudo e se enfiar literalmente no meio do mato para servir aos outros? Ele tinha a glória aos olhos dos homens e não se importava com isso, pois conhecia a Deus:
“Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” (Jeremias 9:24)
Pode ser que quando eu acabar de publicar esse texto e for ler o que Schweitzer escreveu eu me decepcione, mas não faz mal, seu exemplo de vida já me edificou. Ele largou tudo e foi, sacrificialmente, servir aos outros. Aprendi recentemente a não questionar a Deus sobre as enormes desigualdades e injustiças que acontecem no mundo, pois pode ser que Deus se vire para mim e responda: “É verdade, Xyko, é revoltante essa situação, e o que VOCÊ vai fazer a respeito?”. Eu disse que Ele “pode” me questionar assim? Digo melhor: Ele VAI fazer isso. Mais cedo ou mais tarde.
Esse homem, Albert Schweitzer, foi fantástico. Muitas vezes os escritores me levam a admirá-los por seus escritos, e depois me empolgam por suas vidas. Com Schweitzer foi ao contrário. Na minha pesquisa achei bastante coisa escrita por ele, mas, de propósito, quis escrever primeiro esse texto sobre sua vida, para depois ler o que ele registrou no papel.
Albert Schweitzer foi teólogo, filósofo, escritor (recebeu o Prêmio Goethe de Literatura), músico, especialista em Bach, exímio fabricante de órgãos, médico e recebeu, merecidamente e não como uns e outros por aí, o Prêmio Nobel da Paz.
De repente ele largou tudo e foi, junto com a mulher, trabalhar com os necessitados do interior da África. Quando digo necessitados, quero dizer os mais miseráveis mesmo.
Aí surge uma pergunta: o que leva um homem que tem sucesso e capacidade em tantas áreas, o que o leva, repito, a largar tudo e se enfiar literalmente no meio do mato para servir aos outros? Ele tinha a glória aos olhos dos homens e não se importava com isso, pois conhecia a Deus:
“Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” (Jeremias 9:24)
Pode ser que quando eu acabar de publicar esse texto e for ler o que Schweitzer escreveu eu me decepcione, mas não faz mal, seu exemplo de vida já me edificou. Ele largou tudo e foi, sacrificialmente, servir aos outros. Aprendi recentemente a não questionar a Deus sobre as enormes desigualdades e injustiças que acontecem no mundo, pois pode ser que Deus se vire para mim e responda: “É verdade, Xyko, é revoltante essa situação, e o que VOCÊ vai fazer a respeito?”. Eu disse que Ele “pode” me questionar assim? Digo melhor: Ele VAI fazer isso. Mais cedo ou mais tarde.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
PROJETOS E SONHOS
Quem me alertou para esses fatos foi o Marcos, psicólogo do Ambulatório de Neurologia do HC-UNICAMP. Em uma conversa informal ele revelou sua preocupação com os estudantes de hoje em dia. Segundo ele, os jovens não teem mais sonhos, só projetos. Enquanto conversávamos, me lembrei de uma tarde em que eu andava por um dos corredores do hospital e à frente caminhava uma residente. Uma senhora simples e idosa, com um papel na mão a aborda e pergunta onde que ela deveria ir para fazer o exame descrito naquele documento. Sem parar e sem olhar o papel a moça respondeu: “Eu sou médica, não segurança”. Além de ser mal-educada, aquela jovem não tinha acalentado o sonho de ajudar o próximo, mas tinha realizado o projeto de ser médica.
Não sou contra o termos projetos e planejamentos. Mas quando é só isso que motiva um jovem, aí temos problemas. Sonhos envolvem ideais e valores, enquanto que projetos envolvem atividades e resultados. Reconheço que tanto os projetos quanto os sonhos podem ser egocêntricos, mas o que proponho é ensinarmos essa juventude a ter sonhos altruístas realizados através de projetos do mesmo naipe.
É uma tendência humana o buscar autonomia e independência por seus próprios esforços e méritos. Assim jogamos Deus para o escanteio. Veja um exemplo:
“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna. Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” (Tiago 4:13-17)
O antídoto contra o egocentrismo é a humildade. Humildade é uma virtude e, como tal, parte de uma decisão pessoal. Ninguém nasce humilde. Quem é humilde é porque decidiu ser assim. Veja o conselho que Pedro, o apóstolo, dá aos jovens:
“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pedro 5:5-7)
Mas sabe de quem é a culpa de os jovens estarem assim? É dos pais.
Concorda?
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
ESCAMBO
Quando eu tinha 9 meses de idade eu contraí poliomielite, ou “paralisia infantil”. Naquele tempo não havia vacina. Logo que contraí esse mal, minha situação ficou crítica, pois eu corri sério risco de morrer. Meu pai, brincando é claro, dizia que o médico lhe afirmara que eu, ou morreria ou ficaria bobo. Como não morri ...
Agora voltando a falar sério, naquela época em que minha vida estava por um fio, uma tia do meu pai fez uma promessa: se eu não morresse, meu pai (não ela) subiria de joelhos as escadarias do Monte Serrat, em Santos, minha cidade natal. Se não estou enganado, são quase 150 metros de altitude. (Veja a foto)
Eu não morri, meu pai não pagou a promessa da tia dele, e não fiquei bobo.
Por que será que as pessoas fazem promessas? Muitas com certeza para obter algo em troca, propondo um negócio com Deus, na base do “toma lá, dá cá”. Há uma séria advertência contra isso no Velho Testamento:
“Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.” (Eclesiastes 5:1-2)
Com que temeridade nos colocamos diante de Deus propondo, ou até mesmo dispondo, as coisas do jeito que nós queremos! O Texto Sagrado continua:
“Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras.” (Eclesiastes 5:3-5)
Primeiro Deus nos exorta a pensarmos bem que tipo de voto vamos fazer. Há votos aceitáveis para Deus, por exemplo, de ação de graças. Mas negociatas são tolices.
A segunda exortação é para que se cumpra o voto feito.
“Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.” (Mateus 5:37)
Prometer coisas para Deus tentando obter algum lucro, eu não faço. Não sou bobo!
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
OLHAR PARA OS PÉS OU PARA O ROSTO
Ao olhar para mim pela primeira vez, geralmente as crianças ou olham para os meus pés defeituosos ou então para o meu rosto. Algumas, felizmente pouquíssimas, das que olham primeiro para os meus pés, riem de mim. A grande maioria das que primeiramente olham para o meu rosto, sorriem para mim.
Há no meu condomínio uma menina de mais ou menos 5 anos. Ela é dessas que olham para o meu rosto e sorriem. Por causa da curiosidade natural dessa idade, ela já me perguntou inúmeras vezes “o que foi que aconteceu com você?”. Pois não é que outro dia eu estava passeando pelo estacionamento dos prédios, ela se colocou ao meu lado e, andando de costas, perguntou de novo o que é que aconteceu comigo. “Mas quantas vezes você já me perguntou isso, menina?”, perguntei. Ela respondeu: “Eu sei que foi um monte, mas é que eu esqueço”. Aí eu não resisti e falei: “Tá bom, eu explico; é que quando tinha a sua idade eu costumava andar de costas ao lado das pessoas, um dia tropecei e ...”. Na mesma hora ela estancou e só voltou a se mover quando percebeu que era brincadeira, e sorriu para mim.
Ser paralítico implica em quase sempre as pessoas nos olharem justamente por sermos paralíticos. Uns com dó (!?), outros com curiosidade mal-educada, e por fim, outros nos olham com simpatia. Alguns poucos demonstram que querem nos amar apesar do que somos.
Outro dia falei a um pequeno grupo de jovens da ABU (Aliança Bíblica Universitária) que não me importo de Deus me usar como exemplo de como servir a Deus mesmo tendo limitações. Sempre que isso ocorre me vem à mente que existem outros defeitos piores do que os de ordem física, e esses eu também os tenho.
Aquele homem a quem Jesus perguntou se queria ser curado (“Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado?” - João 5:6) foi curado em todos os sentidos (“E, se o homem pode ser circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, ao todo, um homem?” - João 7:23).
Veja esse trecho:
“Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.” (Mateus 8:1-4)
Jesus não o curou só fisicamente, mas também em suas emoções (tocando-o), socialmente (apresentar-se ao sacerdote para atestar a cura e ser liberado a conviver com os outros) e espiritualmente (a lepra era uma figura, uma ilustração do pecado).
Isso tudo me mostra que quando Jesus Cristo me olha, e Ele o faz o tempo todo, Ele não olha para os meus “pés”, mas para o meu “rosto”, e sorri para mim.
“E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:15)
Há no meu condomínio uma menina de mais ou menos 5 anos. Ela é dessas que olham para o meu rosto e sorriem. Por causa da curiosidade natural dessa idade, ela já me perguntou inúmeras vezes “o que foi que aconteceu com você?”. Pois não é que outro dia eu estava passeando pelo estacionamento dos prédios, ela se colocou ao meu lado e, andando de costas, perguntou de novo o que é que aconteceu comigo. “Mas quantas vezes você já me perguntou isso, menina?”, perguntei. Ela respondeu: “Eu sei que foi um monte, mas é que eu esqueço”. Aí eu não resisti e falei: “Tá bom, eu explico; é que quando tinha a sua idade eu costumava andar de costas ao lado das pessoas, um dia tropecei e ...”. Na mesma hora ela estancou e só voltou a se mover quando percebeu que era brincadeira, e sorriu para mim.
Ser paralítico implica em quase sempre as pessoas nos olharem justamente por sermos paralíticos. Uns com dó (!?), outros com curiosidade mal-educada, e por fim, outros nos olham com simpatia. Alguns poucos demonstram que querem nos amar apesar do que somos.
Outro dia falei a um pequeno grupo de jovens da ABU (Aliança Bíblica Universitária) que não me importo de Deus me usar como exemplo de como servir a Deus mesmo tendo limitações. Sempre que isso ocorre me vem à mente que existem outros defeitos piores do que os de ordem física, e esses eu também os tenho.
Aquele homem a quem Jesus perguntou se queria ser curado (“Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado?” - João 5:6) foi curado em todos os sentidos (“E, se o homem pode ser circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, ao todo, um homem?” - João 7:23).
Veja esse trecho:
“Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.” (Mateus 8:1-4)
Jesus não o curou só fisicamente, mas também em suas emoções (tocando-o), socialmente (apresentar-se ao sacerdote para atestar a cura e ser liberado a conviver com os outros) e espiritualmente (a lepra era uma figura, uma ilustração do pecado).
Isso tudo me mostra que quando Jesus Cristo me olha, e Ele o faz o tempo todo, Ele não olha para os meus “pés”, mas para o meu “rosto”, e sorri para mim.
“E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:15)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
UM ÚLTIMO ATENDIMENTO
Foi uma tarde muito proveitosa no hospital, muitas visitas significativas e pudemos ajudar muita gente. Estávamos, a Celinha e eu, fechando o escritório da Capelania e o telefone tocou. Era do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), que é um hospital que fica ao lado do HC, ambos dentro da UNICAMP. Eles pediam a presença de um pastor para um atendimento de urgência. E lá fui eu.
Ao chegar no CAISM passei pela portaria, peguei o elevador do qual saí em uma sala de espera em frente ao posto de enfermagem. Ali estava um médico conversando com uma jovem senhora. Era com aquela senhora que eu deveria conversar, foi o que informaram.
Após as apresentações, aquele médico, que estava com um Novo Testamento cinzento dos Gideões, pediu se podia só terminar a idéia que ele expunha a ela. Ele falava sobre os seguintes versículos:
“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Coríntios 12:7-10)
A ênfase que ele deu foi em “... quando sou fraco, então, é que sou forte”. Quando terminou, ele e a Célia, que foi comigo para mostrar onde era, foram embora, aí conversei com aquela senhora. Ela (chama-se Simone) era a nora de uma paciente, Dona Dolores, que estava desenganada pelos médicos devido a um câncer.
A Simone logicamente estava triste pelo estado da Dona Dolores, mas seu desespero vinha do fato de ainda ter dúvidas quanto à salvação da sogra, a quem amava muito. Já tinha falado sobre a obra de Jesus na cruz, a Dona Dolores afirmou que cria nisso, mas ainda havia dúvidas por parte da Simone.
Fui ao quarto daquela paciente e conversamos, só eu e ela. Aquela senhora tinha o aspecto (que já conheço bem) de alguém cuja vida está se esvaindo. Muito fraca e às vezes confusa, assim mesmo reafirmou sua confiança em Deus. Isso trouxe tranquilidade à Simone. Sendo católica, a Dona Dolores pouco depois recebeu o consolo da última comunhão (Eucaristia).
A última vez que olhei para a Dona Dolores ela tinha medo no olhar. Tinha medo, mas morreu em paz.
“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu (Jesus) venci o mundo.” (João 16:33)
Ao chegar no CAISM passei pela portaria, peguei o elevador do qual saí em uma sala de espera em frente ao posto de enfermagem. Ali estava um médico conversando com uma jovem senhora. Era com aquela senhora que eu deveria conversar, foi o que informaram.
Após as apresentações, aquele médico, que estava com um Novo Testamento cinzento dos Gideões, pediu se podia só terminar a idéia que ele expunha a ela. Ele falava sobre os seguintes versículos:
“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Coríntios 12:7-10)
A ênfase que ele deu foi em “... quando sou fraco, então, é que sou forte”. Quando terminou, ele e a Célia, que foi comigo para mostrar onde era, foram embora, aí conversei com aquela senhora. Ela (chama-se Simone) era a nora de uma paciente, Dona Dolores, que estava desenganada pelos médicos devido a um câncer.
A Simone logicamente estava triste pelo estado da Dona Dolores, mas seu desespero vinha do fato de ainda ter dúvidas quanto à salvação da sogra, a quem amava muito. Já tinha falado sobre a obra de Jesus na cruz, a Dona Dolores afirmou que cria nisso, mas ainda havia dúvidas por parte da Simone.
Fui ao quarto daquela paciente e conversamos, só eu e ela. Aquela senhora tinha o aspecto (que já conheço bem) de alguém cuja vida está se esvaindo. Muito fraca e às vezes confusa, assim mesmo reafirmou sua confiança em Deus. Isso trouxe tranquilidade à Simone. Sendo católica, a Dona Dolores pouco depois recebeu o consolo da última comunhão (Eucaristia).
A última vez que olhei para a Dona Dolores ela tinha medo no olhar. Tinha medo, mas morreu em paz.
“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu (Jesus) venci o mundo.” (João 16:33)
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
É O QUE BASTA
Ontem, lá no HC-UNICAMP, fui visitar uma senhora, a Dona Maria, que deve ter uns 40 e tantos anos. Fui a pedido dela mesma através de uma enfermeira. A Dona Maria é evangélica e queria a presença de um pastor. Depois das apresentações, ela me explicou, chorando, porque havia mandado me chamar: “É que Deus me abandonou”. Olha a situação dessa coitada: o marido ganha só um salário mínimo, que obviamente não cobre as despesas da família, tem duas filhas que estão desempregadas há mais de 2 anos, e ela não pode trabalhar por estar doente, doença que a levou a ser internada e que gradativamente está se agravando. Depois de contar tudo isso ela repetiu: “Deus me abandonou, pastor”. E mais, a Dona Maria falou que ora e as coisas pioram cada vez mais!
Eu fiquei sem saber o que lhe falar. Numa vã tentativa de consolá-la, falei que o Deus que conheço não faria isso com ela, mas enquanto falava lembrei-me do Salmo que Jesus orou, ou cantou, ou declamou, sei lá, quando estava na cruz, e também se sentiu abandonado:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.” (Salmos 22:1-2)
Até a hora em que fui deitar aquilo me incomodou, mas um pouco antes de dormir me ocorreu a resposta:
“ (...) A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco.” (2 Coríntios 12:9 NTLH) Em outra versão lemos “A minha graça te basta”.
Essa afirmação nós a podemos entender como Deus falando a cada um de nós: “Mesmo eu sendo o que sou eu o quero e não o rejeito, mesmo sendo você o que é. E isso é o suficiente para a sua felicidade”.
Devemos amar a Deus pelo que Ele é, e não pelo que Ele pode fazer para nós. Ou de outra forma, nós devemos adorá-Lo pelo que Ele fez POR nós, e não pelo que pode fazer PARA nós. Deus não tem nenhuma obrigação de nos dar (ou manter) bens, saúde e até mesmo a vida de nossos amados. Querer obrigá-Lo a isso é tentar em vão diminuí-Lo.
Note o pensamento de Jó depois de perder tudo, inclusive todos os filhos: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1:21)
Agora, um pequeno problema: como falar isso tudo para a Dona Maria? Ainda não sei.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
SERVIDÃO HUMANA
Já me desfiz da minha biblioteca umas 4 ou 5 vezes. Toda vez que vou me mudar ou quando não há mais espaço nas prateleiras, os livros que não são lidos passam para alguma biblioteca de igreja ou de escola, ou para alguém interessado neles. Só não me desfaço dos livros de referência (dicionários, comentários bíblicos e outras ferramentas) e de uma coleção de livros clássicos. Esses últimos eu os releio mais ou menos em ordem.
Agora estou relendo o livro “Servidão Humana”, de W. Somerset Maughan. Livro denso e tenso. Ele é meio autobiográfico. O personagem principal, Philip Carey, se apaixona pela garçonete do lugar onde ele toma chá diariamente, uma moça chamada Mildred. É uma paixão doentia. A moça não o ama e só se interessa pelo seu dinheiro, sendo até cruel ao explorá-lo. Consciente disso ele racionaliza pensando que o mais importante é amar, e não ser amado. Opa! Tem alguma coisa aqui que não se encaixou direito.
Esse pensamento verdadeiro, dentro do contexto, esconde algo errado. Até que ponto o amante não correspondido deve amar? Deve continuar amando, incondicionalmente, para sempre?
O contexto do livro mostra que o Philip se deixa enganar pela Mildred apenas para satisfazer as suas próprias necessidades. Faz isso sempre na esperança de que, ao fazer todos os absurdos caprichos da moça, ela passe a amá-lo. Ou se entregue a ele. Quem está apaixonado dificilmente vive o verdadeiro amor. Às vezes nem sabe o que é amar.
Lembrei-me da história bíblica de Tamar, que foi violentada por seu meio-irmão Amnon, o qual por um estratagema a atrai até seu quarto e a violenta. Eis o que ele sentiu depois disso: “Depois, Amnom sentiu por ela grande aversão, e maior era a aversão que sentiu por ela que o amor que ele lhe votara. Disse-lhe Amnom: Levanta-te, vai-te embora.” (2 Samuel 13:15)
A palavra amor, nesse versículo, deve ser entendida como a atração que um ser humano tem por outro, envolvendo a química da sexualidade. Quando há só isso, uma vez satisfeito esse amor, vem a aversão.
Continuo acreditando que o mais importante, e gostoso, é amar, e não ser amado, mas amar com o amor ágape, não eros. Essa distinção é para os mais maduros.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu (...) tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.” (Eclesiastes 3:1 e 8)
Quem ama de verdade quer que o outro cresça em tudo, inclusive na arte de amar.
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