quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

OLHAR PARA OS PÉS OU PARA O ROSTO

Ao olhar para mim pela primeira vez, geralmente as crianças ou olham para os meus pés defeituosos ou então para o meu rosto. Algumas, felizmente pouquíssimas, das que olham primeiro para os meus pés, riem de mim. A grande maioria das que primeiramente olham para o meu rosto, sorriem para mim.
Há no meu condomínio uma menina de mais ou menos 5 anos. Ela é dessas que olham para o meu rosto e sorriem. Por causa da curiosidade natural dessa idade, ela já me perguntou inúmeras vezes “o que foi que aconteceu com você?”. Pois não é que outro dia eu estava passeando pelo estacionamento dos prédios, ela se colocou ao meu lado e, andando de costas, perguntou de novo o que é que aconteceu comigo. “Mas quantas vezes você já me perguntou isso, menina?”, perguntei. Ela respondeu: “Eu sei que foi um monte, mas é que eu esqueço”. Aí eu não resisti e falei: “Tá bom, eu explico; é que quando tinha a sua idade eu costumava andar de costas ao lado das pessoas, um dia tropecei e ...”. Na mesma hora ela estancou e só voltou a se mover quando percebeu que era brincadeira, e sorriu para mim.
Ser paralítico implica em quase sempre as pessoas nos olharem justamente por sermos paralíticos. Uns com dó (!?), outros com curiosidade mal-educada, e por fim, outros nos olham com simpatia. Alguns poucos demonstram que querem nos amar apesar do que somos.
Outro dia falei a um pequeno grupo de jovens da ABU (Aliança Bíblica Universitária) que não me importo de Deus me usar como exemplo de como servir a Deus mesmo tendo limitações. Sempre que isso ocorre me vem à mente que existem outros defeitos piores do que os de ordem física, e esses eu também os tenho.
Aquele homem a quem Jesus perguntou se queria ser curado (“Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado?” - João 5:6) foi curado em todos os sentidos (“E, se o homem pode ser circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, ao todo, um homem?” - João 7:23).
Veja esse trecho:
“Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.” (Mateus 8:1-4)
Jesus não o curou só fisicamente, mas também em suas emoções (tocando-o), socialmente (apresentar-se ao sacerdote para atestar a cura e ser liberado a conviver com os outros) e espiritualmente (a lepra era uma figura, uma ilustração do pecado).
Isso tudo me mostra que quando Jesus Cristo me olha, e Ele o faz o tempo todo, Ele não olha para os meus “pés”, mas para o meu “rosto”, e sorri para mim.
“E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:15)

2 comentários:

  1. Caro Xyko,

    Interessante essa questão do rosto, ele simboliza o todo da pessoa, é a parte mais sensível (orgãos dos sentidos) e móvel (mímica) do corpo, nosso cartão de visitas, nossa individualidade, não ouvimos sempre dizerem que existem muitos rostos na multidão? Ao contrário da máscara que universaliza, tira aquilo que temos de individual.
    Existem critérios estéticos (culturais, portanto mutáveis no tempo e espaço) que comparam uns com os outros e dizem qual é mais belo, ou mais feio...
    Mas cada ser humano é único, portanto a única possibilidade de comparação honesta, isenta de preconceitos, é com ele mesmo...
    Cada um é belo a sua maneira... e Deus sabe disso. E por isso mesmo ele nunca compara ninguém com os outros, trata cada um como único que é...
    Nós temos muito que aprender com isso, principalmente nós, os pais que não cansamos de fazer comparações entre os filhos.
    Agora interessante também a menininha andando de costas e falando com você. Por que ela fez isso? Provavelmente porque para ela conversar com você, um adulto estranho, com sua cadeira turbinada, pés tortos e cara engraçada não é uma coisa natural, como andar para frente... ela precisou mudar o curso da natureza dela para perguntar mais uma vez... e para as crianças a repetição dá segurança, quantas vezes temos que contar a mesma história ou assistir o mesmo filme com os pequenos... sinal que sua figura, seu rosto a impressiona.
    Mas uma coisa é certa, você sempre exerce um certo magnetismo sobre a pessoas, tem um carisma especial, que mistura estranheza com alegria, inteligência (sempre), seriedade ("às vezes"), compaixão, uma boa dose de humor (meio cínico, meio ácido), rebeldia (todo artista é um rebelde)...
    Mas uma coisa é certa: ninguém fica indiferente ao Xyko (mesmo com os pés engraçados)... e nisto tudo está sua missão evangelizadora.

    Muita paz, caro amigo de pés tortos e cara engraçada...

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  2. Olá, meninos!

    Não sei se vocês concordam comigo, mas trabalhando aqui no HC, acaba por se tornar normal encontrar pessoas que, fora daqui, chamariam atenção. São pessoas com deficiência física, deformidade facial, congênita ou resultado de alguma enfermidade ou cirurgia... Já fiz amizade com uma mulher incrível porque olhei mais demoradamente para ela, não tinha entendido o seu rosto, mas, felizmente, ela percebeu meu interesse nela e não no que havia no rosto.
    Aí me veio um pensamento: e se a gente pudesse ver a alma, o caráter, a personalidade das pessoas? Como reagiríamos? Já imaginaram o susto que levaríamos? Veríamos tanta gente bonita e outras...
    Como isso não acontece, continuamos olhando para o rosto e para os pés de quem caminham conosco. (ou o nariz!!!)
    Beijos

    Célia

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