terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

É O QUE BASTA



Ontem, lá no HC-UNICAMP, fui visitar uma senhora, a Dona Maria, que deve ter uns 40 e tantos anos. Fui a pedido dela mesma através de uma enfermeira. A Dona Maria é evangélica e queria a presença de um pastor. Depois das apresentações, ela me explicou, chorando, porque havia mandado me chamar: “É que Deus me abandonou”. Olha a situação dessa coitada: o marido ganha só um salário mínimo, que obviamente não cobre as despesas da família, tem duas filhas que estão desempregadas há mais de 2 anos, e ela não pode trabalhar por estar doente, doença que a levou a ser internada e que gradativamente está se agravando. Depois de contar tudo isso ela repetiu: “Deus me abandonou, pastor”. E mais, a Dona Maria falou que ora e as coisas pioram cada vez mais!
Eu fiquei sem saber o que lhe falar. Numa vã tentativa de consolá-la, falei que o Deus que conheço não faria isso com ela, mas enquanto falava lembrei-me do Salmo que Jesus orou, ou cantou, ou declamou, sei lá, quando estava na cruz, e também se sentiu abandonado:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.” (Salmos 22:1-2)
Até a hora em que fui deitar aquilo me incomodou, mas um pouco antes de dormir me ocorreu a resposta:
“ (...) A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco.” (2 Coríntios 12:9 NTLH) Em outra versão lemos “A minha graça te basta”.
Essa afirmação nós a podemos entender como Deus falando a cada um de nós: “Mesmo eu sendo o que sou eu o quero e não o rejeito, mesmo sendo você o que é. E isso é o suficiente para a sua felicidade”.
Devemos amar a Deus pelo que Ele é, e não pelo que Ele pode fazer para nós. Ou de outra forma, nós devemos adorá-Lo pelo que Ele fez POR nós, e não pelo que pode fazer PARA nós. Deus não tem nenhuma obrigação de nos dar (ou manter) bens, saúde e até mesmo a vida de nossos amados. Querer obrigá-Lo a isso é tentar em vão diminuí-Lo.
Note o pensamento de Jó depois de perder tudo, inclusive todos os filhos: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1:21)
Agora, um pequeno problema: como falar isso tudo para a Dona Maria? Ainda não sei.

Um comentário:

  1. É Xyko...

    Belíssima reflexão, é isso aí! Nessas horas nem tem muito o que dizer. É o drama do nosso entendimento limitado dos Desígnos de Deus...
    Esta semana saiu a revista Superinteressante com a capa fazendo a previsão de que o ser humano será imortal em 50 anos, graças aos avanços da ciência. É a serpente dizendo: "sereis como deuses, não morrerão..."
    É o drama do entendimento da "morte do justo". Somente aceitando o sentido da nossa vida, poderemos também aceitar os acontecimentos dela, pensemos nas pessoas do Haiti.
    Sim, pois definitivamente não entendemos muitos dos acontecimentos, mas pela fé devemos aceitá-los, pois eles concorrem para o bem daqueles que amam a Deus...
    Não é fácil...


    Paz,

    ResponderExcluir