segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
SERVIDÃO HUMANA
Já me desfiz da minha biblioteca umas 4 ou 5 vezes. Toda vez que vou me mudar ou quando não há mais espaço nas prateleiras, os livros que não são lidos passam para alguma biblioteca de igreja ou de escola, ou para alguém interessado neles. Só não me desfaço dos livros de referência (dicionários, comentários bíblicos e outras ferramentas) e de uma coleção de livros clássicos. Esses últimos eu os releio mais ou menos em ordem.
Agora estou relendo o livro “Servidão Humana”, de W. Somerset Maughan. Livro denso e tenso. Ele é meio autobiográfico. O personagem principal, Philip Carey, se apaixona pela garçonete do lugar onde ele toma chá diariamente, uma moça chamada Mildred. É uma paixão doentia. A moça não o ama e só se interessa pelo seu dinheiro, sendo até cruel ao explorá-lo. Consciente disso ele racionaliza pensando que o mais importante é amar, e não ser amado. Opa! Tem alguma coisa aqui que não se encaixou direito.
Esse pensamento verdadeiro, dentro do contexto, esconde algo errado. Até que ponto o amante não correspondido deve amar? Deve continuar amando, incondicionalmente, para sempre?
O contexto do livro mostra que o Philip se deixa enganar pela Mildred apenas para satisfazer as suas próprias necessidades. Faz isso sempre na esperança de que, ao fazer todos os absurdos caprichos da moça, ela passe a amá-lo. Ou se entregue a ele. Quem está apaixonado dificilmente vive o verdadeiro amor. Às vezes nem sabe o que é amar.
Lembrei-me da história bíblica de Tamar, que foi violentada por seu meio-irmão Amnon, o qual por um estratagema a atrai até seu quarto e a violenta. Eis o que ele sentiu depois disso: “Depois, Amnom sentiu por ela grande aversão, e maior era a aversão que sentiu por ela que o amor que ele lhe votara. Disse-lhe Amnom: Levanta-te, vai-te embora.” (2 Samuel 13:15)
A palavra amor, nesse versículo, deve ser entendida como a atração que um ser humano tem por outro, envolvendo a química da sexualidade. Quando há só isso, uma vez satisfeito esse amor, vem a aversão.
Continuo acreditando que o mais importante, e gostoso, é amar, e não ser amado, mas amar com o amor ágape, não eros. Essa distinção é para os mais maduros.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu (...) tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.” (Eclesiastes 3:1 e 8)
Quem ama de verdade quer que o outro cresça em tudo, inclusive na arte de amar.
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É isso aí.
ResponderExcluir"Paixão doentia" tem alguma coisa que não se encaixa...
Para os gregos antigos, estar constantemente amoroso era uma doença, uma possessão, uma "pathé" (daí patologia), ou uma "manía"...
É um estado de posse, necessidade, dependência, sem dúvida doentio e que aparece para compensação de alguma carência profunda, gerando problemas para as partes envolvidas.
Quando ouvimos que alguém "matou por amor", não vamos confundir, é deste sentimento patológico que estamos falando e não de amor...
Paz,