sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O VIZINHO


Foi há muito tempo que isso aconteceu. De uma hora para outra, coisas estranhas começaram a ocorrer nas imediações de onde morávamos e até mesmo em casa. No bairro, começaram a serem roubados dos jardins e quintais, objetos tais como bicicletas, mangueiras, roupas, bujões de gás, coisas assim. Em casa, além de uns pequenos roubos (vasos, produtos de limpeza, caixa de ferramentas), o chuveiro simplesmente estourou e pegou fogo no momento em que foi ligado e outro acontecimento, o mais assustador de todos, aconteceu certa noite ... não, essa história merece um parágrafo novo.
Certa noite, quando a Denise e eu chegamos em casa, eu ouvi (ouvi mesmo, não foi impressão) um suspiro. Alto, forte e grosso como se fosse de um homem. Falei para a De que eu entraria, e entrei. Enquanto lá fora ela abria o portão para uma fuga rápida caso fosse necessária, fui cômodo por cômodo, acendendo a luz, olhando atentamente, orando, tremendo e suando. Quando acendi a luz do meu quarto, último lugar a ser visto, algo se mexeu na parede. Era uma lagartixa. Se naquele momento eu tivesse um revólver e boa pontaria, aquela lagartixa teria morrido com 6 tiros.
A princípio nós não nos demos conta disso, mas todas essas coisas começaram a acontecer a partir do dia em que uma determinada família se mudou para a casa que ficava em frente da minha (na ocasião nós morávamos em uma casa de fundos). O pai daquela família era viciado em drogas e macumbeiro. Só soubemos disso mais tarde.
Determinada noite eles nos convidaram para irmos à casa deles para jogar WAR (um desses jogos de tabuleiro). Fomos. Era mais fácil entrar com a minha cadeira de rodas pelos fundos da casa e assim o fizemos. Em um dos cantos do quintal havia uma pequena estátua representando um “preto velho” iluminada por uma vela, só não lembro se era preta ou vermelha. Embaixo da estátua havia alguns papéis dobrados. Será que eram nomes de pessoas escritos ali? Se sim, será que nossos nomes estavam ali? Tudo isso me ocorreu na ocasião.
Logo que entramos, eu tive uma sensação horrível: parecia que algo se enrolara em meu pescoço, como um cachecol, mas não havia nada, era só uma sensação. Lanchamos, jogamos e saímos, e só aí é que o “cachecol” saiu do meu pescoço. A Denise me disse que também sentiu algo parecido.
Evangelizamos aquela família, mas eles não se converteram, pelo menos até onde eu sei.
Os nossos problemas cessaram a partir do momento em que eles se mudaram para outro bairro.
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar;” (1 Pedro 5:8)

Um comentário:

  1. Caríssimo Xyko,

    Permita-me um respeitoso e cuidadoso comentário:
    Acredito que tudo isso que você relatou realmente possa ter esse tipo de interpretação, mas por outro lado podemos estar cometendo uma terrível injustiça.
    Nossa cultura, por motivos históricos bem conhecidos, nos ensina a associar os acontecimentos ruins de nossa vida, nossos medos e inseguranças a determinadas causas e, o que é pior, a determinadas pessoas e hábitos... as maiores vítimas desses preconceitos são os negros e suas crenças afro-descendentes.
    O horror da escravidão acabou por contrapor culturas e crenças e a posição inferiorizada dos escravos, depois negros libertos (libertos?), relegou seus costumes e valores ao pior dos piores patamares...
    Por outro lado, o último censo mostrou que 45% dos brasileiros são afro-descendentes, portanto metade de nossa "alma brasileira" é negra...
    O futuro aponta para uma era de aceitação e respeito das diferenças e mais, para uma nova postura de proteção e promoção dos mais fracos e vulneráveis.
    A igualdade entre os seres humanos é um ideal, todos nós somos diferentes e somente o tratamento desigual das pessoas pode colocá-las em igualdade (equidade). Em outras palavras, temos que compreender e defender os mais fracos para que eles tenham igualdade de direitos frente os mais fortes (senão é lei da selva).
    No curso de Bioética da Faculdade de Medicina da UNICAMP, do qual você já teve a oportunidade de participar, temos aprendido cada vez mais a admirar a cultura e crença negra e entender o quanto ela é importante para o progresso do nosso país.
    A associação de eventos inexplicáveis a causas sobrenaturais é uma necessidade humana, mas a racionalidade e o conhecimento das coisas devem nos proteger de crenças que possam beirar a superstição e colaborar unicamente para a construção de uma sociedade baseada no medo infundado e preconceito.
    Acredito muito mais que nosso adversário, que ruge, tenta nos devorar e que devemos combater é o medo e o preconceito. Só a Fé e o Amor podem nos salvar dele...


    Respeitosamente, desejo a Paz a você

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