quarta-feira, 28 de abril de 2010

OU DO JEITO DE DEUS, OU DO JEITO DE DEUS

Domingo passado, atendendo a um convite, eu fui ensinar em uma Igreja que não a minha. Pregar em outra Igreja tem várias vantagens, mas acho que a maior delas é podermos falar sobre qualquer falha ou pecado sem ouvir as pessoas reclamarem de terem sido usadas como contra-exemplo. Como não participamos diretamente da vida das pessoas, elas não pensam que nos referimos a elas especificamente, e a carapuça às vezes entra até o pescoço. Nessa aula que dei, me referindo ao fato de algumas pessoas de Betsaida terem trazido um cego para Jesus curar, tais pessoas fizeram uma coisa que volta e meia estamos fazendo: dizer para Deus como é que Ele tem que fazer para resolver nossos problemas. Veja como eles dizem como fazer e note como Jesus fez:
“Então, chegaram a Betsaida; e lhe trouxeram um cego, rogando-lhe que o tocasse. Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa?” (Marcos 8:22-23)
Não sei nem como entender a razão de Jesus usar algo tão insólito como a saliva para resolver aquele problema.
A verdade é que queremos que Deus resolva os nossos problemas do nosso jeito, e só do nosso jeito. Deixe-me dar um exemplo. Um homem está desempregado e não tem como sustentar a família; o que ele faz então? Ora e pede que Deus lhe arrume um emprego. Mas Deus toca o coração dos irmãos da Igreja para ampará-lo nas necessidades da sua família, tratando com isso um problema de orgulho daquele homem e dando oportunidade para a Igreja desenvolver o amor e o serviço. Mas na visão do desempregado, “Deus se esqueceu dele”.
Quando falei isso naquela Igreja, vi um homem bem arrumado com a cabeça baixa e aquela que deduzo ser sua esposa colocar a mão no seu ombro e dizer baixinho “Viu?”.
Pode ser que nesse exato momento eu esteja, sem saber mas não sem querer, pondo a mão no seu ombro e dizendo “Viu”.

Um comentário:

  1. Caro Xyko,

    Quando o assunto é algo essencial, profundo, todo ser humano, de um jeito ou de outro se identifica. Esse é o fundamento dos mitos e das lendas milenares, a linguagem simbólica atravessa os séculos mandando seu recado ininterruptamente. A Bíblia, além de livro inspirado, bebe ainda mais dessa característica de falar ao coração das pessoas...

    "Homo sum: humani nihil alienum puto."
    Sou homem e nada do que é humano me é alheio

    Terêncio - poeta romano séc. II a.C.


    Paz,


    PS - talvez a saliva evoque aquilo mais básico, mais profundo, mais visceral, que sai da boca de Jesus

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