quinta-feira, 8 de abril de 2010

PRESO MAS LIVRE

Estamos acompanhando dois presidiários que estão internados ali no HC-UNICAMP. Vamos dar nomes fictícios a eles: Antônio Lotação e Paulo Santinho.
O Antônio levou um tiro durante um assalto que ele e mais um companheiro faziam em um ônibus. A polícia os cercou e ele puxou um revólver de brinquedo, e os guardas, para se defenderem, atiraram, acertando só uma bala na mão do Antônio. O outro fugiu. O Antônio estava em liberdade condicional.
Ele fica algemado na cama e a escolta policial, com 2 guardas, fica no corredor.
Veja que coisa impressionante: esse rapaz tem 30 anos, e desses ele passou 12 anos na cadeia. Quando lhe perguntei se era feliz, ele disse que nunca o foi. O Pedro, jovem voluntário da Capelania, é que tem visitado bastante esse prisioneiro. Temos falado muito de Deus a ele, e a receptividade é de surpreender. O Antônio reconhece que é bandido, ou era, já que ele afirma que quer mudar de vida; lê bastante o Novo Testamento que lhe demos, e tem conquistado a simpatia de todos que dele cuidam. Combinamos não perder contato, muito embora ele vai voltar para a cadeia. Vamos trocar correspondência. O Antônio é que pediu isso, pois ele reconhece que vai precisar de ajuda para ser um “missionário” dentro do presídio.
E o outro, o Paulo, esse diz que não fez nada de errado. Contou que estava voltando de um almoço de aniversário quando a viatura da polícia, depois de passar por ele duas vezes só olhando, na terceira o abordou. Coincidentemente estavam escondidas ali numa moita umas mercadorias roubadas. O Paulo “nem tinha visto aquilo”. Os policiais bateram nele e o levaram para o hospital. Quando ele contou isso, a Bárbara, outra voluntária jovem que estava comigo, ficou emocionada, quase chorando diante da injustiça relatada. Na conversa eu perguntei ao Paulo se os policiais o conheciam. Meio sem jeito ele confessou que no passado teve um problema com a justiça, e os policiais já o conheciam. Ao sairmos do quarto ensinei para a Bárbara que toda história tem os dois lados, como uma moeda. Teríamos que ouvir a versão dos guardas, mas isso não é possível, pelo menos agora.
Dois homens algemados, dois ladrões, um se arrepende e outro não. Isso me soa familiar.
“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:31-36)

2 comentários:

  1. Caríssimo,

    Interessante a citação bíblica. Primeiro os judeus, arrogantes, não viam o quanto eram escravos das leis opressoras e desumanizantes. Segundo, Jesus inverte a lógica e diz que quem permanece para sempre na Casa do Pai é quem é livre, o escravo, que fica na casa forçado, logo vai embora.
    Gosto de pensar que dentro de mim há também dois ladrões (todos nós, de condição humana, somos "ladrões", escravos do pecado de certa forma), depende de mim escolher qual deles eu quero ser...


    Paz,

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  2. Esses dois homes tipificam bem a humanidade

    - Alguns homens reconhecem as proprias falhas se arrependem e desfrutam uma vida especial com DEUS.

    - Outros "compensam" os proprios erros criando estórias, culpando outros ou fazendo boas obras. Esses nunca vão saber o que é viver em comunhão com Deus.

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