segunda-feira, 1 de novembro de 2010

TRANSFORMANDO A DOR EM ABÓBORAS

Isso aconteceu já faz um bom tempo. Numa determinada tarde fui visitar o Ricardo, que tinha na época 4 anos de idade. Ele estava internado no HC-UNICAMP e nós dois nos tornamos grandes amigos. Minha intenção era investir bastante tempo brincando com o Ricardinho, como estava sendo meu costume, mas quando cheguei em seu quarto, ele estava passando por um procedimento que lhe causava muita dor. Em volta da sua cama estava uma médica, uma enfermeira, duas técnicas em enfermagem e a mãe. Cada vez que mexiam nele, doía e ele gritava “AI”.
Obtida a autorização para ficar ali, tentei distrair o garoto para “doer menos”. De repente me ocorreu uma idéia. Pedi para interromperem o procedimento por um instante e propus para meu amiguinho: “Rick, em vez de gritar AI, grite ABÓBORA, vai ser mais divertido”. Ele topou e a equipe continuou.
No primeiro movimento que fizeram veio o grito: ABÓBORA!!
Todos nós, inclusive o Ricardinho, rimos.
De novo, a mesma coisa: ABÓBORA!
E continuou assim até o fim. ABÓBORA! Saia lágrimas de nossos olhos (de nós todos, inclusive do Ricardinho) de tanto rirmos e de compaixão por sofrermos junto com aquela criança tão linda e boazinha. A estratégia de transformar “AIS” em “ABÓBORAS” ainda continuo usando com sucesso.
Hoje eu entendo a razão e utilidade da dor. Ela serve para nos alertar para o fato de que há alguma coisa errada com o nosso corpo. Mas dor é dor, é sofrimento, e me dói muito ver criança sofrer.
Por essas e outras razões anseio pela vida lá no Novo Céu:
“Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Apocalipse 21:1-4)
Estou aqui imaginando que maravilha vai ser viver sem chorar, sem dor e sem morte.
O Ricardinho morreu 15 dias depois desse episódio que lhes contei.

2 comentários:

  1. Realmente, o sofrimento das crianças dói muito em nós também. Rezo para ser digno de depois de morrer poder morar nesse paraíso descrito no versículo da Bíblia que você citou.
    Um abraço, Francisco dos Santos.

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  2. Só quem passa por episódio de dor é capaz de entender com profundidade, é necessário ter os olhos cheios de lágrimas, a garganta com um nó no minimo, para entender o que tais palavras querem dizer continuo a te dizer, Deus abençoa a minha vida através de seu trabalho, me conforta, me sinto consolado, que Deus continue te dando em dobro. Amado irmão.
    Reginaldo, um desconhecido irmão em Cristo.

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