sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DEUS NÃO É UM SEQUESTRADOR


Fui todo animado atender o chamado do Renan. Ele queria brincar com o carrinho com controle remoto que havia acabado de ganhar de uma médica e pediu para me chamar. Nós iríamos juntos brincar no pátio da Enfermaria de Pediatria do HC-UNICAMP. Forramos uma cadeira-de-rodas para ele, pegamos o indispensável cilindro de oxigênio, eu segurei o carrinho e fomos. Quando chegamos no corredor tivemos que voltar: ele se sentiu mal e quis deitar novamente.
O Renan, de 8 anos, sofria de fibrose cística, e estava internado há muito tempo. Essa doença faz com que o sistema imunológico “pense” que um dos órgãos vitais do paciente seja um corpo estranho no organismo e o ataque. No caso do Renan o órgão atingido foi o fígado. Ele estava desenganado já. E sofria muito. E não morria.
Alguns dias depois eu cruzei com a mãe dele que estava saindo da Capela do hospital. Quando me viu ela quis conversar. Depois de se sentar em um banco ali perto, ela me confessou que, finalmente entregara o filho para Deus. Aquela mãe orava muito para que o filho não morresse. Não queria se separar dele, só que vê-lo sofrendo tanto levou-a a se render.
Ficamos conversando sobre se seria possível Deus não o ter levado por causa de ela não querer. “Se Ele o levasse, disse ela chorando, seria como se Deus o roubasse de mim. Mas agora eu entendo que o meu filho é de Deus e que Ele o colocou em minha vida para que eu cuidasse dele. O Renan está sofrendo muito e eu não posso mais cuidar dele, por isso o entreguei, ou melhor, devolvi”.
Conversávamos ainda quando a Tininha, voluntária da Capelania, veio me chamar para uma emergência. Era o Renan. Corremos para lá e quando chegamos em seu quarto, já estavam ali os médicos e enfermeiras em volta do menino. Ficamos aguardando no corredor: o pai e a mãe do Renan, a Tininha e eu. Dali há alguns minutos o médico saiu do quarto, abraçou nós quatro e não precisou dizer nada.
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11:33)
O Renan nunca brincou com aquele carrinho.

6 comentários:

  1. Xyko, me diz uma coisa: sabendo e crendo no poder do nosso Deus - como viver nesse ambiente, demonstrar amor a tantos, receber amor de tantos e não ser tentado a "exigir" que Deus faça "alguma coisa" por essas vidas que tanto sofrem? Como é isso com você: alguma vez você já teve direção de Deus para orar por cura? Como saber em quem ministrar a cura de Deus dentro de um hospital? Assim como Jesus, somos chamados a manifestar sinais a fim de que creiam. Você já presenciou algum milagre físico no hospital - algo que os médicos não souberam explicar?
    Abraço carinhoso para você e para os pais do Renan.
    Andréia Barbosa

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  2. Cara Andréia, seu comentário foi tão consistente que segunda-feira vou postar uma resposta mais elaborada.
    Obrigado por sua participação.
    Um abraço, Xyko.

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  3. Cara Andréia, quando realmente conhecemos quem e como Deus é, nós o tememos. Temor é confiar reverentemente. Nós podemos nos achegar a Ele, mas sabendo que temos que abaixar a nossa cabeça em sinal de respeito. Como, então pensar em exigir seja o que for a Deus? Eu sei que hoje é comum as pessoas exigirem que Deus faça aquilo que eles determinam, mas preste atenção, o sofrimento muitas vezes é um bem que Deus nos dá ou para crescimento, ou aprendizagem ou até mesmo (quem sabe?) para evitar um mal maior.
    Deus nunca me dirigiu a orar por cura; muitas vezes eu me junto ao paciente em seu desejo de cura, mas sempre pedimos que a vontade de Deus prevaleça. Procuramos vivenciar o que Paulo preconiza:
    “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.” (Romanos 12:2 NTLH)
    Procure ler aqui no Blog um texto intitulado “E QUANDO DEUS NÃO CURA”.
    Os sinais servem como parâmetros para os que já creem. Para os incrédulos, há a Bíblia.
    “Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.” (Lucas 16:27-31)
    Por fim, você me deu uma boa idéia, ou seja, contar minha ÚNICA experiência a qual os médicos não souberam explicar. É o texto de hoje.
    Obrigado por sua valiosa colaboração para o Blog.
    Um abraço, Xyko.

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  4. Xyko,
    obrigada por sua resposta. Foi algo indescritível o que ocorreu em minha mente e em meu espírito quando li suas palavras e corri para a Bíblia.
    Li o outro post que você indicou - concordo com tudo o que você escreveu, com cada vírgula - mas ainda assim, sinto muita falta de sinais no meio do povo de Deus. Eram tão constantes no ministério de Jesus e dos apóstolos... Será que Deus não deseja que nós sejamos mais ousados em nossas petições? Ou antes, em nosso relacionamento com Ele, a ponto de sermos conduzidos pelo Espírito a pedir cura física? Mesmo que seja para orar sinceramente pedindo o cumprimento da Sua boa, perfeita e agradável vontade e, ao mesmo tempo, admitindo nosso desejo e fé de que Ele pode curar?
    Entendo que o maior milagre é a transformação da pessoa, mais do que do corpo; e que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. Mas onde estão os sinais? "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes. e, se alguma cousa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados." (Mc.16:17-18). Me perdoe por ser tão enfática. Mas gosto de receber sus respostas, sempre tão pautadas na Palavra e na experiência, que ouso novamente questionar.
    Quanto ao temor a Deus, Sua soberania e nossa necessidade dEle são fatos claros para mim. É que não consegui me expressar de uma forma adequada quando usei a palavra "exigir". Talvez porque me emocionei com o relato sobre o Renan. Deus sabe o quanto tenho aprendido sobre Sua soberania e poder.
    Abraço,
    Andréia

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  5. Cara Andréia, é muito legal, mas legal mesmo saber que tem gente como você, que quer saber, questiona e prova a Deus. Provar no sentido de experimentar (o nome do meu Blog antes era “Provando a Deus” nesse sentido). Tudo com temor, é claro. Parabéns.
    Concordo com você sobre sentir falta de mais “sobrenatural” na vida da Igreja hoje. Quando nós, os evangélicos mais acadêmicos queremos criticar os pentecostais mais exaltados, citamos a primeira parte de Mateus 22:29, ou seja, “Errais, não conhecendo as Escrituras”, mas esquecemos da segunda parte, “Nem o poder de Deus”.
    Falta-nos equilíbrio.
    Um forte abraço, Xyko.

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  6. Obrigada, Xyko, esse blog é uma forma especial de manter contato com pessoas tão inteligentes e tementes a Deus como você. É muito bom poder ler seus posts e pensar em tudo o que Deus me fala através deles. Suas palavras são importantes para mim. Um abraço.
    andréia

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