segunda-feira, 22 de junho de 2009

VIDA DE BURGUÊS


Alguém me falou, e com razão, que tenho levado uma vida de burguês. E isso me incomoda. Não o me falarem, mas a vida que levo.
Nesse domingo minha família e eu almoçamos no shopping mais sofisticado de Campinas. Na saída, ficamos conversando no estacionamento, próximo aos automóveis. Quando olho, passam por nós, dois garotos (de 7 ou 8 anos) com aparência bem pobre. Um deles, ao ver a minha cadeira de rodas motorizada pede: “Tio, anda aí prá nóis ver”. Liguei a cadeira e fui para junto deles. Quando estava perto perguntei se eles queriam dirigir um pouco. Por medo ou vergonha não quiseram, e o maiorzinho ainda disse que tinham que entrar no shopping para encontrar seus pais. Desconfiei que era mentira, claro, o que ficou evidente depois.
Eles entraram e continuamos conversando. Pouco tempo depois vejo os dois sendo conduzidos para fora por 4 seguranças e por mais um que estava dentro de uma viatura. Depois de uma pequena conversa com os homens, os garotos começaram a andar pelo estacionamento para ir embora, seguidos de perto pelo carro da segurança. Fico olhando para eles e quando passam por mim ouço um falando para o outro: “Que vergonha, sermos expulsos do shopping”.
O que será que eles fizeram? Roubar não foi, pois se o fosse, eles seriam detidos. Talvez pedir. Por que não podiam pedir? Isso abriria uma exceção e logo o shopping seria invadido por uma multidão de pedintes. Dou razão aos seguranças. Ou será que os meninos estavam incomodando por estar expondo sua pobreza ao circular pelos corredores, sem fazer nada de errado? Assim mesmo é uma situação difícil de se avaliar o melhor a ser feito. E eu não fiz nada!
E o pior: aqueles garotos já estão feridos e marcados para o resto da vida. E é isso que está doendo em mim. Muito.
PARA REFLETIR:
“Mais tarde, enquanto Jesus estava jantando na casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama chegaram e sentaram-se à mesa com Jesus e os seus discípulos. Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: —Por que é que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e com outras pessoas de má fama?” (Mateus 9:10-11 NTLH)
“O Filho do Homem come e bebe, e todos dizem: “Vejam! Este homem é comilão e beberrão! É amigo dos cobradores de impostos e de outras pessoas de má fama.” Porém é pelos seus resultados que a sabedoria de Deus mostra que é verdadeira.” (Mateus 11:19 NTLH)

4 comentários:

  1. Oi, Xyko!

    Puxa, ao ler o seu texto, vieram-me à mente tantas coisas... Uma delas, o fato de muita gente de classes média e alta olhar para pessoas de classe baixa como se nem fossem pessoas... e, o pior, saber que dentre as primeiras encontram-se muitos cristãos!

    Claro que, diante de uma situação como a que você expôs, é difícil mesmo saber o que fazer! Se tivesse alguma sugestão eu a registraria aqui!

    Mas acho que o mais importante é enxergarmos essas pessoas como tais, enquanto condição para que entendamos que Cristo morreu por elas também e espera que amemos como Ele amou!

    Se uma pessoa não tem o amor de Cristo, como ficará indignada diante da desigualdade? Como se incomodará com o fato de, por causa de tão má distribuição de riquezas, haver pessoas que sequer têm como se vestir de modo adequado a certos lugares e ocasiões? Porque se preocupará com o destino eterno delas e se mobilizará em levar a elas as boas novas?

    Ainda mais desesperador do que ver pessoas sendo expulsas do shopping, é saber que muitas das que permanecem do lado de dentro sentem alívio diante disso!

    Ainda mais lamentável que fazer parte de um sistema meritocrata e individualista, é ver cristãos acomodados que compartilham desses valores!

    E, ainda pior do que tudo isso, é saber que muitos dos que deveriam ser reconhecidos como discípulos de Jesus por causa do amor (João 13.35 “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”), sequer consideram todas as pessoas como tais, expulsando-as de suas vidas como são expulsas dos shoppings!

    "E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12.2)

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  2. Gostei muito do comentário da Pri, mas realmente é difícil saber como ajudar, outro dia estava almoçando e um goroto pediu dinheiro para ajudar ele completar o que tinha pra almoçar, dei , mae ele não foi almoçar e sim comprar droga, e aí devemos ajudar? Ciça.

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  3. Oi, Ciça!

    Atualmente, depois de algumas experiências parecidas com a sua, reportagens e conversas com amigos/as, eu prefiro não dar dinheiro quando alguém me pede ajuda. Prefiro comprar a passagem de ônibus ou um lanche junto com a pessoa.

    Mas ao agir dessa maneira, parece-me que corro o risco de desprezar o que Jesus disse: "E dá a qualquer que te pedir" (Lucas 6.30).

    Esse versículo me incomoda porque muitas vezes, depois de fazer um julgamento prévio a respeito da pessoa (literalmente um ato de "preconceito"), eu concluo que a pessoa não fará bom uso do dinheiro, se eu o der. Mas e se eu estiver enganada? E se ela realmente estiver precisando?

    Creio que há inúmeras formas de ajudar, como por exemplo ao contribuir com instituições como o Visão Mundial, mas isso não me poupa de passar por situações em que pessoas venham pedir ajuda diretamente a mim!

    O que eu faço, então, com a ordem de Jesus registrada em Lucas 6.30?

    ...

    Isso não é uma pergunta meramente retórica, é uma dúvida mesmo! Pergunto pra que a gente possa refletir juntas/os!

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  4. Tomo a liberdade de respeitosamente colocar minha opinião nestes comentários que venho acompanhando. Acredito que todos temos essa dúvida, se damos ou não dinheiro para os pedintes na rua. Eu resolvi superar isso depois de uma conversa com meu pai há muitos anos. Ele me perguntou com o que eu estava realmente preocupado: com o uso que seria feito do meu "rico dinheirinho" (ganho com muito esforço e trabalho) ou com a real generosidade que deve estar por trás de uma doação (doação é dar alguma coisa sem ter nada, absolutamente nada em troca...).
    Se me preocupa a utilização do dinheiro que estou "doando", é melhor não dar nada para ninguém, pois sempre haverá o risco de má utilização dele. Mas se estou sinceramente tentando ter uma postura de generosidade e desapego, em "ser uma possoa melhor" doando de verdade alguma coisa a alguém (e isto certamente "vai ser levado em conta por Deus"), então o que a pessoa que recebe vai fazer com o que dou deixa de ter importância, isso passa a ser responsabilidade dela e não minha (e Deus deve levar em conta a atitude dela também). Depois dessa conversa com meu pai decidi sempre ter comigo algumas moedas para dar para aqueles que pedem, de coração aberto, sem cobrar nada em troca. Antes sempre tento dizer uma palavra de acolhimento, dar um sorriso, fazer uma brincadeira. Hoje digo para o meu filho Lucas que devemos agradecer a Deus enquanto estamos do "lado de cá" (daqueles que dão esmolas e não dos que pedem...). Jesus na Última Ceia deu o pão para Judas também, respeitou a liberdade dele até o fim... foi generoso e não o julgou precipitadamente.

    Paz,

    Venâncio

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