terça-feira, 13 de abril de 2010

ATÉ QUE A MORTE SEPARE


A máscara de oxigênio ainda estava em seu rosto fazendo aquele chiado baixo e constante. O pessoal da enfermagem deixou que eu e a filha daquela senhora, que acabara de morrer, ficássemos mais um pouco com o corpo dela. Estávamos numas das salas de emergência do Pronto Socorro. Ela tinha 50 e poucos anos, sofreu pouco com o câncer que a acometeu. Era cristã. Isso fez com que aquela jovem filha, também convertida, afirmasse com convicção que “Ela agora está melhor do que nós, e logo estaremos juntas de novo”. Eu creio nisso, mas a jovem disse isso chorando. Por que? Porque há a dor da separação.
Fizemos uma oração e depois de terminada, a filha me perguntou se podia tirar a aliança de casamento da mão da mãe para entregar ao pai que estava vindo. Assim o fizemos, com lágrimas nos olhos.
Esse sentimento foi magistralmente expresso por Machado de Assis (sou fã dele) em seu poema abaixo reproduzido:

A Carolina – de Machado de Assis

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Veja o que um biógrafo escreveu: “Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis casaram-se no dia 12 de novembro de 1869 e viveram uma plácida e amorosa vida conjugal durante 35 anos. A morte da esposa, em 1904, deixa Machado abatido e queixoso. Em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro do mesmo ano, escreve, lamentando-se: 'Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo'."
Para os cristãos há esperança:
“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.” (1 Coríntios 15:19-20)

Depois de tudo isso, a jovem e eu saímos devagar, enquanto a enfermeira fechava a válvula do oxigênio.

Um comentário:

  1. Isso mesmo,

    Quando fecharem nossa válvula de oxigênio (que bela a sua metáfora) quando dermos nosso último suspiro, deve sobrevir a ESPERANÇA verdadeira... nesse momento devemos nós mesmos entregar nossas alianças ao Cristo Resssucitado, como sinal de nossa convivência com Ele durante toda nossa vida...
    As alianças são um símbolo do Amor e da Fidelidade... e isso não morre nunca.


    Paz,

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