sexta-feira, 30 de abril de 2010

ME AJUDA A ME VIRAR

Quando ela acordou o sol já invadia o seu quarto no hospital, batendo forte no lençol que a cobria. Olhou na direção da poltrona em que a mãe dormia. Ela não estava ali. No banheiro a mãe também não estava, pois a porta estava aberta e de lá não vinha nenhum som. “Onde será que a minha mãe foi?”, ela se perguntou.
Essa moça de 22 anos, a Cínthya, levou um tiro durante um assalto que fizeram contra ela e o namorado, sendo que a bala atingiu a sua coluna vertebral, fazendo com que da cintura para baixo ela perdesse totalmente a sensibilidade e os movimentos.
Certa vez eu estava conversando com um amigo e lhe contei que aprendi em um documentário que as formigas não sentem dor, pois seu sistema nervoso não possui essa função, e quando ele me questionou dizendo que já vira inúmeras vezes formigas se contorcendo ao serem pisadas, lhe expliquei que aquelas contorções eram para tentar fazer o corpo voltar a funcionar, e não de dor.
Sozinha naquela manhã, a Cínthya se contorceu para tentar fazer algumas coisas, mas tudo sem sucesso. Teve que esperar um bom tempo sem fazer nada.
Aquele era o amanhecer de uma nova vida, pois ao ficar só é que percebeu a sua total dependência da ajuda dos outros para tudo, não só naquela manhã, mas para sempre. Foi um momento de conscientização, de entender que sua vida seria radicalmente diferente do que fora, do que era até então e do que sonhara e planejara. Uma amiga dela me contou que, ao compartilhar o que se passou naquela manhã, a Cínthya afirmou que se essa é a vontade de Deus, ela se submeteria sem rebeldia.
É a aplicação prática do seguinte versículo:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28)
Fui chamado para atendê-la, para testemunhar que “existe vida após a paralisia”. Na realidade, existe vida além de qualquer limitação que tenhamos que nos submeter, afinal não somos formigas.

3 comentários:

  1. Ótimo texto e reflexão verdadeira. Quantas limitações nesta "cela de carne, ossos e sangue"!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom esse texto, quando entregamos toda nossa vida aaos cuidados de Deus, e tenhamos que depender de alguem , que seja DELE, pois, Ele é fiel e nunca nos desampara.Ciça.

    ResponderExcluir
  3. Sem dúvida o exemplo dessa moça nos faz pensar bastante na nossa própria existência...
    A cada dia que vivemos tomamos mais consciência da nossa própria limitação e da nossa própria morte que se aproxima e, lá no fundo, o medo vai aumentando... o medo é o maior fator paralisador que existe, quando tomamos um susto ficamos "paralisados de medo"... é ele que nos impede de agir, mover, viver...
    O medo até é um fator protetor em quantidade razoável, mas é destrutivo em excesso.
    Dizemos que o contrário de medo é a coragem, tudo bem, mas o que está por trás da coragem é a esperança...
    Jesus veio a este mundo para nos mostrar isso: que existe vida após o medo, existe vida após a paralisia, existe vida após a morte...
    Essa é a esperança que deve alimentar cada "gesto", cada atitude nossa (muito mais que um simples movimento)...
    A esperança talvez seja nossa "formiguinha" interior que vive esperneando tentando fazer nossa alma voltar a se "movimentar"...
    É isso que faz do Xyko Motta, de longe, o "paralítico" mais ativo que conheço, muito mais que a grande maioria daqueles que conseguem mexer todos os músculos...
    Que o exemplo do Xyko e agora da Cinthya agite nossas "formiguinhas" interiores...

    Xyko, muito obrigado pela experiência realmente edificante!


    Muita Paz, hoje principalmente para a Cinthya...

    ResponderExcluir