sexta-feira, 10 de junho de 2011

UM CAUSO

Seu moço vou lhe contá,
Um causo comigo acontecido.
Causo de verdade. Não é desses de enganá.
Coisa que me deixô, de alma mais inriquecido.

Tem uns pedaço em que a história é triste,
Mas lhe garanto que ela tem um finar feliz.
Por isso, meu amigo, desse causo não disisti,
Tudo acaba bem, pois foi Deus que assim quis.

Eu era bem criança, tarveis com 5 aninho,
Já tinha pegado essa tar de paralisía,
Hoje não, mas por causa dela, eu era bem magrinho.
E atrás de tudo que podia me curar, meu pai e minha mãe, ia.

Certa veis fumo passar férias no interior,
Coisa que sempre acontecia;
Eu gostava de ir lá, o pessoar era um amor.
Ficávamos na casa de uns primo, e de uma tia.

Esses parente, não querendo parpitar,
Pensavam em fazê um favor.
Queriam mesmo é me curar,
Então falaro de um benzedô.

Acho que foi na hora do lanche, tomando café,
Que os parente falaro do tar hóme.
Apesar de pequeno, eu tava cas oreia im pé,
Mas num intendí muito, pois naquela hora, eu tava mesmo é cum fome.

Naquela mesma noite nóis fumo lá,
Afinar, mar num pudia fazê.
Fumos então o hóme procurá,
Mór di ele mi benzê.

O benzedô era peão de uma fazenda,
Lembro da estrada di terra alumiada pelos farór,
A mulher e as filhas com vestidos de renda,
Cê percisa vê, era uma pobreza de dar dó.

Dispois dos cumprimento, fui levado prum quarto ao lado,
Onde na parede tinha um quadro de Jesus.
Como toda casa, por uma lamparina o quarto era alumiado.
Benze daqui, benze dali, e me deram preu beijar uma cruz.

Eu beijei. Mas hoje fico encafifado,
Pois tinha um ponto certinho prá se beijar,
Fico então aqui cismado,
Quantos é qui num beijaram antes aquele lugar?

Vortemo prá casa cheios de esperança,
Queríamos ver o resurtado da benzedura.
A verdade é que num aconteceu nada cumigo, aquela pobre criança,
E isso prus meus pais foi uma realidade dura.

Prá fazê um registro importante, faço uma parada agora.
Meus pais são uns presente maravioso que Deus me deu!
Todos os meus comprexos eles jogaru fora,
Eles me ensinaro a, mesmo sendo paralítico, a eu gostá di eu!

Mas cumo intendê pruque Deus não mi curô?
Pruque Ele deixô isso acontecê?
Prá cabeça de meus pais, foi um horror,
Isso tudo podia me fazê enlouquecê.

Ou Ele pudia fazê mas não tinha querê,
Então péraí, Ele não tem amor!
Ou queria mas não tinha poder,
Então Ele não é Deus, faça-me o favor!

Acredito em dois ditados bem popular:
Um diz que Deus escreve certo por linhas torta,
O outro cê deve se alembrar,
Deus sempre abre uma janela, mesmo que tenha fechado a porta.

Mas será que essas idéias também tão escritas nas Escrituras Sagradas?
Será que em Deus nóis podemo confiar?
Se tiver, vou seguir por esse estrada,
Toda minha vida prá Jesus vou entregá.

Tem na Bíblia um bunito verso,
Que diz que tudo que nos acontece é pro nosso bem.
Nosso qui eu digo, não é pro perverso,
É prus qui são convertido, e amam a Deus também.

Deus quis que eu seja diferente,
Isso me torna especiar.
Não posso andar como toda a gente,
Mas acredite, isso é motivo preu me alegrá.

Me alegro pruquê a Ele posso serví,
Me alegro pruquê d’Ele posso falá.
Me alegro pruquê Ele me faz sorrí,
Me alegro pruquê com Ele, prá sempre no céu eu vou andá.

3 comentários:

  1. Texto legal, mas comfesso que tive dificuldade de entender a maneira de ter sido escrita, CAIPIREIS, rsrsrsr Cintia

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  2. Caríssimo amigo,

    De uma forma até que alegre (e muito criativa e artística), você evidenciou o grande drama do ser humano, que na sua vida fica ainda mais explícito pela paralisia.
    Acredito que nós seres humanos, fariseus que somos, devemos ouvir as palavras que Jesus disse aos "nossos iguais" da época:
    "Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo a ninguém." (Jo 8, 15)
    Sem dúvidas nosso desafio como cristãos nesse mundo é aprender a ver além das aparências, ver a essência... e na essência somos todos (todos sem excessão) criaturas de Deus, amados e perdoados igualmente por Ele.
    Esse é o fundamento da expressão "salve" que os antigos usavam para se cumprimentar. Salvar e saúde tem a mesma raiz etimológica. Também o "ave", que Gabriel dirigiu a Maria, o "viva" e o "saúde" que usamos até hoje nas festas e nos brindes.
    Isso significa que a cura/saúde/salvação do corpo (pelo menos como nós julgamos e queremos), não implica necessariamente na cura/saúde/salvação do nosso ser (essência).
    Como humanos que somos, pode até ser difícil aceitar, mas a verdadeira e definitiva cura só se dará na ressureição...
    Por isso, o que realmente promove desde já a cura é o Amor, e acho que foi isso que Jesus quis nos ensinar.
    Assim o amor de seus pais, até do "benzedô" (se é que ele era movido por esse sentimento) e tudo o que você viveu em sua vida, tem ajudado na sua saúde/salvação, no seu verdadeiro processo de cura... assim como acontece com cada um de nós.
    Agora, a nossa verdadeira cura depende também de cada um de nós... o próprio Jesus mesmo não perguntou para o paralítico na beira do tanque:
    "Queres ficar curado?" (Jo 5, 6)
    Grande desafio...


    Paz,


    PS - "Eu tumem mi alegro purque um dia, junto cum ocê, nu céu, são i sarvo, um dia cum Ele eu vô querê andá...)

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  3. Muito profundo, Dá o que pensar!
    Grande abraço,
    Flávia

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