terça-feira, 7 de julho de 2009

DE NADA, LITERALMENTE


O Pedrinho tem 7 meses, está internado ali para recuperar-se de uma cirurgia no coração. Eu já conhecia a mãe dele, a Joana, mas nunca tinha conversado com ela. Então, naquela tarde resolvi fazer isso.
Sempre puxo conversa perguntando algumas coisas, tais como “Onde mora? É bom morar lá? Sua família é grande? Frequenta alguma Igreja?”, e assim o papo vai saindo.
Desse jeito comecei a conversar com a Joana e numa prosa gostosa acho que ficamos mais de uma hora. Até que chegou uma outra mãe cuja filhinha também passaria por uma cirurgia cardíaca e por isso estava aflita, e que por recomendação do médico queria ouvir da Joana como foi tranquila a cirurgia do Pedrinho. Fui para o outro leito daquele quarto conversar com outra mãe.
Na hora de ir embora, ao me despedir de todas, quando eu ia saindo, a Joana me falou: “Obrigado, Pastor”. Quando lhe perguntei “Do que?”, ela me disse: “Por ter conversado comigo”.
No corredor fiquei pensando em como é grande a necessidade que temos de falar e sermos ouvidos!
Quer coisa mais gostosa e importante do que sentar e jogar conversa fora? Pode ser numa varanda, na mesa da cozinha tomando um café, em um banco numa praça, debaixo de uma árvore ou à beira-mar. Ou no quarto de um hospital.
Só não pode ser em frente à TV, ou em frente do computador, ou pior, pelo computador. E pensar que tem gente que namora assim, via INTERNET!
E a Joana ainda me agradeceu!
PARA REFLETIR:
“Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10:38-42)
“Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mateus 28:20b)

3 comentários:

  1. Vc tem razao... acho que uma das maiores carências das pessoas dos dias de hoje é ter alguém para ouvi-las. Lembro que alguns anos atrás, trabalhei como voluntária num desses ministérios de aconselhamento por telefone, e geralmente eu mais ouvia do que falava. No começo,isso me deixava um pouco frustrada, pois eu achava que estava ali para 'aconselhar' as pessoas (que pretensão a minha...). Só depois de algum tempo é que percebi que as pessoas na verdade precisavam muito mais de alguém para ouvi-las do que para 'dar conselhos'. Passamos a vida envolvidos em tantas atividades que não temos tempo de parar para ouvir as pessoas. Hoje, medimos a importãncia das pessoas pelo quanto elas são ocupadas. Não sabemos parar para olhar os lírios no campo, como Jesus, ou para dar atenção às pessoas. jesus gostava de conversar com as pessoas, com todas as pessoas. E as pessoas gostavam de conversar com ele, pois ele prestava atenção ao que elas diziam. Atenção concentrada: essa é uma mercadoria em falta no mercado...

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  2. Belo texto e belo comentário da Heloísa Lima...
    Interessante é que em nossos dias já podemos "operar" o coração das pessoas, mas não conseguimos realmente "cuidar" do coração das pessoas... imaginem como deveria estar o coração daquela mãe cuja filhinha iria ser operada...
    Pecisamos trocar o coração de pedra pelo coração de carne...

    Muita Paz,

    Venâncio

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  3. Olá a todas/os!

    Tenho gostado bastante da experiência de acompanhar o blog do Xyko! Um dos motivos é esse: como o texto e os comentários se completam!

    Pensando nisso (e inspirada pelos comentários, rsrs), tomei a liberdade de postar um outro texto, um lindo texto do Rubem Alves, chamado "Escutatória":

    "Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar.... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

    Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.

    Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

    Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

    Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...

    Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.

    Vejam a semelhança... Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

    Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos... Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir.... São duas as possibilidades.

    Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.

    Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

    Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião.

    Não basta o silêncio de fora.. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.

    Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.

    A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

    No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar.

    Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio.

    Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

    Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto."

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