segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O SILÊNCIO NA HORA DA DOR

Aquele casal de amigos meus tinha acabado de enterrar o filho de 10 anos que morreu de câncer. Devia ser por volta das 8 horas da noite, a campainha da porta tocou e quando eles atenderam, viram um casal de amigos com duas pizzas. “Só viemos trazer isso – disseram – achamos que pode ajudar”. E foram embora. Anos depois os meus amigos compartilharam como foi importante para eles aquele cuidado silencioso. Lembraram do detalhe de que os outros dois filhos adolescentes estavam, por motivos óbvios, ainda sem jantar.
Observe esse exemplo bíblico. Os amigos de Jó, ao saberem todas as desgraças que o acometeram foram até ele para o consolar. Veja o que a princípio aconteceu:
“Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo. Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.” (Jó 2:11-13)
Eles não sabiam nem o que falar diante de todo o sofrimento que viam. Mas parece que eles, como nós, alimentavam uma compulsão para falar o que achamos que vai ajudar. No caso dos amigos de Jó foi externar sua doutrina errada que prega que todo sofrimento é fruto do pecado e que a ausência de sofrimento (?!) é sinal de um bom relacionamento com Deus. Antes tivessem ficado calados. Essa também foi a conclusão à qual Jó chegou:
“Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras e vós todos sois médicos que não valem nada. Tomara vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!” (Jó 13:4-5)
“Então, respondeu Jó: Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura, não terão fim essas palavras de vento? Ou que é que te instiga para responderes assim? Eu também poderia falar como vós falais; se a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu poderia dirigir-vos um montão de palavras e menear contra vós outros a minha cabeça; poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor.” (Jó 16:1-5)
Deixe-me contar um episódio que aconteceu com um outro amigo e irmão em Cristo. Vamos chamá-lo de Haroldo. Após o funeral de um jovem, ele acompanhou a moça que acabara de ficar viúva até sua casa, agora mais vazia. Sentaram-se em um sofá na sala e ali ela ficou chorando baixinho, e o meu amigo só ao lado ela, em silêncio. Isso aconteceu no meio da tarde. Quando escureceu ele se levantou e foi embora sem dizer coisa alguma. Tempos depois ela declarou que a ajuda dele naquele momento foi e crucial importância. “Mas eu não fiz nada!” argumentou ele. Ao que ela respondeu: “É, mas você estava lá”.

Um comentário:

  1. Por que será que a gente sempre acha que precisa falar alguma coisa para a pessoa que está sofrendo? Talvez por acharmos que nossas palavras possam trazer conforto ao coração ferido...Mas precisamos ter muito cuidado com aquilo que falamos, senão em vez de confortar nós estaremos colocando um peso ainda maior sobre a pessoa, fazendo-a se sentir culpada por estar sofrendo. A frase a seguir pode nos ensinar a como lidar com o sofredor: “Aqueles que conheceram a dor profundamente são mais cautelosos antes de empregar clichês sobre o sofrimento. A experiência com o mistério transcende o plano das idéias e produz, enfim, o silêncio ou, pelo menos, a relutância de expressar em palavras o conforto que só pode ser expresso pela comunhão com o sofredor.”
    (John H. Griffin)

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