quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PRATO FRIO


Você que é mais velho deve se lembrar daquele seriado chamado Kung Fu, estrelado por David Carradine. Todo episódio tinha alguns bandidos que praticavam alguma maldade contra alguém, sempre um ato de covardia em que a vítima, na hora, não podia se defender e nem fazer nada. Era quase que inevitável ao telespectador ficar irado e com ódio “daqueles nojentos”. O único que ficava impassível era o personagem principal, que se chamava Caine, se é que eu não me engano. É que ele sabia que no fim, só com a força das mãos, ele faria justiça se vingando e vingando todo mundo dos atos “infames daqueles canalhas”. Aí era gostoso vê-lo acabando com eles.
Mas por que era gostoso? Talvez pelo nosso senso de justiça. Ou talvez motivados pelo ódio que se instalava em nosso peito quando assistíamos às cenas de covardia.
Mas o que me deixava mais furioso é que os bandidos, depois de cometer as maldades, iam, por exemplo, para um bar, beber e se divertir. Não estavam nem aí com o que aconteceu!
Muitas vezes é isso mesmo o que acontece conosco. Quando alguém nos faz algo de ruim e na hora não podemos fazer nada, ficamos curtindo aquele ódio em nosso coração, e o nosso ofensor nem se lembra mais do que aconteceu, e toca a vida normalmente, e, por mais incrível que possa parecer, às vezes até o flagramos rindo, coisa que a séculos não fazemos! Aí nós queremos vingança a qualquer preço. Vingança, não necessariamente justiça. Vingança, mesmo que injusta.
E quem é que perde mais com tudo isso?
PARA REFLETIR:
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.” (Mateus 5:22)
“Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Romanos 12:17-21)

Um comentário:

  1. Perfeito, caríssimo Xyko, realmente seu Blog dá o que pensar...

    Creio que a evolução seja mais ou menos esta:

    1º Vingança (lat. vindicare) restituição através da punição do ofensor. "Toma lá, dá cá", as vezes maior que a ofensa.
    2º Justiça (lat. iustitia) diz respeito a aplicação da lei nos casos de litígio de forma igual para todos, comedimento da vingança.
    3º Misericórdia (lat. misere + cordis) "coração sofredor", no sentido de perdoar aquele que errou, mais do que justiça...

    Não dá também para não lembrar da finalidade ideológica dos filmes de "ação" estadunidenses onde a gente acaba torcendo para que o "mocinho" se vingue no final das atrocidades dos "bandidos"... foi uma instrumentalização da arte do Kung Fu (que significa em chinês "tempo e habilidade", arte marcial conseguida através de muita disciplina e esforço) e que hoje aparece nos filmes como mera pancadaria...
    Naquela época, o protagonista do filme, do qual eu também era fã, o chinês Kwai Chang Caine tinha muitas virtudes e cumprimentava as pessoas abaixando a cabeça, com a mão esquerda aberta (representando a lua) em volta da mão direita fechada (representando o sol) em frente ao peito. Esse cumprimento, chamado Kin Lai, significa respeito pelo outro e equilíbrio entre a inteligência e a força. E sabemos que equilíbrio é virtude...

    Pena que no liquidificador consumista do cinema hegemônico a violência tomou lugar da virtude.

    Paz,

    PS - Eu gostava principalmente daquela cerimônia que aparecia no começo do filme onde o caine, após terminar seu treinamento, marcava na pele dos braços um dragão, também símbolo do equilíbrio na China. Ele sempre lembrava do seu velho Mestre dando conselhos. Ele era cego e o chamava de "Gafanhoto"... bons tempos...

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