sexta-feira, 27 de novembro de 2009
ESCOLHER QUEM VAI VIVER
Foi uma das experiências mais difíceis pelas quais passei. A mãe do Jéferson me procurou para pedir ajuda. O filho dela tinha 45 anos, portador do vírus da AIDS, pegou uma bactéria que lhe dava diarréia direto. E os médicos lhe disseram que para combater esse mal só tinha um jeito: tomar um remédio importado caríssimo. Não lembro quanto custava, mas era muito dinheiro. E mais: se ele não tomasse o tal remédio, iria morrer. Falei com algumas pessoas da minha Igreja e conseguimos levantar a tal quantia. Contei isso para a mãe do Jéferson, que contou para o médico, que veio falar comigo. O que ele me falou me deixou um pouco perdido. Ele perguntou se eu não achava melhor nós investirmos aquele dinheiro com outros talvez 10 a 15 pacientes que não estavam tão ruins e que também precisavam de outros remédios não tão custosos mas também caros. Consultei os doadores e eles me disseram para fazer o que eu achasse melhor.
Pedi conselho a um outro médico amigo meu e ele contou que certa vez teve que escolher para colocar no único respirador mecânico disponível, ou um senhor de setenta e poucos anos, que era muito bonzinho por sinal, ou um jovem de 18 anos, todo tatuado, que sofreu um acidente durante um “racha” em alta velocidade. Salvaram o jovem e o velhinho morreu.
Eu continuei em dúvida. Estava na hora de eu vivenciar o seguinte:
“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.” (Tiago 1:5-6)
Voltei a falar com o médico do Jéferson, o qual me falou que o caso dele era urgente, e o dos outros não. Baseado nisso, demos o remédio a ele.
Menos de 15 dias depois, ele morreu.
Ele já havia se convertido ali mesmo, no hospital.
PARA REFLETIR:
“É necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:53-55)
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Interessante reflexão...
ResponderExcluirNão dá para fazer justiça em uma situação previamente injusta. É como o caso do barco que está cheio de gente, afundando e é preciso jogar algumas pessoas para fora. Quem jogar? Os mais velhos, os doentes, as crianças, que são fracas e não conseguem remar? Os mais gordos e pesados, ou o prisioneiro já condenado que está no barco? Vale não jogar ninguém e todos morrerem juntos?
Nunca haverá uma situação de plena justiça, pois a situação de saída JÁ É INJUSTA. Por isso se dá o nome de "justiça de barco salva-vidas" a essas situações...
No caso dos doentes, não deveria haver remédio acessível a apenas uns poucos... não deveria haver respiradores apenas para um paciente... deveria haver vagas para todos.
Mas a realidade é injusta e temos que administrar essa iniquidade.
Em medicina existem alguns critérios que ajudam as decisões, mas que não são absolutos (cada caso é um caso): primeiro a gravidade do caso, o mais grave costuma ser tratado primeiro, depois o prognóstico, os que tem chance de viver mais são tratados primeiro, por último (e bem mais relativo), vem o mérito (quem tem dinheiro ou convênio para pagar o tratamento, ser parente ou amigo dos profissionais da saúde, ser prefeito, pastor, padre e assim por diante...). Esses critérios ajudam mas nunca tornam justa uma situação previamente injusta...
Mas o que é mais importante é que não podemos aceitar a injustiça como fato natural, temos que lutar para que a Justiça com "J" maiúsculo prevaleça em nossa sociedade...
Injustiça, portanto, é como nós lidamos com a iniquidade...
Paz