sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CHORAR COM OS QUE CHORAM

Quando nós (uma voluntária e eu) entramos em um quarto do HC-UNICAMP, vimos que o paciente do leito "A" estava chorando. Imagine a cena: um senhor de mais ou menos 60 anos, preso a uma cama de hospital e chorando. Logo que nos aproximamos, a voluntária falou:
- Não chora, é bobagem chorar, pois não vai resolver nada.
Na hora eu retruquei:
- Mas, por que não chorar? Nós não sabemos o motivo de ele chorar! E, voltando-me para o paciente já emendei: - Se o senhor quiser me contar a razão da sua tristeza, eu posso até chorar junto.
Depois que ele se recompôs enxugando as lágrimas, assoando o nariz e se sentando, aquele triste homem nos contou o motivo do choro:
- Eu tenho uma neta de quase 2 anos. Ela mora na minha casa e como eu sou aposentado, fico com ela todos os dias o dia todo. Como estou internado há 2 meses, não agüento mais de saudades!
Um grande amigo meu, o Marcão, tem duas filhas, as quais me adotaram como avô: são minhas netas "postiças". Na época em que isso que estou contando aconteceu, a mais velha delas, a Letícia (que era única ainda), estava com 2 anos e eu tinha uma foto dela comigo. Aí não tive dúvidas, mostrei a foto dela para o paciente.
Como se fosse um "pistoleiro", ele também "sacou" a foto da neta dele. Na hora ficou claro que a minha neta era muito, mas muito mesmo, muito mais bonita do que a dele! E as gracinhas que ele contava que a neta dele fazia não chegavam nem aos pés das gracinhas da Letícia que eu contava!!
Só que ele devia estar tão debilitado pela doença que não percebeu isso. Ele chegou a pensar que era justamente o contrário. Coitado!!
Gastamos um bom tempo discutindo isso. Na hora em que eu estava saindo para irmos embora, ele falou:
- O senhor com certeza não veio aqui para ficarmos falando das nossas netas. O senhor queria falar algo?
- É verdade. Eu vim para falar de Jesus.
- Que bom!! Eu sou evangélico ...
E a partir daquele momento tivemos agradabilíssimos momentos de comunhão. Já no corredor eu pude ensinar para aquela voluntária que o princípio é "chorar com os que choram".
Nós temos a tendência, acredito que até certo ponto natural, de nos distanciarmos e rejeitarmos toda e qualquer tristeza. Só que ao fazermos isso, fugimos da tristeza e ao mesmo tempo dos que estão tristes!
Uma paciente do HC me contou que rescreveu o seu diário eliminando todos os episódios tristes. Eu a convenci a voltar e continuar com o velho diário completo somente com uma pergunta: "o que seria dos grandes navegadores se não houvessem tempestades?"
A vida cristã nem sempre é alegre, como dão a entender certos corais evangélicos cujos maestros que, com um sinal ordenam aos cantores que sorriam. A vida cristã tem momentos preciosíssimos de tristeza, e nessas horas, na maior parte das vezes, chorar é bom, é terapêutico. E se tiver alguém para chorar junto, é melhor ainda.

3 comentários:

  1. é muito bom "chorar com os que choram" e da mesma maneira, sorrir com aqueles que sorriem, isso mostra um espirito de compaixão, de empatia, se colar no lugar do outro, e pode ajudar.Ciça

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  2. Com certeza! Muitas vzes querem cortar de nos estes momentos, como se eles não fizessem parte da vida, uma vez vi uma senhora com cancer terminal e uma pessoa querendo falar só de vida! fiquei tão chocada, puxa, as pessoas tem q ter espaço para ter suas tristezas e poder ter alguém ao lado nestes momentos...

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  3. Boa tarde XYKO,

    Quero agradecer a visita que fizemos na HC-UNICAMP na semana passada.

    Obrigado pela atenção.

    Parabéns pelo belo trabalho.

    Um grande abraço,

    Joel A. Bauermann

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