por Reinaldo Bui
Neste momento, em algum lugar do nosso país (para não estender este apelo a outras nações), há um crente frustrado em seu trabalho. Este irmão ou irmã é apaixonado por missões, seu coração ferve sempre que ouve uma mensagem desafiadora para “ir pelo mundo” aos povos que ainda não ouviram o Evangelho para pregar a mensagem de salvação. Mas ele vive num impasse. Seu paradigma de missionário é o mesmo da igreja em geral: aquele intrépido e desprendido ser que largou tudo e todos para se enfiar no meio de uma mata longínqua, a fim de viver sem um mínimo de conforto, disposto a se habituar à culinária nada convencional do povo que ele escolheu, só para levar as Boas Novas de Cristo.
Sua frustração só aumenta. Quanto mais este irmão ou irmã busca aconselhamento com seus pastores, mais distante suas esperanças ficam do “campo missionário”. Seu perfil é de alguém que adora rotina e desenrola muito bem o serviço burocrático. Talvez ele trabalhe numa empresa de telecomunicações, talvez ela seja uma secretária eficiente. Ou então este irmão/irmã seja um advogado, ou algum profissional da área administrativa, ou sei lá. Pode ser qualquer coisa, mas nunca conseguiu se imaginar comendo turu e morando numa maloca por amor às almas perdidas. Não que este sentimento não lhe incomode, mas por ser urbano demais, não conseguiria chegar tão longe. Por isto, cala-se, frustrado. Não consegue imaginar em que poderia ser útil para a proclamação do Reino. Ah, sim. Ele/ela é ativo em sua igreja. Mas quem tem o coração em missões está sempre com a cabeça lá longe.
Talvez alguns o questionem sobre a autenticidade do seu “chamado”, e este é outro paradigma que precisa ser quebrado. Chamado missionário não é algo místico. Se você está esperando uma revelação por sonho ou alguma visão extática, esqueça. Olhe para a Palavra (que vale muito mais do que qualquer visão). Atente, por exemplo a textos como:
"...sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (Atos 1.8).
"...Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura". (Marcos 16.15).
Este chamado, não é para poucos. Esta convocação é para todos os crentes. A questão é se você vai obedecer ou não... E aonde você vai cumprir esta comissão.
Voltemos ao nosso irmão frustrado. Ele tem convicção da importância desta santa convocação e perturba-se profundamente com isto. Para complicar ainda mais, seu teste de dons não apontou para evangelismo, ou ensino, nem para apostolado. Como era de se esperar, ele/ela é apto para administrar ou presidir. Desconsolado, chora: "continuarei orando por missões..."
Neste momento, em algum lugar do nosso país há um crente apaixonado por missões, mas frustrado porque o velho paradigma o impede de ir; e neste mesmo momento, em alguma base missionária, há um missionário que está louco para ir embora pro meio do mato, comer turu com o povo local e morar numa maloca, a fim de desenvolver seu dom de compartilhar o Evangelho de maneira contextualizada... Mas não pode porque alguém tem que fazer o serviço burocrático e rotineiro na base da missão. Ele ora: "Senhor, mande alguém prá fazer este serviço porque senão eu vou ficar louco com esta papelada aqui!"
Somente quem desconhece quantos dons e habilidades diferentes são necessários para se compor uma equipe missionária ignora que “missionários de base” são tão importantes quanto os “missionários de campo.”
Reinaldo Bui, 45, pastor da IBCU e missionário na região nordeste pela missão Juvep, formado no IMPV Norte, casado com M. Cristina L. Bui e pai de três filhos: Pedro, Célia e Julia. Ele afirma que turu (uma larva que se alimenta de madeira podre) é bom, mas picanha é melhor.
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