Acho que já escrevi sobre um casal de velhinhos que passava o dia inteiro sentados na varanda da casa em que moravam. O dia inteiro! Sem fazer coisa alguma, nem um tricô, ou palavras cruzadas, nada! Sinceramente, eu não quero uma velhice assim.
Tenho me esforçado para me preparar para essa época da vida em que os dias não são mais tão prazerosos como antes. Fico imaginando um homem bem velhinho, à noite, olhando para a Lua e para as estrelas e já não se entusiasmando com esse espetáculo natural. Também, quantas vezes ele já deve ter feito isso? Ou então ele ficar se lamentando de que a chuva que cai lá fora “não vai parar nunca”, como se isso fizesse alguma diferença para ele.
Todo mundo sente que braços e pernas vão enfraquecendo dia após dia, e isso traz insegurança e sedentarismo não produtivo. E nem todo mundo se prepara para viver assim, e vai ter que vivenciar isso, a não ser que morra antes.
Já não vamos (note que já estou me incluindo) poder comer de tudo, primeiro porque os dentes começam a cair e não poderemos mastigar direito, e também porque as comidas começam a fazer mal e a trazer efeitos indesejáveis.
Ninguém vai ouvir o que falamos, em todos os sentidos.
Vamos ficar um pouco cegos, outro tanto surdos e isso vai deixar as pessoas irritadas e impacientes. Mas como é que eles vão nos ouvir se ficam com a TV, o rádio e o som ligados o tempo todo? Com isso vamos chorar de tristeza porque só nós saberemos que não é culpa nossa.
Assim vamos querer dormir para que esses dias, tristes que são, passem mais rápido, mas a insônia vai nos tirar da cama cedo demais para quem tem que cuidar de nós.
E o medo então? Medo de cair, de se machucar, de dar vexame, de não saber como se comportar, de passar vergonha.
Será que eles vão chorar quando eu morrer?
Ao terminar de ler esse texto, você estará um pouco mais velho do que quando começou a lê-lo!
PARA REFLETIR:
“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o SENHOR é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça.” (Salmos 92:12-15)
“Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às vindouras o teu poder.” (Salmos 71:18)
“Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho da justiça.” (Provérbios 16:31)
Chico,
ResponderExcluirli um texto no Lugar Sagrado que acredito que pode nos ajudar a refletir sobre esse tema, mas com um olhar diferente, com as coisas que podemos fazer, ou melhor, devemos nos esforçar, para que nossa velhice não seja um peso, a começar para nós mesmos:
oração descoberta no genuflexório duma freira idosa:
"Senhor, sabes melhor do que eu que estou a envelhecer e que um dia vou ser velha. Não permitas que me torne tagarela e especialmente com o hábito fatal de pensar que tenho sempre que dizer alguma coisa sobre qualquer assunto em qualquer ocasião. Parece um desperdício não utilizar toda a sabedoria acumulada ao longo dos anos.
Torna-me pensativa mas não neurótica, útil mas não mandona. Ensina-me a gloriosa lição que, às vezes, é possível eu estar enganada. Mantém-me razoavelmente doce. Não quero ser uma santa - alguns deles são difíceis de se viver - mas uma velha azeda é um das supremas obras do diabo. Livra-me de eu querer a todo o custo meter os assuntos de toda a gente em ordem. Mantém a minha mente livre da enumeração infindável dos detalhes - dá-me asas para ir directa ao assunto. Peço graças que cheguem para ouvir os relatos dos sofrimentos dos outros. Ajuda-me a resistir com paciência. Mas fecha a minha boca quando for para falar das minhas dores - são interessantes e o meu gosto em ensaiá-las torna-se mais doce à medida que os anos passam. Mas sabes, Senhor, que no fim quero alguns amigos."
Para nós, que caminhamos para a velhice.
Beijo
Célia
Caro Xyko,
ResponderExcluirEssa reflexão me faz lembrar do conceito de sacrifício (sacer = sagrado e facere = fazer), ou seja: tornar sagrado.
Quando somos jovens, em geral vemos a vida de forma muito alegre, divertida até mas conforme o tempo vai passando, vamos tomando consciência das dificuldades e desafios. A partir da meia idade a vida passa a nos tirar mais do que nos dá e a consciência da condição humana e da morte vai se tornando cada vez mais forte.
Pois bem, para quem tem fé e acredita num sentido maior desta vida, esse sofrimento (de suffrer = padecer, suportar, aguentar) passa a ser sagrado e ter uma finalidade...
Desse modo, o sofrimento passa a ser suportável quando tem um sentido.
Cada ano que vivemos a parcela de sacrifício vai aumentando e um dia, quando o sacrifício for 100%, ou toda a nossa vida (no momento da nossa morte), compreenderemos o sentido pleno de tudo...
Só essa esperança dá a todos nós força para encarar o sacrifício do passar dos anos e encontrar um modo de apreciar e desfrutar esse tempo e a convivência com os amigos, afinal, como disse a Célia, todos somos companheiros de envelhecimento...
Paz,
Chico, vivemos num mundo onde tudo que é velho é dscartável. Pior do que nao saber valorizar a velhice é ignorá-la, nos outros e em nós mesmos. Naõ enxergamos os velhos que estão à nossa volta, nem ouvimos o que eles têm a nos dizer. E quanto a nós, preferimos não pensar no assunto, como se pudéssemos escapar dessa realidade. Talvez o problema é que valorizamos demais a juventude, as conquistas, o vigor, e quando perdemos tudo isso, parece que fracassamos. Henri Nouwen disse o seguinte sobre envelhecer: "À medida que envelhecemos, temos de escolher entre dois pontos de vista. Estamos simplesmente nos tornando pessoas menos capazes ou nos transformando em exemplos vivos da graça de Deus?A opção por considerar o declínio de nossas habilidades como entrada na graça de Deus é uma opção de fé, uma escolha baseada na convicção de que nao vemos fracasso na cuz de Jesus, mas vitória; nao apenas destruição, mas o começo de uma nova vida." abraços, Heloisa
ResponderExcluirNão quero chegar a tanto na minha vida , prefiro morrer antes e estar com Deus do que ficar dando trabalho pra alguém,Ciça.
ResponderExcluirachei um texto muito lindo, que vc vai gostar.É de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa.
ResponderExcluir"O que é preciso é ser-se natural e calmo,
na felicidade e na infelicidade.
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda.
E quando se vai morrer,
Lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo,
E é bela a noite que fica...
Assim é, e assim seja..."
Caríssimo,
ResponderExcluirFiquei olhando novamente a figura dos velhinhos dormindo junto e notei o cachorrinho e o gatinho dormindo tranquilos aos seus pés...
Esses dois animais representam bem as diferenças entre as pessoas, por isso dizem que duas pessoas brigam mais "do que cão e gato". No casamento temos que apaziguar nossas personalidades as quais com o passar do tempo aparecem e entram em conflito cada vez mais e devem "conviver bem" como os personagens da figura (tanto os humanos como os animais...). Os pézinhos do velhinho e da velhinha à mostra, para mim indicam a humildade que esta postura necessita e os sapatos (nossa imagem social) estão em harmonia sob a cama.
Bela figura...
Paz,