Isso tudo aconteceu já faz algum tempo.
Ele se chamava Pedro, tinha 58 anos, era empreiteiro de obras e naquela ocasião estava construindo um edifício de 6 andares, o primeiro de uma pequena cidade do interior.
Certo dia ele pegou uma carriola, encheu de cimento, entrou em um daqueles elevadores de construções e subiu. Quando chegou ao sexto andar, o cabo de aço que sustentava todo aquele peso não resistiu e rebentou. Aquele homem caiu de pé.
Quando fui visitá-lo ali no HC-UNICAMP pela primeira vez ele estava com os dois pés engessados, já havia sofrido algumas cirurgias e estava aguardando uma palavra dos médicos que estavam estudando o seu caso.
Ficamos amigos, eu o evangelizei e ele se converteu.
O Pedro teve ainda que fazer mais algumas cirurgias, não me lembro de quantas foram. Quase todo dia conversávamos, líamos a Bíblia e orávamos. Era muito gostosa a nossa convivência. Fizemos isso por uns 2 ou 3 meses, até que saiu o resultado conclusivo dos médicos: os ossos dos seus pés ficaram tão quebrados que não havia mais jeito, o meu amigo e irmão Pedro nunca mais iria andar.
Eu estava junto quando os médicos lhe disseram isso, e fiquei com ele depois que eles se foram. O Pedro chorou muito e por muito tempo.
Depois que se acalmou ele me falou: “O pior ainda não lhe contei, pastor; eu não me casei, apesar de ter tido ótimas oportunidades, para poder cuidar do meu pai que é deficiente físico e só anda numa cadeira de rodas. Em casa só moramos ele e eu, pois minha mãe já morreu e não tenho nenhum irmão. Quem vai cuidar dele? E de mim? Somos só nós dois”.
Eu fiquei calado.
Ele continuou: “Mas não se preocupe, pastor, eu sei porque tudo isso aconteceu. Foi para eu me converter. Se o senhor tivesse ido lá na obra, ou na minha casa falar do amor de Jesus, eu com certeza não o receberia. Então Deus me trouxe aqui. Valeu a pena. E assim como Deus foi poderoso para me trazer aqui, Ele também o é para cuidar de mim e do meu pai”.
Eu continuei calado. Só que agora estava chorando.
No dia seguinte o Pedro teve alta, não deu para nos despedir e desde então não tenho mais notícias dele.
Quase sempre pensamos que devemos ter uma palavra ou uma resposta para tudo. E muitas e muitas vezes não as temos.
PARA REFLETIR:
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11:33)
Vc tem razão... em algumas ocasiões é melhor ficar calado. Mas a gente acha que sempre precisa dizer alguma coisa, que as pessoas esperam que a gente diga uma palavra de consolo. Mas quando a dor é muito grande, o melhor a fazer é ficar quieto e não dizer nada. Nessas horas, basta estar junto, sem dizer nada, e deixar que a nossa presença fale ao outro que ele não está sozinho, que pode contar conosco. Estava lembrando da história de Jó, e do enorme sofrimento dele ao perder filhos, bens, saúde. O sofrimento era tão grande que seus amigos se calam, permanecendo ao lado dele sem dizer nada por uma semana! Por sinal, deveriam ter continuado calados, pois quando abriram a boca só disseram bobagem...Quando a gente acha que precisa dizer alguma coisa, corremos esse mesmo risco.
ResponderExcluirCaro Xyko,
ResponderExcluirPara mim silêncio é uma arte e precisamos nos esforçar em exercitá-lo. Quando falamos passamos necessariamente os conceitos pela racionalidade para transformá-los em palavras. O silêncio nos livra da racionalidade, que em muitos momentos não só não é necessária como pode atrapalhar...
É no silêncio (estar em repouso em latim) que se abrem os canais do coração e começa a contemplação...
Paz