Tenho na sala do apartamento onde moro um porta-retrato com uma fotografia de quando eu era menino. Ali eu devo ter uns 6 ou 7 anos. Estou na praia lá de Santos, cidade onde nasci, com meus dois irmãos.
Estou sentado no carrinho que usava antes de ter minha primeira cadeira de rodas. Nós 3 estamos sem camisa e só de calção de banho.
Esses detalhes podem parecer dispensáveis, mas o assunto que vamos abordar é mais complexo do que a foto pode revelar, por essa razão é que cada detalhe tem sua importância.
Minha mãe me ensinou a não ter complexo por ser paralítico. Por algumas outras pessoas, amigos e até parentes, eu viveria sem sair de casa, e dependendo da ocasião, por eles, quando recebêssemos visitas, nem do quarto eu deveria sair.
Ela, a minha mãe, sempre me tratou da mesma forma que tratava meus irmãos.
Eu usava shorts, apesar de um parente chegado achar que minhas pernas deveriam ficar cobertas para esconder as seqüelas da poliomielite e também as cicatrizes das cirurgias às quais me submeti.
Quando merecia ser disciplinado eu apanhava, apesar de a minha avó declarar que só os outros dois deveriam ser castigados.
Como meus irmãos, eu ia à praia (tem a foto para você ver), passeava, estudava, tinha responsabilidades e convivia naturalmente com todo mundo. Eu era (e sou) como todas as pessoas, só que com limites de locomoção.
No momento em que “me vi assim”, quando me conscientizei da minha realidade, resolvi ser como os outros e superar de algumas formas meus limites. E foi assim que fiz.
Quando Jesus Cristo viu um homem paralítico que desceu do telhado para estar bem na frente d’Ele, disse primeiramente que os seus pecados estavam perdoados. E Jesus o fez assim porque o maior problema daquele homem era espiritual. Problema espiritual é toda e qualquer coisa que nos separa de Deus. Só depois de isso resolvido é que o Senhor tratou do seu problema físico, curando-o.
Me lembro direitinho do dia em que percebi que o meu maior problema era espiritual. Uma limitação que por meios humanos não pode ser superada. Graças a Deus pela cruz. Só Cristo podia fazê-lo por mim. E foi assim que Ele o fez.
Não é maravilhoso? Aquilo que não posso fazer, Deus o faz!
Você é igual aos outros. E você é igual a mim.
Quais são seus limites?
Qual seu maior problema?
Caríssimo,
ResponderExcluirOutro dia conversando com uma amiga minha que é cega, eu perguntei a ela como seria a maneira "politicamente correta" de me referir a ela e sua deficiência. Ela me disse que talvez o melhor fosse o termo "pessoa com deficiência", termo que ela mesma disse que não é unânime. Mas ela me chamou a atenção para o fato de ser mais importante do que o termo usado, expressá-lo com NATURALIDADE.
Para ter naturalidade com pessoas com deficiência temos que conviver com elas sem preconceitos e sem medos.
Acredito que a chave para você ter crescido sem muitos complexos foi a naturalidade que sua mãe sempre tratou seus problemas (talvez sua avó nem tanto).
Ora, todos nós temos problemas, de uma forma ou de outra, e se os tratarmos com moralismo e preconceito os tais complexos, bloqueios, "encanações", ou como quer que se queira chamá-los, certamente virão. Essa nossa ilusão que tudo deve ser perfeito neste mundo em que vivemos é que acaba criando a discriminação e a hipocrisia. Cria o grupo dos "perfeitos, santos e eleitos" ("winners") e o grupo dos "outros", os mundanos ("losers").
Tem muita gente que é "perfeita" fisicamente e está cheia de complexos e desajustamentos. Outro fator importante creio que seja a "culpa" dos pais e a sua preocupação com a aparência de perfeição.
Como você mesmo disse o assunto é "complexo".
Por outro lado, conviver com pessoas com deficiência passa a ser "terapêutico" para aqueles que se consideram "perfeitos", pois faz refletir sobre seus problemas e limites, como você sugere no final do texto... talvez muitos não queiram fazer essa reflexão, por isso se afastam e discriminam.
Portanto devemos agradecer a Deus pelas pessoas diferentes, com deficiência, pois elas nos ajudam a nos tornarmos mais humanos.
Paz,
caro pr. é muito inspirador ler seu relato e pensar por essa perspectiva nos dias de hoje. Estamos cheios de problemas espirituais e/ou pscicológicos (há umaseparação estrita em relação a isso?) e, no entanto, somos constantemente incentivados a aperfeiçoar apenas a aparência física, os cabelos, o porte físico, a saúde apenas do corpo.Coisas que por si só não são capazes de forncecer aquela alegria simples e gostosa, às vezes juvenil, que tenho experimentado com Jesus no meu cotidiano mais simples, nem sempre glamuroso.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar, que Deus o abençoe!
caro pr. é muito inspirador ler seu relato e pensar por essa perspectiva nos dias de hoje. Estamos cheios de problemas espirituais e/ou psicológicos (há uma separação estrita em relação a isso?) e, no entanto, somos constantemente incentivados a aperfeiçoar apenas a aparência física, os cabelos, o porte físico, a saúde apenas do corpo. Coisas que por si só não são capazes de fornecer aquela alegria simples e gostosa, às vezes juvenil, que tenho experimentado com Jesus no meu cotidiano mais simples, nem sempre glamoroso.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar, que Deus o abençoe!